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Papa Francisco

Coexistência de Bento XVI e novo papa cria situação inédita

14 fev 2013 - 17h04
(atualizado às 17h15)
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A renúncia de Bento XVI ao pontificado criou uma situação inédita na Igreja Católica, que contará com um papa - que será eleito no Conclave em março - e um ex-papa, Joseph Ratzinger, que não se sabe qual título terá, mas manterá o nome e continuará como bispo emérito de Roma.

<p>Bento XVI conduz a missa da quarta-feira de cinzas na Basílica de São Pedro dois dias depois de anunciar sua renúncia. Ele permanece no cargo até o próximo dia 28</p>
Bento XVI conduz a missa da quarta-feira de cinzas na Basílica de São Pedro dois dias depois de anunciar sua renúncia. Ele permanece no cargo até o próximo dia 28
Foto: AFP

Nestes dias, se multiplicaram as perguntas sobre como ficará Bento XVI e se serão mantidas suas prerrogativas papais. Os cânones do Vaticano buscam uma fórmula sobre que título lhe corresponderá.

O que está claro, segundo o Vaticano, é que não voltará a ser cardeal Ratzinger, já que o título é uma dignidade, concedida por um papa, e Bento XVI deixou de sê-lo no momento em que foi eleito pontífice no dia 19 de abril de 2005.

Bento XVI continua sendo bispo, já que o prelado é um homem que recebeu o sacramento da Ordem Sacerdotal e é para sempre.

O pontífice é tradicionalmente o Bispo de Roma, por isso, Bento XVI passará a ser prelado emérito (aposentado) da Cidade Eterna.

Outra coisa é o título que lhe corresponderá e por enquanto não há resposta, mas será mantido o nome Bento XVI, já que sempre será o papa desse nome.

O papa carrega o chamado "Anel do Pescador", que simboliza o poder pontifício, e que será destruído após o dia 28 de fevereiro, data da renúncia oficial.

O Anel do Pescador é destruído após a morte do pontífice. Embora nesta ocasião seja diferente, já que o papa continua vivo, e no Vaticano existem algumas dúvidas.

O porta-voz, Federico Lombardi, se mostrou convencido de que o anel será destruído, pois os objetos relacionados diretamente com o Ministério petrino "têm que ser destruídos".

A normativa vaticana determina que após a morte de um papa, o cardeal camerlengo - que administra a Igreja durante o interregno entre um pontífice e seu sucessor - verifique a morte e retire o anel, um sinal de que o reinado foi concluído.

O anel é imediatamente destruído para evitar uma eventual falsificação de documentos pontifícios.

Em relação ao fato de continuar se vestindo de branco, essa cor é tradicionalmente a dos papas, por isso, de acordo com especialistas vaticanos, Bento XVI voltará a vestir a batina ou o clergyman.

Sobre as prerrogativas papais, no momento em que deixar de sê-lo, ele as perderá. Entre as que chamam mais a atenção é a de infalibilidade, dogma aprovado durante o Concílio Vaticano I, em 1870, sob o pontificado de Pio IX.

Bento XVI não deverá se preocupar muito com isso, já que em seu livro entrevista "Luz do Mundo", do escritor Peter Seewald, considera um "equívoco" afirmar que o pontífice é infalível, "já que um papa também comete erros".

Perguntado se "verdadeiramente o papa é infalível, um soberano absoluto, cujo pensamento e vontade são lei", Bento XVI respondeu de maneira categórica: "isso é um erro".

Ele afirmou que o papa se comporta "como qualquer outro bispo" e só em determinadas condições "quando a tradição é clara e se sabe que não atua de forma arbitrária, então se pode dizer que essa questão determinada é fé da Igreja".

Papa faz sua última missa da Quarta-feira de Cinzas:

"Obviamente, o papa pode equivocar-se, ser papa não significa se considerar um soberano cheio de glória, mas um que dá o testemunho do Cristo crucificado".

A infalibilidade do papa, aprovada pelo Concílio Vaticano I, é um dos pontos que separam às Iglesias Católica e a Ortodoxa.

A normativa vaticana também contempla que, após a morte - neste caso renúncia - do papa, o apartamento papal tem que ficar livre e é selado até que haja um novo pontífice.

Bento XVI deve abandonar o Vaticano três horas antes de concluir seu pontificado e vai se transferir junto com seus dois secretários e das quatro leigas consagradas que o ajudam, a chamada "família pontifícia", para a residência de Castelgandolfo, a 30 quilômetros de Roma.

Esta residência papal também teria que ser selada, mas, segundo disse hoje o porta-voz Lombardi, isso não ocorrerá, já que não guarda documentos papais.

Bento XVI permanecerá em Castelgandolfo até que sejam encerradas as obras de acondicionamento do mosteiro "Mater Ecclesia", nos jardins do Vaticano, onde deve ficar em definitivo.

Ratzinger viverá a pouco mais de cem metros do Palácio Pontifício, onde está o apartamento papal, que receberá seu sucessor.

Os dois vão viver muito próximos, mas sem interferências. Bento XVI já disse que vai "se esconder do mundo", se dedicando às orações.

EFE   
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