Às vésperas de entrar na zona do euro, Bulgária enfrenta crise política e governo renuncia
O governo búlgaro anunciou sua renúncia nesta quinta-feira (11), um dia após uma nova manifestação em massa contra a corrupção. A crise política se intensifica a apenas três semanas da entrada do país na zona do euro.
"Informo que o governo está renunciando hoje", declarou o primeiro-ministro Rossen Jeliazkov durante uma coletiva de imprensa, enquanto os deputados analisavam uma moção de censura apresentada pela oposição.
A renúncia do premiê é resultado de uma onda de contestação sem precedentes nos últimos anos, marcada pela forte presença de jovens nas ruas. Os protestos começaram no fim de novembro, quando o governo tentou aprovar, em regime de urgência, o orçamento de 2026.
O texto previa aumento de alguns impostos e contribuições sociais. Segundo manifestantes e opositores, essas altas tinham como objetivo encobrir desvios de recursos. Sob pressão popular, o governo retirou o projeto em 3 de dezembro.
Uma nova proposta orçamentária foi apresentada ao Parlamento dias depois, mas não conseguiu conter a insatisfação. "Mais de 70% da população apoia a onda de protestos no país", afirmou Dobromir Zhivkov, diretor da agência de sociologia MarketLinks. "A sociedade búlgara está bastante unida contra o modelo de governança do país", acrescentou, citando um estudo divulgado nesta quinta-feira.
Na noite de quarta-feira (10), dezenas de milhares de pessoas se reuniram na capital, Sófia, e em outras cidades, em mais uma demonstração de indignação contra um governo, acusado de corrupção. Após o protesto, convocado principalmente por uma coalizão reformista e pró-Ocidente, o presidente Roumen Radev e a oposição pediram a renúncia do governo.
Novo governo ou eleições?
A crise na Bulgária evidencia a instabilidade política enfrentada pelo país dos Bálcãs, que realizou sete eleições nos últimos quatro anos, após sucessivos colapsos das coalizões no poder.
O último pleito ocorreu em outubro de 2024, mas o Parlamento só aprovou o gabinete de Rossen Jeliazkov em janeiro, após meses de negociações. O governo foi formado por uma coalizão de circunstância entre os conservadores do GERB, do ex-premiê Boïko Borissov, e outras duas formações, com apoio parlamentar da minoria turca.
Segundo a Constituição, a renúncia desta quinta-feira ainda deve ser ratificada pelo Parlamento. Em seguida, o presidente deverá conceder um mandato para a formação de um novo governo dentro da assembleia.
Caso nenhuma maioria seja formada, o chefe de Estado nomeará um governo interino e convocará eleições em até dois meses. Ele é obrigado a escolher entre uma lista de altos funcionários do Estado, que inclui o presidente do Tribunal de Contas e o governador do Banco Central búlgaro.
País mais pobre da União Europeia
A renúncia do governo acontece no momento em que o pequeno país dos Bálcãs, o mais pobre da União Europeia - e que já chegou a ser apontado como o mais corrupto do bloco, se prepara para adotar a moeda única em 1º de janeiro. A população teme aumento de preços após a entrada oficial na zona do euro.
Dezoito anos após sua adesão à União Europeia, a Bulgária será o 21º país a adotar o euro. Seis países ainda não aderiram à moeda única, como Suécia, Dinamarca e Polônia. Além disso, Montenegro e Kosovo utilizam a moeda europeia sem fazer parte da União.
Com agências