
Vestido com um hábito franciscano em juta, carregando um cajado, uma sacola pendurada nos ombros e com os pés descalços, Massimo Coppo, 64 anos, chamava a atenção de quem estava na Praça São Pedro durante a Santa Missa para a Eleição do Romano Pontífice, realizada nesta terça-feira.
Ajoelhado, com os pés inchados e sob uma forte chuva, esse peregrino veio de Assis, a 180 quilômetros de Roma, só para assistir ao anúncio do novo papa. E apesar da aparência de maltrapilho, Massimo dava entrevistas a jornalistas do mundo inteiro - um deles chegou a se ajoelhar ao seu lado para conseguir um melhor ângulo para a TV.
Ele conversou com a reportagem do Terra depois que o assédio diminuiu. Quando soube que o portal é brasileiro, tirou da sacola o livro que escreveu e que foi traduzido para o português por uma admiradora que o conheceu em Assis: Da terra de Assis o espírito de profecia sobre a queda da economia.
Falando fluentemente tanto em inglês quanto em italiano, Massimo prega uma volta aos fundamentos da Igreja, com um Pontífice “pobre e que aproxime-se dos pobres, que fale de eternidade e inferno, do retorno do Cristo”, diz. Decepcionado com a politização da Cúria Romana, o peregrino afirma que o Conclave que começa hoje “não é uma eleição para um chefe de Estado, mas uma eleição que escolherá o chefe espiritual” dos católicos do mundo inteiro.

Brasileiro, sim. Negro, não
Assim como Massimo e apesar das fortes pancadas de chuva que têm caído em Roma, outros peregrinos começaram a tomar a Praça de São Pedro à espera do resultado do Conclave que elegerá o próximo papa.
Aos 82 anos, Ferrucco Ballabio é um deles. Presença frequente das grandes celebrações da Igreja em São Pedro, ele já esteve em beatificações, funerais e jubileus. No entanto, nunca conseguiu ouvir a famosa frase Habemus Papam, pronunciada no balcão central da Basílica de São Pedro para anunciar um novo Pontífice.
Em 2005, quando o cardeal Joseph Ratzinger foi eleito Papa, Ferruccio estava em Jerusalém, também em peregrinação.
Desta vez, Ferruccio não pensou duas vezes. Pegou o cajado que ele mesmo construiu, vestiu uma camiseta estampada com a foto de três cardeais italianos – entre eles, Angelo Scola, apontado como o grande adversário de Dom Odilo Scherer na disputa pelo Trono de Pedro – e comprou uma passagem de trem de Monza, onde vive, até Roma.
Mesmo tendo apenas fotos de cardeais italianos estampadas na camiseta, Ferruccio diz que se o próximo papa for brasileiro, também ficará contente. No entanto, quando perguntado sobre a possibilidade de um Pontífice negro à frente da maior religião do mundo, o peregrino diz que isso só traria mais problemas para Igreja, que, segundo ele, “já tem problemas demais com os escândalos que tem enfrentado nos últimos anos”.