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Papa Francisco

Política e atenção à comunidade marcam vida de D. João Braz de Aviz

Pessoas próximas lembram a trajetória do cardeal brasileiro: um religioso preocupado com a comunidade e ativo em movimentos de combate à corrupção

26 fev 2013 - 11h32
(atualizado às 11h36)
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A costureira Neide Mortean acompanha o cardeal Dom João Braz de Aviz desde que ele foi ordenado padre, em 1972, em Apucarana, no interior do Paraná. Ela define o catarinense nascido em Mafra em 1947 como um padre muito preocupado com o que acontecia além dos muros da igreja. “Era muito atencioso com a comunidade, com simplicidade e humildade, não fazia diferença entre as pessoas". Hoje, Dom João, atual prefeito da  Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, mora em Roma, e será um dos cinco cardeais brasileiros que vão participar do Conclave que elegerá o sucessor do papa Bento XVI.

Foto de 2004 mostra Dom João Braz de Aviz tomando posse como arcebispo de Brasília
Foto de 2004 mostra Dom João Braz de Aviz tomando posse como arcebispo de Brasília
Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil

“Nossa relação foi muito boa. Além de excelente padre, é um grande amigo. Viajamos para acompanhar a ordenação dele como bispo (em 1994 Aviz foi sagrado bispo, atuando em Vitória, no Espírito Santo) e fui a Brasília, no ano passado, na celebração de 40 anos de sua ordenação (como padre)”, conta Neide. “Quando olhei para ele, falei: você está com uma cara de papa”.

A ordenação de Dom João em 1994 foi o momento mais marcante que a costureira diz ter vivido com o cardeal. “Quinze dias antes ele fez uma celebração, seguida de um jantar na minha casa para se despedir da comunidade. Neste dia, convidou meu marido (Helio Mortean) para ser o comentarista da missa de ordenação. Mas meu marido faleceu uma semana antes”, contou. “Ele foi meu grande amparo. Foi um grande amigo, me deu muita força. Mesmo prestes a se tornar bispo, me acompanhou neste momento de tristeza, conversou com meus filhos também”, disse.

A relação de Dom João Braz de Aviz com Neide mostra seu comprometimento com a comunidade do interior do Paraná. Grande parte da sua trajetória foi construída no Estado. Após passar a infância em Borrazópolis, distrito rural do Estado, Dom João  passou por Londrina e Assis, no interior de São Paulo, antes de se transferir para Curitiba, onde estudou Filosofia do Seminário Maior Rainha dos Apóstolos. Foi para Roma concluir seus estudos e retornou a Apucarana.

Na comunidade, lembra a costureira, ele sempre expressou sua opinião, nas rádios da cidade, sobre os principais temas. "Procurava os jovens, dava força para as comunidades de base, frequentava os grupos de vivência, ministrava cursos, celebrava missas nas casas das pessoas".

Combate à corrupção

Em Ponta Grossa, também no Paraná, a atuação extra-muros de Dom João, já bispo da cidade, ganhou mais destaque. Ele liderou, no final dos anos 1990, o Movimento Ética e Cidadania que, ao lado de entidades como a Associação Comercial e a Ordem dos Advogados do Brasil na cidade, cobrava transparência e combate à corrupção na administração municipal. ”Foi um momento marcante. “Ele chegou a ser criticado por se expor daquela forma, mas, na sequência, todos perceberam a importância do movimento (que virou um Conselho e funciona até hoje na cidade)”, disse o padre Joel Nalepa, contemporâneo de Dom João na Diocese de Ponta Grossa. 

“E esse era o diferencial dele: clareza no seu posicionamento, trato aberto e franco com relação ao povo”, emendou. “Ele se posicionou dessa forma contra a corrupção no município, como fez em Brasília também e como sempre fez em relação as situações internas de Igreja. Nunca colocou panos quentes nas situações que precisavam ser resolvidas”, concluiu. “Um dos momentos mais marcantes foi quando ele nos convocou para uma caminhada da catedral até o santuário de Vila Velha (cerca de 15km) para um exercício de renovação da fé”, contou. 

Outro padre de Ponta Grossa que trabalhou ao lado de Dom João, Ademir da Guia disse que o cardeal foi um bispo bastante ativo, “visitando as paróquias, focado na verdade, na justiça social e no direito das minorias”. O padre também destacou a participação do então bispo no movimento contra a corrupção. “Foi um bispo de verdade e abriu um campo para termos fé não só na Igreja, mas na comunidade, na educação, na comunicação, na política”, contou.

O padre Ademir da Guia, de Ponta Grossa, confirma as impressões de Neide, de Apucarana. “Gostei muito dele no sentido da preocupação com os padres, a evangelização, não separava as pessoas, tratava padre, empresário e pobre da mesma forma”, disse.

Renovação no Vaticano

Os dois padres concordam que Dom João Braz de Aviz pode representar, no Vaticano, a renovação que o papa Bento XVI pediu para a Igreja Católica. “Para essa renovação, é preciso ter coragem. E essa é uma das virtudes que ele já demonstrou. Não tem medo de enfrentar os problemas que têm que ser resolvidos”, disse o padre Nalepa.

“De certa forma, a Igreja da América Latina já está realizando essa renovação defendida por nosso Papa. É uma Igreja muito mais criativa e alegre que a europeia, capaz de se ajustar e responder aos anseios do mundo de hoje. E esse pode ser um diferencial do nosso Dom João neste Conclave, tem essa experiência para apresentar aos cardeais e a vivência de quem cresceu em um distrito rural, foi padre no interior e arcebispo no mundo político de Brasília”, disse Ademir da Guia. 

Fonte: Especial para Terra
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