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Estados Unidos

A luta segue: trans são proibidos no serviço militar dos EUA

As regulações do Pentágono proíbem que as pessoas que estão passando ou passaram por uma transição de gênero façam parte do serviço militar

30 jun 2015 - 10h11
(atualizado às 17h57)
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Dois dias antes da Corte Suprema legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todo o país, os Estados Unidos viviam outra data histórica: um transexual participava pela primeira vez da recepção anual do mês do Orgulho LGBT na Casa Branca, representando com seu uniforme 15,5 mil soldados silenciados.

Logan Ireland, da aeronáutica, iniciou sua transição para o sexo masculino em 2012 e compareceu ao ato excepcionalmente vestido com o uniforme militar junto com sua noiva, Laila Villanueva, que esteve presente como civil.

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Como a grande maioria de transexuais no exército americano, Ireland não tem o apoio de sua unidade que permita falar abertamente do sexo com o qual se identifica.

As regulações do Pentágono proíbem que as pessoas que estão passando ou passaram por uma transição de gênero façam parte do serviço militar americano, uma norma baseada em prescrições médicas de mais de 50 anos e que agora os ativistas pela liberdade do coletivo LGBT querem mudar.

Pessoas comemoram aprovação do casamento gay nos EUA.  26/6/2015.
Pessoas comemoram aprovação do casamento gay nos EUA. 26/6/2015.
Foto: Joshua Roberts / Reuters

"Nessa época, os transexuais eram vistos como doentes mentais e com uma moralidade deficiente, igual aos homossexuais. Muita coisa mudou desde então", explicou à Agência Efe Allyson Robinson, uma veterana transexual e ativista, poucas semanas depois que o ex-atleta olímpico Caitlyn Jenner surpreendeu o mundo com sua nova identidade.

Robinson se graduou como homem em 1994 na academia militar de West Point, ao norte de Nova York, e algum tempo depois revelou a seus companheiros cadetes, entre os quais se encontrava sua própria esposa, que se identificava com um sexo diferente do que tinha nascido.

"Sabia que fazer isso era perder minha carreira, não só a oportunidade de servir, mas também perder meu modo de vida e o sustento da minha família", disse. "Eu sentia que tinha que mentir a cada dia pelo privilégio de pôr minha vida na frente para meu país".

O exército dos Estados Unidos revogou em julho de 2011 a famosa política "Don't Ask, Don't Tell" que impedia o alistamento de quem se declarasse homossexual, mas se esquecia da transexualidade, considerada dentro das "exclusões psicossexuais".

Os indivíduos transexuais no exército, portanto, são ainda expulsos logo depois que sua condição é conhecida, e também não podem gozar dos serviços médicos necessários para esta comunidade, seja cirurgia, tratamentos hormonais ou atendimento psicológico.

"É quase inimaginável que peçamos às pessoas que adiem o cuidado médico necessário para continuar vestindo o uniforme", criticou Robinson.

Em entrevista coletiva em Nova York, Sarah Kate Ellis, a presidente da GLAAD, a principal organização dos EUA que ajuda a dar visibilidade aos direitos LGBT, destacou a importância de "contar histórias positivas ou não tão positivas para conscientizar a população sobre o que está ocorrendo" a respeito.

EUA registram onda de casamentos gays em locais que proibiam:

"Mas a América - lembrou Robinson - viu muitas histórias como a minha e como a de Caitlyn Jenner, de uma mulher transexual, branca, com estudos e de uma particular classe social. Os transexuais têm cinco vezes mais possibilidades de acabar no desemprego que os demais".

Talvez seja por esta razão, suspeita Robinson, que os transexuais costumam se alistar no exército mais frequentemente que o resto da população, dado que oferece oportunidades trabalhistas e benefícios médicos e de moradia com mais frequência, como indica um estudo de 2014 da Universidade da Califórnia Los Angeles (UCLA).

"Necessitam dessa segurança de uma maneira que muitos de nós não necessitamos, mas também queremos servir ao país e devolver nossas responsabilidades como cidadão como o resto de soldados", exemplificou a veterana.

Graças ao exemplo dos 18 países do mundo que já deram o passo e explicaram como incluir os transexuais em suas linhas defensivas, parece que a mudança nos Estados Unidos está cada vez mais perto e parece haver uma vontade do Pentágono para aplicar novas normativas.

"Não acho que nada, exceto sua idoneidade para o serviço, deva excluí-los", disse o secretário de Defesa dos EUA, Ashton Carter no último mês de fevereiro, uma opinião que é compartilhada pelo presidente Barack Obama.

Otimista, Robinson assegura que agora "é só uma questão de quando vai se materializar".

A Associação Médica dos EUA (AMA, na sigla em inglês), emitiu um comunicado neste mesmo mês declarando que "não há uma razão médica válida para excluir indivíduos transgênero" do exército, onde alguns comandantes já pensam que não há motivos para que seus membros não possam servir em suas unidades por esta condição.

EFE   
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