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Europa

Jovens alemães apontam diferenças entre "ossis" e "wessis"

9 nov 2009 - 08h35
(atualizado às 08h36)
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Julia Dócolas
Direto de Berlim

Para a professora e pesquisadora do Instituto de História e Cultura do Leste Europeu da Universidade de Leipzig Steffi Marung, a discussão ossis x wessis está perdendo importância, mas ainda acontece quando há algum tipo de conflito entre berlinenses ocidentais e orientais.

Lisa Kallenberg, 23 anos, acho que ainda há muitas diferenças entre o leste e oeste
Lisa Kallenberg, 23 anos, acho que ainda há muitas diferenças entre o leste e oeste
Foto: Arquivo Pessoal / Divulgação

Mas o que pensam os alemães que nasceram às vésperas da queda do muro sobre as diferenças que ainda fazem parte das relações humanas na capital da Alemanha? Confira abaixo a opinião de alguns jovens ouvidos pelo Terra sobre a "rivalidade" nascida após 9 de novembro de 1989.

Lisa Kallenberg, 23 anos, estudante
"Já que eu nasci, cresci e ainda moro na Alemanha Oriental (Leipzig), eu me considero uma ossi. Mesmo que eu tenha vivido apenas por cinco anos no regime da RDA, eu acho que eu vivenciei as coisas boas e ruins de ser uma ossi. Ainda há muitas diferenças entre o leste e oeste.

Por exemplo, os salários são muito mais altos na Alemanha Ocidental, não interessa se você trabalha como um garçom (por exemplo, em Leipzig você ganha 6,5 euros - aproximadamente R$ 18 - por hora, enquanto no oeste poucas pessoas trabalhariam por menos de 12 euros) ou em uma empresa. Outro ponto: muitos alemães do ocidente ainda acham que estão pagando pela reconstrução do leste.

E ainda há algumas diferenças de comportamento: ossis normalmente dizem que wessis são esnobes e gananciosos, que o trabalho é o único propósito da vida deles. Mas nós não levamos mais isso tão a sério, estamos com ciúme porque eles ganham mais dinheiro (risos). Mas eu estou satisfeita em ser uma ossi, tenho orgulho da nossa história, pela maneira como as pessoas superaram toda a repressão do governo socialista e como tornaram possível a revolução pacífica."

Linda Wagner, 28 anos, estudante

"Geograficamente falando, eu sou uma ossi, pois nasci na RDA. Mas eu nunca me considerei nem ossi nem wessi. Eu sou alemã, europeia ou, pelo menos, de Berlim. É isso que eu digo quando alguém pergunta sobre a minha origem. Talvez eu não diferencie ossis de wessis porque eu era muito jovem e porque meus pais nunca fizeram isso.

Infelizmente ainda há estereótipos que os ossis são nazistas ou menos educados, enquanto os wessis são arrogantes, egoístas, etc. Mas, de qualquer maneira, com todas essas celebrações em relação a 1989, todos estão contentes pela queda do muro, pois não se deve subestimar o privilégio de se viver num país democrático."

Maris Nicolas Christiansen, 23 anos, estudante
"Eu nasci no oeste, portanto, wessi. Entretanto, acho que a diferença entre ossi e wessi é confusa. Depois de morar um tempo em Berlim e agora em Leipzig fica claro, a cada dia que passa, que a Alemanha é de fato apenas um país. Se ainda há competição, é por razões econômicas. As pessoas recebem menos no leste, mas o custo de vida também é mais baixo. Os ossis dizem: "wessis são arrogantes!". E os wessis: "ossis só reclamam!". Se ser ossi atualmente é mais cool, é porque os jovens transformaram o que o leste de Berlim é hoje. Não podemos esquecer que a RDA era uma ditadura que violava direitos humanos todos os dias."

Elke Essmann, 28 anos, Designer

"Eu sou uma wessi porque nasci na Alemanha Ocidental, mas não me considero nem wessi nem ossi porque pra mim isso não faz diferença. Eu me considero uma alemã. Já ouvi gente falando que o muro devia ser reconstruído com o dobro de altura, mas acho que quem diz isso tem dificuldades de viver com mudanças. Muitas pessoas estão superficialmente informadas sobre a política e só conhecem os lados negativos da reunificação.

