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Isolada, Coreia do Norte enfrenta pior seca da década - e crianças são as mais ameaçadas

Relatório da ONU diz que escassez de chuvas prejudicou colheitas de novembro e outubro, situação agravada pelas sanções impostas ao país por causa de seu programa armamentista.

20 jul 2017 - 19h27
(atualizado em 21/7/2017 às 11h07)
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Em meio a sua pior seca desde 2001, a Coreia do Norte enfrenta uma escassez severa de alimentos, deixando o país dependente de importações de alimentos em caráter emergencial, adverte um relatório da ONU.

Agricultores em colheita de maçã perto de Pyongyang, na Coreia do Norte, em 2012
Agricultores em colheita de maçã perto de Pyongyang, na Coreia do Norte, em 2012
Foto: BBC News Brasil

Os mais vulneráveis à fome são as crianças e os idosos, que correm um risco maior de desnutrição e morte.

A situação é agravada pelo fato de a ajuda humanitária ter sido dramaticamente reduzida nos últimos anos, em parte por causa das sanções impostas à Coreia do Norte em retaliação a seu programa armamentista - e que aumentaram o isolamento desse que é visto como o país mais recluso do mundo.

A crise atual evoca outra de maior gravidade, nos anos 1990, quando estima-se que centenas de milhares de norte-coreanos tenham morrido por conta de uma escassez alimentar de grandes proporções.

A ausência de chuvas entre abril e junho tem dizimado colheitas de primeira necessidade, como arroz, milho, batatas e soja, indispensáveis para a sobrevivência de grande parte da população durante a entressafra, que vai de maio a setembro.

O braço da ONU para agricultura (FAO, na sigla em inglês) estima que as colheitas iniciais de 2017 da norte-coreana caíram mais de 30% em relação ao ano passado.

Após meses de seca, as chuvas voltaram a cair em julho, mas já tarde demais para garantir o plantio dos alimentos que precisariam ser colhidos entre outubro e novembro.

Líder norte-coreano Kim Jong-un visita fazenda em 2015
Líder norte-coreano Kim Jong-un visita fazenda em 2015
Foto: BBC News Brasil

Isso significa também que as chuvas que caírem a partir de agora não vão resolver o problema agrícola atual - e que a insegurança alimentar deve se deteriorar ainda mais nos próximos meses.

Segundo a FAO, o país precisará importar alimentos por ao menos três meses para garantir o suprimento adequado.

Além da seca, enchentes

Paradoxalmente, a insegurança alimentar foi incrementada nos últimos anos também por enchentes, que destruíram plantações, casas e aldeias inteiras.

O efeito cumulativo de enchentes e produção agrícola insuficiente já havia causado a estagnação na habilidade do país em lidar com a escassez de alimentos e a desnutrição.

Para a FAO, serão necessárias intervenções de infraestrutura para, por exemplo, melhorar os sistemas de irrigação do país, de forma a reduzir o desperdício de água.

A mais grave escassez de comida na história recente do país ocorreu a partir de 1996 e, dois anos depois, o Programa Mundial de Alimentos da ONU disse ter montado sua maior operação de auxílio emergencial para evitar uma crise ainda mais grave.

Naquele ano, o órgão da ONU disse que planejava prover ajuda humanitária para cerca de um terço da população norte-coreana - ou 7,5 milhões de pessoas.

Na época, pesquisas identificaram crianças entre 1 e 2 anos com desnutrição aguda; algumas famílias se alimentavam de galhos para sobreviver.

Em 2001, depois de a Coreia do Norte ter enfrentado seu mais duro inverno em 50 anos, o país voltou a enfrentar uma escassez grave de milho e trigo.

Ajuda global

O governo da Coreia do Norte controla uma das sociedades mais fechadas do mundo e resistiu à oferta de ajuda humanitária internacional até meados dos anos 1990.

Entre 1996 e 2001, o Programa Mundial de Alimentos disse ter distribuído alimentos a cerca de 8 milhões de norte-coreanos.

Mudanças na economia do país ao longo das duas últimas décadas tornam mais difícil a repetição da tragédia de 20 anos atrás. A agricultura ainda é controlada pelo Estado, mas reformas foram implementadas discretamente para permitir que agricultores possam guardar para si uma parte maior de suas colheitas, o que levou a um aumento na produção.

O acesso externo ao país, porém, continua sendo rigidamente controlado.

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Artista de Propaganda norte-coreana foge e conta sua história:
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