Em meio a tensão política, Sarkozy alerta para crise institucional na França
As principais revistas francesas desta semana se debruçam sobre a política interna do país. Em uma longa entrevista exclusiva para a Le Point, Nicolas Sarkozy, presidente da França entre 2007 e 2012, alerta para o risco de ruptura na política da Quinta República. Já a L'Express foca no malabarismo econômico feito pela extrema direita francesa - representada na capa do periódico por Jordan Bardella e Marine Le Pen do partido Reunião Nacional (RN) - na tentativa de agradar tanto sua base popular quanto a ganhar apoio do setor empresarial.
Na Le Point, Sarkozy fala em clima pré-revolucionário e prevê a possibilidade de mudança de regime, lembrando que na França isso nunca ocorreu sem violência. "A situação é grave, pois, há quase 70 anos, as condições para uma insurreição raramente estiveram tão reunidas em nosso país."
O ex-presidente, recentemente preso durante algumas semanas em Paris após condenação por um esquema de financiamento ilegal de sua campanha presidencial de 2007 pelo ex-líder líbio Khadafi, faz críticas à esquerda francesa. Para ele, "a esquerda traiu todas as suas lutas de outrora em favor dos direitos humanos."
Nicolas Sarkozy reconhece na entrevista a Le Point o crescimento e a força da extrema direita. No entanto, descarta, como vem sendo cogitado nos bastidores do seu partido Os Republicanos, ser o candidato de uma aliança conservadora das eleições presidenciais de 2027.
Mas, o ex-presidente deixa claro que não está nos seus planos abandonar a vida política. Ele não quer repetir o passado e diz que prefere desempenhar um novo papel.
Extrema direita tenta se fortalecer na França
A L'Express destaca que o RN entra 2026 em um "mistura explosiva". De um lado, algumas figuras do partido de extrema direita buscam a credibilidade nos meios empresariais, enquanto o outro lado segue firme na linha populista.
Segundo a revista, a aproximação com o patronato é nítida. Empresários antes relutantes agora aceitam dialogar com o Reunião Nacional, e abrem portas para reuniões com Marine Le Pen e Jordan Bardella, buscando influenciar a linha econômica do partido, descreve o texto. Para a L'Express o objetivo é "melonizar" o RN, ou seja, torná-lo mais pragmático e liberal, à semelhança de Giorgia Meloni na Itália.
A popularidade do jovem Jordan Bardella, presidente da sigla, também é abordada na reportagem. Com a filha do fundador do partido, Marine Le Pen, fora da corrida presidencial por conta de um processo judicial e queda nas pesquisas, Bardella desponta como sucessor. A dúvida atual do RN é se Bardella é forte o suficiente para ser candidato em uma disputa presidencial.
Além das dúvidas que pairam e na incerteza sobre quem será o nome da extrema direita na corrida eleitoral, a revista ressalta o risco estratégico de misturar discursos populistas e liberais que podem gerar cacofonia econômica. Sem clareza, o RN corre risco de perder credibilidade tanto com empresários quanto com sua base popular, conclui L'Express.