Alguns wessis criticam a taxa solidária (imposto para a reconstrução da Alemanha Oriental), pois pensam que só eles estão pagando, mas os ossis também pagam. A maioria dos alemães, acredito, aceitaram a reunificação e estão contentes com ela. Não acho que ser ossi é mais cool, mas de repente as pessoas têm essa impressão por causa de filmes como Adeus Lênin e Alameda do Sol, que mostram o sistema na Alemanha Oriental e o jeito que eles viviam com um ponto de vista mais humorístico."

Theresa Kanitz, 23 anos, estudante

"Sou uma ossi, nascida na RDA. Infelizmente ainda há um pouco de competição pelas diferenças no estilo de vida, salários, etc. Mesmo depois de duas décadas, a vida e as opiniões ainda são um pouco diferentes no leste e no oeste da Alemanha.

Há muitos estereótipos, como os wessis sendo arrogantes e se achando melhores do que os ossis, além de serem preguiçosos. Os ossis são vistos como menos inteligentes (basta ver qualquer filme alemão em que, na maioria dos casos, o idiota sempre tem um sotaque do leste), um pouco atrasados e menos desenvolvidos. Todos esses estereótipos desaparecem quando as pessoas do leste entram em contato com as do oeste e vice-versa. Eles se dão conta de que todo esse papo não é real."

Thomas Borlik, 22 anos, estudante
"Eu me considero um ossi. Não acho que há competição, mas há ainda muito preconceito de ambos os lados. A minha geração é muito influenciada pelos nossos pais, que estão de certa maneira insatisfeitos com a reunificação da Alemanha. Isso tem a ver com o fato de que não foi realmente uma reunificação, mas uma anexação, em que tudo da RDA foi eliminado - também as coisas que funcionavam bem, como o sistema educacional.

Eu acho que os ossis têm raízes num país diferente que não existe mais. Acredito que isso vai durar mais uma geração até que esse assunto se torne menos importante entre o oeste e o leste. Eu não sei bem o que os ossis dizem dos wessis, provavelmente que eles são arrogantes.

Por outro lado, os wessis falam muito de "nós", que somos preguiçosos, incapazes. Eles têm a impressão que nós pegamos muito dinheiro deles para reconstruir a estrutura industrial e que ainda não estamos no mesmo nível deles. Pra mim ser ossi é mais legal. Mas esse é um ponto de vista oriental. Os wessis são mais complicados e reservados, basta levantar a questão da FKK (Freie Körper Kultur, ou Cultura do Corpo Livre, praticada no Leste)."

Stefan Max Bolz, 27 anos, estudante

"Não sou nem um, nem outro. A Alemanha é uma república federativa constituída por diferentes Estados. Na verdade eu sou do oeste do país, mas wessi ou ossi são termos usados por aqueles que querem dividir. As vezes eu até uso, mas só como uma piada. Da mesma forma que eu faço piada sobre a Bavária, sobre os franceses, americanos e sobre quem usa calças vermelhas (risos).

Eu não gosto de discussões sérias sobre wessis e ossis, porque eu não acho que isso seja real. Nós somos uma nação unida entre o leste e o oeste e entre o norte e o sul. Falando nisso, na minha opinião, as diferenças entre o sul e o norte são ainda maiores do que entre o leste e o oeste! A questão ossis versus wessis é só uma ferramenta política, mas não vida real. Ser ossi pode soar legal em Berlim, porque lá a situação é específica. Todas as zonas "cools" e de vanguarda foram formadas em Berlim Oriental, já no oeste estão a maioria dos escritórios administrativos e embaixadas, por isso lá é mais limpo e caro.

Mas o engraçado é que em Berlim, o termo ossi adquiriu um sentido de estilo de vida. Mesmo que você se mude de Hamburgo para Berlim e more em um desses bairros vibrantes do leste, você vai dizer: "eu sou um ossi", ou você realmente não se importa com isso!

Fonte: Especial para Terra
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