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Estados Unidos

EUA receberão 151 mil imigrantes a menos por ano após reforma

De acordo com organizações, o país verá o número de admitidos legalmente aumentar, e o número de pessoas entrando ilegalmente diminui

11 jun 2013 - 14h28
(atualizado às 16h02)
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<p>Protesto organizado por imigrantes para pressionar o governo pela aprovação da reforma migratória</p>
Protesto organizado por imigrantes para pressionar o governo pela aprovação da reforma migratória
Foto: AP

Cerca de 151 mil imigrantes deixarão de entrar nos Estados Unidos a cada ano caso o Congresso aprove a reforma de 844 páginas que segue nesta terça-feira para o plenário do Senado americano, segundo os cálculos de ONGs simpáticas à imigração.

Ao racionalizar o fluxo futuro de imigrantes e reforçar o patrulhamento na fronteira com o México, o país verá o número de admitidos legalmente aumentar, e o número de pessoas entrando ilegalmente diminuir, argumentam o Centro para o Progresso Americano e o Instituto para Políticas Migratórias (respectivamente CAP e MPI, nas siglas em inglês).

O cálculo servirá de munição no debate que deve opor democratas e republicanos à medida que a legislação for discutida no plenário do Senado nas próximas semanas. Espera-se que a votação ocorra antes do início do recesso dos senadores, no dia 4 de julho.

Se o projeto for mantido como está, as entidades estimam que o número de imigrantes ilegais que cruza a fronteira cairá de cerca de 690 mil por ano, em média, para menos de 69 mil anualmente.

Segundo elas, essa queda seria compensada numericamente com a entrada de imigrantes legais necessária para atender à demanda da economia americana por trabalhadores estrangeiros, tanto qualificados quanto de baixa qualificação.

Hoje, os EUA recebem 1,74 milhão de imigrantes por ano, segundo as estimativas das entidades. Se a reforma da imigração for aprovada da forma que está, as ONGs acreditam que este número cairia para 1,59 milhão.

Imigração futura

Na seção sobre a imigração futura, o projeto cria, por exemplo, um sistema de pontos - que já existe em outros países, mas é inédito nos EUA - que permitiria aos candidatos solicitar a residência sem a necessidade de ter uma oferta de emprego em mãos.

Os critérios levariam em conta a escolaridade de cada candidato, seu domínio do inglês, seus laços familiares ou sua vivência nos EUA e sua idade, entre outros critérios. Dependendo da situação da economia, entre 120 mil e 250 mil autorizações seriam concedidas.

Porém, diferentemente de outros países, o regime de pontos americanos concederia "green cards" equitativamente tanto aos trabalhadores altamente qualificados quanto àqueles com baixa qualificação.

"Para mim, essa é a grande mudança", disse à BBC Brasil o analista-sênior do CAP, Phil Wolgin. "Hoje, os indivíduos com menos qualificação praticamente não têm como conseguir um 'green card' via empregador. Agora vão poder."

Segundo especialistas, a melhor regulamentação dos vistos para trabalhadores com baixa qualificação também teria impacto na redução da demanda que, hoje, alimenta a imigração ilegal para os EUA.

O projeto que chega ao plenário do Senado facilita a concessão da residência a estudantes pós-graduados nas disciplinas científicas (ciências, tecnologia, engenharia e matemática) que tenham estudado em uma universidade americana e possuam uma oferta de trabalho no país.

Além disso, a legislação elimina limites impostos a cada país para a concessão de 140 mil vistos de profissionais altamente qualificados, que hoje fazem com que chineses e indianos tenham de esperar praticamente uma década para receber a autorização de residência permanente.

"Anistia"

O projeto venceu no mês passado a primeira etapa legislativa, a aprovação por uma comissão de senadores, graças um esforço para encontrar um equilíbrio delicado entre os interesses dos dois partidos.

Entretanto, para avançar, os defensores da proposta têm agora um desafio duplo: manter o texto fiel à versão aprovada na Comissão e ao mesmo tempo angariar votos suficientes para pressionar a Câmara baixa americana a aprovar a mesma legislação. A oposição à reforma na Câmara dos Representantes é mais ferrenha que no Senado.

A principal briga é com os parlamentares que qualificam o projeto de "anistia para imigrantes ilegais". A lei abre a possibilidade de um caminho para a cidadania para os indocumentados, mas só depois de um longo processo que pode tardar 13 anos e que inclui o pagamento de multas e impostos atrasados.

Mesmo assim, muitos senadores republicanos devem procurar adiar a entrada em vigor das medidas de legalização dos indocumentados que já vivem no país, condicionando-as ao cumprimento de metas de segurança na fronteira que, muitos analistas consideram, poderiam inviabilizar o resultado.

Para a entidade NumbersUSA, para quem a solução para os indocumentados é a deportação, a lei concederá 33 milhões de "green cards" a imigrantes ao longo da próxima década.

O cálculo assume as estatísticas mais altas para cada categoria de visto, e inclusive imigrantes que já tiveram sua residência aprovada, e apenas aguardam na fila para a emissão de sua papelada.

Para a entidade, o volume de concessões de vistos de residência é contrário aos interesses do país, no momento em que quase 12 milhões de americanos estão desempregados, e outros oito milhões não conseguem arrumar emprego em tempo integral.

A possibilidade de legalização para todos os indocumentados é uma promessa do próprio presidente Barack Obama. Em um email para seus partidários, o presidente afirmou que "os oponentes da reforma farão tudo o que puderem para impedi-la".

"Eles vão fomentar o medo e a divisão. Vão tentar fazer política com um tema que a maioria dos americanos quer ver resolvido. E se conseguirem, perderemos a oportunidade de finalmente consertar um sistema de imigração que está altamente disfuncional", disse.

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