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Europa

O ataque racista contra idosa dentro de avião que gerou enxurrada de críticas a companhia aérea

Ryanair está sendo repreendida nas redes sociais por não ter retirado o passageiro agressor da aeronave.

22 out 2018 - 07h57
(atualizado às 13h01)
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Insultos de passageiro contra idosa negra foram registrados em vídeo por outras pessoas a bordo da aeronave
Insultos de passageiro contra idosa negra foram registrados em vídeo por outras pessoas a bordo da aeronave
Foto: Facebook/David Lawrence / BBC News Brasil

Passageiros de um voo da companhia aérea de baixo custo Ryanair testemunharam a hostilidade de um homem que agrediu com insultos racistas uma mulher negra de 77 anos.

O ataque, ocorrido em um voo de Barcelona para Londres na última sexta-feira, foi registrado em vídeo por um dos passageiros, que compartilhou as imagens nas redes sociais.

O incidente gerou uma onda de críticas à companhia aérea, por não ter retirado o passageiro agressor da aeronave. Muitas pessoas ameaçaram, inclusive, boicotar a empresa, sediada na Irlanda.

A Ryanair afirmou, por sua vez, que "não vai tolerar comportamentos indisciplinados como esse (do passageiro)". E avisou que notificou o caso à polícia britânica.

https://www.facebook.com/david.lawrencehughes/videos/1878880998891355/

'Muito agressivo'

No vídeo, visualizado mais de 1,8 milhões de vezes no Facebook, pode-se ouvir o homem insultando a mulher que estava sentada na mesma fileira dele e ameaçando "empurrá-la" para outro lugar.

"Não me importa se ela é uma pessoa com deficiência ou não. Não me diga o que eu devo fazer. Se eu digo a ela que ela tem que sair, ela tem que sair", diz ele à filha da passageira, que está sentada ao seu lado.

A passageira, então, reage: "Você fede. Você precisa de um banho".

Ele responde: "Estou dizendo a você. Se você não mudar de assento, eu vou empurrá-la para outro assento".

E acrescenta: "Não fale comigo em uma língua estrangeira, sua vaca feia e estúpida."

Um passageiro sentado na fileira de trás intervém e o homem diz: "Eu vou continuar por quanto tempo eu quiser com essa negra feia e desgraçada".

A filha disse ao site The Huffington Post que a discussão começou porque sua mãe tem artrite e demorou para se levantar da poltrona, localizada no corredor, para que o homem sentasse na janela.

David Lawrence, que filmou o episódio, contou em entrevista à BBC Radio 5 Live o que testemunhou:

"Tudo estava tranquilo, estávamos nos preparando para decolar. Foi quando ele embarcou e ao chegar ao assento, falou asperamente com a mulher que estava sentada no corredor."

"Foi isso que me chamou a atenção, ele estava falando muito alto e sendo muito agressivo."

E começou a gritar com a mulher, dizendo "sai do caminho", "tira os pés", "você não deveria estar sentada aqui".

Homem foi repreendido por funcionários da Ryanair, mas só depois de vários minutos de gritos
Homem foi repreendido por funcionários da Ryanair, mas só depois de vários minutos de gritos
Foto: Facebook/David Lawrence / BBC News Brasil

Lawrence relatou que inicialmente os comissários de bordo não se envolveram. Segundo ele, a filha da senhora, que estava sentada em outra fileira, chegou e "iniciou uma discussão".

"Ele passou por cima da mulher e sentou no lugar dele", acrescenta.

Foi então que ele começou a registrar em vídeo o que veio a seguir, que descreve como uma "discussão repugnante de insultos raciais e linguagem grosseira".

A filha contou que estava viajando de férias com a mãe, que imigrou da Jamaica para o Reino Unido na década de 1960, para marcar o aniversário de um ano da morte de seu marido.

"Sei que se eu ou qualquer outra pessoa negra estivesse se comportando como ele, teriam chamado a polícia e nos colocado para fora do avião", disse ao The Huffington Post.

"Minha mãe ficou muito chateada e estressada com a situação toda, além da dor que já estava sentindo. Quanto a mim, também estou chateada com isso tudo: o fato de o passageiro não ter sido retirado do avião, e a forma como trataram a situação", completou.

'Situação horrível'

Um rapaz sentado na fileira logo atrás interveio, pedindo que o homem parasse de gritar. E recebeu elogios nas redes sociais.

Um comissário da Ryanair disse ao agressor: "Não seja tão grosseiro, você precisa se acalmar".

Na sequência, ele avisa que vai reportar o incidente ao seu supervisor. E o homem responde: "Tudo bem".

"Estou muito chocado", desabafou Lawrence. "Não houve reação [da maioria dos outros passageiros]. Ninguém disse nada. O rapaz que realmente interveio... se viu obrigado a tomar uma atitude."

Ele afirmou que foi uma "situação horrível" e que estava "chocado" com o fato de a Ryanair "permitir que algo assim não fosse controlado".

O parlamentar Karl Turner está entre os que tuitaram sobre o incidente, dizendo que reforça "a tendência das companhias aéreas de ignorar esse tipo de comportamento".

Ele também afirmou que o passageiro "deveria ter sido retirado do voo e entregue à polícia".

Quem criticou o incidente e a forma como foi gerenciado concorda que o homem deveria ter sido colocado para fora do avião - em vez de a mulher ter mudado de lugar.

Ryanair afirmou que notificou a polícia britânica e que vai investigar episódio
Ryanair afirmou que notificou a polícia britânica e que vai investigar episódio
Foto: PA / BBC News Brasil

A Ryanair disse à BBC: "operamos diretrizes rígidas para passageiros que causam confusão e não vamos tolerar comportamentos indisciplinados como esse."

"Vamos levar este assunto adiante e um comportamento abusivo ou que cause transtorno como esse fará com que passageiros sejam proibidos de viajar", acrescentou.

A polícia britânica de Essex, onde fica localizado o Aeroporto de Stansted, destino do voo, está conduzindo a investigação.

"A Polícia de Essex leva a sério crimes relacionados a preconceito e queremos que todos os incidentes sejam denunciados. Estamos trabalhando em parceria com a Ryanair e as autoridades espanholas na investigação."

O Departamento de Transportes informou, por sua vez, que "todos devem poder desfrutar de uma jornada segura e tranquila sem que seu voo seja estragado por uma minoria que causa confusão".

E disse que trabalharia com as companhias aéreas e aeroportos "para ver o que mais pode ser feito para lidar com passageiros que geram transtornos".

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