França aumenta pressão para bloquear acordo UE-Mercosul defendido por Bruxelas
O presidente Emmanuel Macron voltou a reafirmar, na quinta-feira (26), sua oposição ao acordo UE-Mercosul, julgando o tratado "inaceitável em seu estado atual". Já o chanceler alemão Friedrich Merz defende o texto, cujo processo de ratificação será lançado em breve por Bruxelas.
O presidente Emmanuel Macron voltou a reafirmar, na quinta-feira (26), sua oposição ao acordo UE-Mercosul, julgando o tratado "inaceitável em seu estado atual". Já o chanceler alemão Friedrich Merz defende o texto, cujo processo de ratificação será lançado em breve por Bruxelas.
As declarações foram feitas no final da cúpula europeia nessa quinta-feira, em Bruxelas. O encontro foi uma oportunidade para avaliar a posição e o nível de resistência da França e de outros países do bloco ao acordo concluído em dezembro entre os países do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e a Comissão Europeia depois de mais de 20 anos de negociações.
No final da cúpula, Emmanuel Macron reiterou que o tratado é inaceitável "no estado atual" para a França, insistindo na necessidade de complementá-lo. A pressão suplementar do presidente francês acontece no momento em que a Comissão Europeia se prepara para iniciar o processo de ratificação do texto.
"A proposta para a assinatura e a conclusão (do acordo) será feita antes do final deste mês" de junho, afirmou o diretor-geral adjunto de Comércio, Leopoldo Rubinacci, ao Parlamento Europeu esta semana. Na sequência, os 27 países-membros do bloco, assim como o Parlamento Europeu, deverão deliberar e ratificar o projeto de texto finalizado.
Revés para a França
O anúncio desta etapa representa um revés para a França, que exige uma revisão da cláusula de salvaguarda incluída no tratado, por considerá-la insuficiente para proteger seu setor agrícola.
Na coletiva de imprensa em Bruxelas, o presidente francês confirmou a oposição francesa.
"O que estamos buscando não é modificar o acordo como ele está, mas enriquecê-lo com uma discussão adicional" entre os países europeus e os latino-americanos. Temos vários Estados apoiando essa ideia (...) de afirmar que precisamos ter mecanismos que protejam certos setores agrícolas que seriam totalmente desestabilizados por este acordo comercial", defendeu Macron.
Há algumas semanas, o presidente francês já havia reivindicado um adendo para incluir essas medidas, mas o comissário europeu da Agricultura, Christophe Hansen, descartou a possibilidade na terça-feira (24).
Defensores do acordo UE-Mercosul
Já o chanceler alemão Friedrich Merz, líder da maior economia europeia, defendeu a ratificação do acordo no final da cúpula de Bruxelas. Segundo ele, nenhum dirigente "apresentou objeções fundamentais" para aprovar o acordo "quanto antes possível" e citou apenas "problemas menores".
A Dinamarca, que assume a presidência rotativa da UE por seis meses em julho, incluiu em sua agenda "aprofundar as relações da UE com a América Latina" e "apoiar a ratificação do acordo UE-Mercosul", entre outros pontos.
Apesar da relutância da França e de outros países do bloco europeu, a pressão para ratificar o acordo cresce em ambos os lados do Atlântico, em meio à incerteza comercial mundial devido ao aumento das tarifas decidido por Donald Trump.
Além da Alemanha, Finlândia e Suécia também defendem a implementação do pacto rapidamente para compensar o efeito das tarifas americanas.
Posição brasileira
O acordo UE-Mercosul foi um dos temas centrais da última viagem oficial do presidente brasileiro Lula da Silva à França, no início de junho. O petista, que assumirá a presidência do Mercosul em 6 de julho, insistiu sobre a necessidade de assinar o acordo antes do final do ano.
O tratado, que criaria um bloco comercial com mais de 700 milhões de consumidores, permitirá à UE exportar mais automóveis e máquinas em troca da facilitação da entrada de carne, açúcar, arroz, mel e soja da América do Sul.
Na França, o acordo gera uma forte oposição do setor agrícola, principalmente dos pecuaristas que temem a concorrência do Mercosul em cortes mais lucrativos, como o filé mignon, e reclamam que os padrões de produção dos quatro países sul-americanos são menos restritivos do que os da UE.
Para evitar o veto francês, a Comissão Europeia poderia dividir o tratado em dois, separando a questão comercial do restante, o que simplificaria a ratificação. Essa estratégia exigiria apenas a aprovação do Parlamento Europeu e do Conselho da UE.
A França investe neste último cenário. Os ministros das Relações Exteriores, da Europa e da Agricultura franceses intensificaram os contatos com os representantes de outros países para construir uma "minoria de bloqueio" no Conselho da UE.
Essa opção exigiria o veto ou a abstenção de pelo menos quatro dos 27 países da UE, que representem pelo menos 35% da população da União Europeia.
(Com agências)