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Boris Johnson: em meio a 'motim' no governo, primeiro-ministro resiste a deixar cargo

Premiê britânico enfrenta crescente pressão por renúncia, mas se defende dizendo ter recebido o voto de milhões de britânicos e que não seria correto sair em meio a pressões econômicas e à guerra na Ucrânia.

6 jul 2022 - 20h02
(atualizado às 20h59)
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Boris Johnson se defendeu no Parlamento
Boris Johnson se defendeu no Parlamento
Foto: UK Parliament/Jessica Taylor / BBC News Brasil

Em meio a uma rebelião interna em seu governo, Boris Johnson resiste em deixar o cargo de primeiro-ministro britânico.

A secretária do Interior Priti Patel, uma ex-aliada próxima de Johnson, se juntou na quarta-feira (6/7) a um grupo de ministros favoráveis à renúncia do premiê.

Johnson diz que não serão esses pedidos que o farão sair.

Ele disse aos parlamentares que não seria correto "se afastar" em meio a pressões econômicas e à guerra na Ucrânia.

Diante de integrantes de um comitê do Parlamento britânico, Johnson descartou a possibilidade de convocar eleições gerais antecipadas, dizendo que isso só poderia acontecer em 2024.

A nova crise política foi iniciada após o governo mudar as versões sobre o conhecimento por parte de Johnson acerca de denúncias de abuso sexual contra um político conservador nomeado para um cargo importante.

Depois de inicialmente negar conhecimento sobre o caso à época da indicação, o primeiro-ministro confirmou que "houve uma queixa [sobre abuso sexual] mencionada especificamente para mim... Foi há muito tempo e foi dito para mim em uma conversa... Mas isso não é desculpa, eu deveria ter feito algo sobre isso".

Um integrante do governo negou à BBC News que o primeiro-ministro anunciaria sua demissão ainda na quarta-feira. Em 24 horas, ele perdeu 40 integrantes de sua equipe.

"Não há nada sendo preparado do lado de fora do nº 10 [a residência oficial do premiê britânico] para esta noite. O primeiro-ministro continua lutando", afirmou.

Os ministros de Transportes, de Negócios e o encarregado do governo para o País de Gales declararam apoiar a saída de Johnson.

Ao menos 44 funcionários do governo renunciaram ou foram demitidos até a quarta-feira (6/7), incluindo o ministro do Tesouro, Rishi Sunak, o ministro da Saúde, Sajid Javid, e o ministro para o País de Gales, Simon Hart.

A BBC apurou que os argumentos do premiê para sua permanência são os milhões de votos recebidos e que possíveis sucessores do Partido Conservador não conseguiriam "repetir seu sucesso na próxima eleição".

Enquanto isso, integrantes do alto escalão do partido adiaram a decisão sobre mudar as regras para uma nova moção de desconfiança contra Johnson.

O premiê sobreviveu no mês passado a um voto de desconfiança entre seus correligionários e, pelas regras atuais, um novo processo só seria possível no meio do ano que vem.

Johnson enfrenta pressão crescente para renunciar
Johnson enfrenta pressão crescente para renunciar
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Além da renúncia por decisão do premiê, a moção seria o único meio de tirar Johnson do poder.

Após uma série de parlamentares entregarem seus cargos no governo, um aliado próximo ao primeiro-ministro disse à BBC que "agora é uma questão de como ele vai sair". Esse aliado acrescenta que a situação se tornou "insustentável".

Oposição questiona

Na tradicional sessão de quarta-feira no Parlamento, em que o premiê britânico é questionado por seus pares, o líder trabalhista Keir Starmer disse que os conservadores se tornaram um "partido corrompido que defende o indefensável".

Ele citou os ministros que renunciaram nos últimos dias, dizendo que o fato de não terem deixado o governo antes mostra que não há "um pingo de integridade".

O trabalhista atacou os ministros que permanecem em seus cargos chamando-os de "cachorrinhos dóceis" que mantêm Johnson no poder.

Javid, ex-titular da Saúde, publicou um comunicado em que justifica sua saída afirmando que "andar na corda bamba entre lealdade e integridade" se tornou "impossível nos últimos meses".

Mesmo um político conservador, Gary Sambrook, acusou o primeiro-ministro de jogar a culpa em outras pessoas por seus erros durante a sessão. Sambrook foi aplaudido após pedir que o premiê renuncie.

Mas Johnson contra-atacou, dizendo que tinha o direito de ficar no poder, porque conquistou uma larga maioria parlamentar nas eleições de 2019.

"O primeiro-ministro recebeu um mandato colossal e seu trabalho em circunstâncias difíceis é continuar - e é isso que vou fazer."

O editor de política da BBC Chris Mason analisa que a atmosfera na sessão indica que Johnson perdeu apoio e influência entre seus colegas de partido.

A avaliação interna é de que o primeiro-ministro não conseguirá resistir por muito tempo.

- Texto originalmente publicado em http://bbc.co.uk/portuguese/internacional-62073574

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