Governo francês entra em crise e arrisca queda após 'decisão ousada' do premiê François Bayrou
A França mergulhou novamente na incerteza política e financeira nesta terça-feira (26), após a "jogada arriscada" do primeiro-ministro, François Bayrou, que tenta garantir a sobrevivência de seu governo, ameaçado de ser derrubado pelo Parlamento. A imprensa francesa é unânime em prever a queda de Bayrou, após o anúncio do centrista de que solicitará o "voto de confiança" em uma sessão extraordinária na Assembleia Nacional, marcada para o próximo dia 8 de setembro.
A França mergulhou novamente na incerteza política e financeira nesta terça-feira (26), após a "jogada arriscada" do primeiro-ministro, François Bayrou, que tenta garantir a sobrevivência de seu governo, ameaçado de ser derrubado pelo Parlamento. A imprensa francesa é unânime em prever a queda de Bayrou, após o anúncio do centrista de que solicitará o "voto de confiança" em uma sessão extraordinária na Assembleia Nacional, marcada para o próximo dia 8 de setembro.
Oito meses após assumir o cargo, o governo de François Bayrou pode cair pelo mesmo motivo que o de seu antecessor, Michel Barnier: a dificuldade de aprovar um orçamento para o país, apesar dos alertas sobre os riscos e do "perigo imediato" representado, segundo ele, pela "dependência da dívida" massiva da França.
O jornal Le Parisien classifica a iniciativa do premiê como uma "jogada de alto risco" e uma "decisão ousada", ao tentar aprovar seu plano de cortes orçamentários em meio a apelos de diversos setores para paralisar o país no dia 10 de setembro.
"Envolvido em polêmicas sobre a supressão de dois feriados e o 'ano fiscal branco' para o orçamento de 2026, François Bayrou tenta retomar o controle, colocando seu destino nas mãos dos deputados", resume o jornal.
"Ele fez a escolha de sair"
O jornal conservador Le Figaro afirma que o premiê centrista assume o risco de cair para alertar os franceses diante dos apelos por bloqueios. Segundo o diário, o cenário de queda se aproxima, com partidos de diferentes tendências - comunistas, ecologistas, lepenistas (extrema direita) e a esquerda radical da França Insubmissa - já tendo anunciado que votarão contra o voto de confiança.
Olivier Faure, secretário-geral do Partido Socialista (PS), declarou que "os socialistas não vão dar um voto de confiança" ao democrata. "François Bayrou sabe muito bem disso. Na verdade, ele fez uma escolha, a de sair, porque sabe muito bem que, na configuração atual, o orçamento que ele apresentou em julho não tem o apoio de ninguém, nem na Assembleia, nem nas ruas, nem dos sindicatos. Portanto, ele sabe exatamente o que está fazendo e optou por antecipar uma provável moção de censura e foi por isso que decidiu antecipar a votação, pedindo um voto de confiança para o próximo dia 8 de setembro", disse em entrevista na TV francesa.
Les Echos antecipa uma nova crise, estimando que 264 deputados votarão contra o pedido de Bayrou, enquanto 210 seriam favoráveis, segundo o jornal econômico.
"É uma autodissolução", avaliou o líder do PS ao jornal Le Monde, veículo que destaca a possibilidade de uma nova dissolução da Assembleia Nacional. Emmanuel Macron já havia dissolvido a Assembleia em junho do ano passado, após a derrota de sua base nas eleições para o Parlamento Europeu. Essa instabilidade política, inédita sob a Quinta República Francesa - proclamada em 1958 justamente para pôr fim à instabilidade governamental - foi desencadeada justamente a partir da ação tomada pelo chefe de Estado.
Mas as eleições legislativas que se seguiram resultaram na formação de uma Assembleia Nacional dividida em três blocos (aliança de esquerda, macronistas e direita/extrema direita), sem maioria absoluta. Desde então, a França já está em seu segundo governo, agora com risco de colapso.
Dívida pública francesa
A dívida pública francesa representa cerca de 114% do PIB, sendo a terceira maior da zona do euro, atrás apenas da Grécia e da Itália. Diante da rejeição de seu plano de cortes orçamentários de € 44 bilhões por partidos da oposição e pela opinião pública, e sob pressão por paralisação nacional em 10 de setembro, o primeiro-ministro lançou sua última cartada.
A instabilidade pode desencadear uma fase de turbulência financeira. Já na manhã de terça-feira, a Bolsa de Paris abriu em queda diante das incertezas relacionadas à situação orçamentária. "Se ele e seu governo caírem, uma nova crise da dívida soberana não está descartada", escreveu no X Jacob Ross, especialista em França do grupo de reflexão alemão DGAP. Segundo ele, "novas eleições legislativas são uma possibilidade real".
(RFI com AFP)