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'Não pense em si mesmo': o apelo de uma brasileira isolada há 20 dias na Lombardia

18 mar 2020 - 13h42
(atualizado às 14h05)
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Por Lucas Rizzi - Muitos brasileiros, incluindo a autoridade máxima do país, ainda relutam em dar o devido peso que o novo coronavírus merece, mas, para quem está no epicentro da pandemia, é "triste" que o assunto não seja tratado como uma emergência.

A Lombardia, no norte da Itália, é a região mais atingida pelo novo coronavírus no país
A Lombardia, no norte da Itália, é a região mais atingida pelo novo coronavírus no país
Foto: ANSA / Ansa - Brasil

Em um desabafo enviado à ANSA, a brasileira Carmen Serra, que é de Fortaleza e vive há 18 anos na Itália, segundo país com mais contágios pelo Sars-CoV-2, pede que seus compatriotas levem a situação a sério e sigam as recomendações de isolamento para evitar a propagação do vírus.

"Eu vivo na Itália, na Lombardia, a região mais afetada. Aqui [na Itália] já tem mais de 30 mil pessoas contagiadas, morreram mais de 2,5 mil, estamos quase todos em casa. Eu e outros brasileiros que moram aqui estamos há alguns dias tentando informar a situação aqui na Itália, para que o mesmo não aconteça aí", diz Serra, que mora em Varese, província com mais de 230 casos confirmados.

Segundo ela, é "muito triste" ouvir que o vírus "é uma conspiração" ou "um golpe". "Eu quero ainda dizer que não estou falando isso para apoiar algum partido político, alguma raça ou religião. Não tenho interesse em causar pânico em ninguém, e muito menos em inventar mentiras. Estou trancada em casa há 20 dias, só saio para esticar as pernas no jardim. São 20 dias que não vejo meu irmão e minha irmã, não vejo minha mãe, meu pai e meus amados sobrinhos, que moram bem pertinho de mim", acrescenta.

Para Serra, a situação é ainda mais delicada: ela sofre de lúpus, uma doença autoimune que faz o sistema imunológico atacar o próprio corpo. Isso obriga a brasileira a tomar altas doses de corticoides e imunossupressores, o que debilita o sistema imunológico e a deixa mais exposta a outras enfermidades.

"Esse vírus não olha na cara de ninguém, a transmissão é muito rápida. Vocês dirão: 'Mas aqui no Brasil tem doenças que matam mais, dengue, H1N1, câncer, assalto, enfim...' Sim, é verdade, mas em um dia não chegam 2 mil pessoas com H1N1 ou dengue para ser intubadas. Não estão morrendo só os idosos com outros problemas... Também estão morrendo pessoas que, como eu, têm problemas. Eu tenho 38 anos. Dois dias atrás, morreu um jovem de 21 que, como eu, tinha outros problemas", afirma Serra.

De acordo com a brasileira, a pandemia não é uma questão de direita ou esquerda, de políticos, de governos. Ela diz que, neste momento, "todos estão unidos para curar a Itália e ajudar o povo". "Se alguém de vocês ama seus familiares, amigos e, principalmente, os avós e pessoas com problemas, tenha a consciência de seguir as normas que o Ministério da Saúde está divulgando. Não pense pequeno, não pense em si mesmo, pense nas pessoas que estão perto de você, mesmo que vocês não as conheçam. Faça isso por você, pelos outros e pelo Brasil", ressalta.

Serra também conta à ANSA que, por causa de sua condição, seu marido está dormindo na sala, já que continua indo ao trabalho. "Eu tenho de manter distância do meu marido dentro de casa. Não está fácil a situação aqui", diz ela, acrescentando que os maiores meios de contágio são "a teimosia, a burrice, a ignorância e, o pior de todos, o egoísmo".

A pandemia do novo coronavírus já contaminou mais de 200 mil pessoas em todo o mundo e deixou mais de 8 mil mortos. Os governos estaduais contabilizam pelo menos 368 casos no Brasil, embora o último balanço do Ministério da Saúde cite apenas 291 contágios.

Ansa - Brasil   
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