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Acervo da Biblioteca Nacional da França revela diversidade e memória da fotografia brasileira contemporânea

A Biblioteca Nacional da França (BNF) realizou nesta sexta-feira (13), como parte programação da temporada cultural cruzada do Brasil na França de 2025, um colóquio sobre a fotografia brasileira contemporânea. Com mais de 1.400 fotos, a BNF tem o maior arquivo público de trabalhos de fotógrafos brasileiros do mundo.

16 jun 2025 - 14h47
(atualizado às 14h53)
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"A ideia do colóquio é exatamente valorizar o patrimônio brasileiro que conservamos na Biblioteca Nacional da França", disse à RFI Heloïse Conésa, chefe do serviço de fotografia do Departamento de Estampas e Fotografia da BNF. "É a ocasião de apresentar este olhar e discursos desses fotógrafos, que nós conservamos, e de mostrar ao público algumas impressões originais. Para nós é um prelúdio de outras operações de valorização que vamos realizar." Heloïse Conésa explica que a coleção contava com cerca de 550 fotografias, até antes de 2015. Depois, com novas doações, e graças ao trabalho de mecenato de Denise Zanet, diretora do Initial Labo Métropole, uma plataforma criativa dedicada à fotografia, com a curadoria primeiramente de Ricardo Fernandez, e posteriormente de Marly Porto, desde 2023, o acervo da BNF foi completado com o trabalho de fotógrafos contemporâneos brasileiros. "Fazer brilhar o nosso trabalho em um lugar que é o berço da fotografia - vamos dizer assim -, é muito importante", comentou Marly Porto, co-fundadora da Porto de Cultura e comissária adjunta do fundo fotográfico brasileiro contemporâneo da BNF. "Ter uma acolhida de uma instituição como a Biblioteca Nacional da França e sua representatividade na questão da memória, para os fotógrafos, é absolutamente importante", diz. Quando assumiu a curadoria junto com Héloïse Conésa, Marly Porto diz que, após cobrir o que considerava como uma "lacuna na história" do acervo da BNF, buscando fotógrafos como Rogério Reis (Na Lona, 1986-2001, Surfistas de trem 1989) que "fazem parte da nossa história, mas não estavam presentes", ela passou a pesquisar o trabalho de jovens fotógrafos. Acervo brasileiro O colóquio expôs as três linhas de aquisição prioritárias do fundo fotográfico brasileiro contemporâneo da BNF. A primeira mesa redonda, sobre o tema "Como fazer sociedade hoje no Brasil?", apresentou um olhar sobre as evoluções da sociedade brasileira e teve a participação dos fotógrafos Carolina Arantes, Andrea Eichenberger, Rogerio Reis e Roberta Sant'Anna. Da segunda, sobre patrimônio, memórias coloniais e representações de comunidades afro-descendentes e da Amazônia no Brasil contemporâneo, participaram os fotógrafos Fernando Banzi, Livia Melzi, Ana Mendes e Pablo Pinheiro. A terceira mesa, sobre mudanças climáticas e consciência ecológica no Brasil, contou com os fotógrafos Raphael Alves, Rodrigo Braga, José Diniz e Isis Medeiros. Todos os fotógrafos brasileiros presentes no evento têm seus trabalhos preservados na BNF. Entre eles, a gaúcha Roberta Sant'Anna, que apresentou Parque Aquático. Projeto fotográfico que expõe a classe média brasileira em lugares de lazer transformados em universos fantásticos. "O trabalho às vezes cria pernas próprias e vai para lugares que a gente nem poderia imaginar no momento que a gente estava fazendo as fotos", diz Roberta. "Privilégio, prazer, honra: é muito legal estar aqui em uma instituição tão respeitada assim. E é o aspecto também da coleção ser algo permanente. Quando nós não estivermos mais aqui, a coleção vai permanecer representando o Brasil." O aspecto de construção de memória é "crucial" para Carolina Arantes, cujo trabalho Tombamento faz parte do acervo. Principalmente porque os fotógrafos não contam com esta possibilidade no Brasil.  "Um espaço de acolhimento para os fotógrafos, para a história da fotografia brasileira, para a reunião de tantas visões, de tantas imagens: essa coleção é imprescindível para a gente ter essa segurança de que isso está guardado", sublinha.   Construção da memória Para a fotógrafa mineira Isis Medeios, a questão toma ainda mais relevância. Seu projeto fotográfico, "15:30", documentou durante dez anos o desastre ambiental em Mariana. O número faz referência à hora do rompimento da barragem de rejeitos tóxicos da mineradora Samarco.  "Está sendo muito importante estar aqui e abrir esse espaço também de visibilidade. É importante para mim ter esse trabalho aqui dentro da BNF e mostrar essa história. Porque infelizmente nosso país não valoriza a nossa história e não valoriza a memória. Para mim é extremamente importante que a gente nunca esqueça essa tragédia, que a gente nunca esqueça o que aconteceu e que a gente possa ter políticas de mudança mesmo, de melhoria para a população e para os territórios", diz. Para o fotógrafo amazonense Raphael Alves, o importante é que o olhar dos brasileiros seja registrado no acervo da biblioteca. "Nossas histórias sempre foram contadas por outros. O próprio nome Amazonas veio de um ideal do colonizador", lembrou. "Eu creio que a Amazônia é sempre muito observada do ponto de vista de um satélite, como uma coisa grande, distante, mas lá tem as pessoas e é impossível manter a floresta em pé, as águas limpas, se a gente não olhar para aquelas pessoas que vivem lá", ressaltou. "Quando alguém de fora vai na nossa região e as pessoas falam, 'Ah, vocês têm que subverter, vocês têm que retomar as narrativas'. Eu falo, não, a gente só tem que reverter. As histórias são nossas", diz. Alves insiste na força colaborativa da fotografia: "Quando a gente está diante do cotidiano, do próximo, e quando a gente consegue colaborar, eu com eles, eles comigo", a foto "se potencializa e pode ser um instrumento de denúncia, de registo, mas principalmente de interpretação desse mundo que a gente vive."

Fotografia de Carolina Arantes do trabalho "Tombamento", parte do acervo da Biblioteca Nacional da França.
Fotografia de Carolina Arantes do trabalho "Tombamento", parte do acervo da Biblioteca Nacional da França.
Foto: © Carolina Arantes / RFI
RFI A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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