Votação do orçamento da Previdência racha base aliada e pode agravar crise política na França
A votação do Projeto de Lei de Financiamento da Previdência Social (PLFSS) nesta terça-feira (9) na Assembleia Nacional francesa promete ser apertada e incerta. O dia é de alto risco para o governo e a rejeição do texto pode agravar a crise política na França.
A Assembleia Nacional francesa está fragmentada. O orçamento da Previdência Social pode ser aprovado ou rejeitado por uma diferença de apenas dez votos, segundo cálculos da imprensa francesa. O primeiro-ministro Sébastien Lecornu, do partido macronista, não tem maioria na casa. Para conseguir a aprovação do texto, fez várias concessões ao Partido Socialista (PS), como a suspensão da polêmica reforma que aumentou a idade mínima para aposentadoria para 64 anos.
O problema é que cada voto conquistado à esquerda representa uma perda de terreno à direita, resume o jornal Libération. O Reunião Nacional (RN), de extrema direita, liderado por Marine Le Pen, e a França Insubmissa (LFI), da esquerda radical de Jean-Luc Mélenchon, votarão contra. A base governamental está rachada. Muitos deputados dos partidos Horizons, do ex-premiê Édouard Philippe, e Os Republicanos, do ex-ministro do Interior Bruno Retailleau, devem votar contra ou se abster por causa do aumento dos gastos previstos.
Le Parisien diz que o primeiro-ministro francês está na corda bamba. Lecornu aposta no diálogo e prometeu não aprovar o orçamento por decreto, como ocorreu no passado. A rejeição do texto seria um grande revés para o primeiro-ministro de 39 anos, reconduzido ao cargo por Emmanuel Macron com a missão de dotar a França, até o fim do ano, de um orçamento para a Previdência e para o Estado.
"França é a grande perdedora do debate"
"Aprovado ou não, a França é a grande perdedora deste debate", afirma o editorial do Le Figaro. O jornal conservador lembra que o país gasta muito mais do que produz. Mas, em vez de melhorar sua defesa, educação e serviços públicos, enfrentar a queda da natalidade e da competitividade, prefere a técnica do avestruz: ignora seus problemas com "a obsessão de fazer os ricos pagarem a conta".
Les Échos diz que, sem alternativa, a rejeição do texto mergulharia a França em uma crise política e orçamentária ainda pior.
O orçamento da Previdência Social engloba despesas com saúde, aposentadorias e benefícios. Ele representa mais de 40% do orçamento do Estado francês. Sébastien Lecornu calcula que a rejeição do texto aumentaria o déficit orçamentário para € 30 bilhões, contra cerca de € 18 bilhões previstos no projeto. A não aprovação comprometeria os objetivos do governo, que pretende reduzir o déficit público da França — um dos mais altos da zona do euro — para menos de 5% do PIB no próximo ano.