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Ásia

Drama em Beirute: “Ouvi gritos do meu filho e vi sangue”

Brasileira relata momentos de pavor que se seguiram à explosão na capital libanesa

5 ago 2020 - 16h28
(atualizado em 6/8/2020 às 11h26)
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Georgia Gilz, seu marido Daniel e o pequeno Raphael, 5 anos, desfrutavam de mais um fim de tarde rotineiro em Beirute, nessa terça (4). O casal lanchava e conversava sobre amenidades. Enquanto o menino brincava com um colega, Liam, da mesma idade, num quarto do apartamento, no bairro de Achrafieh, na região central da cidade. De repente, todos ouvem um estrondo, um barulho ensurdecedor.

Prédio completamente destruído após explosão em Beirute
Prédio completamente destruído após explosão em Beirute
Foto: Mohamed Azakir / Reuters

Georgia corre até a janela mais próxima para tentar entender o que era aquilo. Ela vê uma cortina de fumaça a pouco mais de um quilômetro de distância. Está atônita, debruçada no parapeito, sem reação. Naquele instante, movido por um 'insight', Daniel a empurra e os dois caem abraçados no chão da cozinha. Em segundos, uma nova e arrebatadora explosão assola a capital libanesa.

As janelas de vidro do apartamento voam, luminárias e uma infinidade de objetos, também; parte do teto desaba. Em pânico, Georgia ouve os gritos dos meninos e vai, trôpega, atrás deles. Vê rastros de sangue antes de chegar aos dois. Uma porta de madeira caiu em cima de Raphael e a fechadura dela atingiu a cabeça de Liam. Os dois choram em desespero e perguntam o que aconteceu.

Raphael, Geórgia e Daniel viveram momentos de tensão após a arrebatadora explosão assola a capital libanesa
Raphael, Geórgia e Daniel viveram momentos de tensão após a arrebatadora explosão assola a capital libanesa
Foto: Divulgação

"Foi um terremoto. Está tudo bem", ela tenta acalmá-los. O corte em Liam é contido com bastante gelo no local. O sangue estancaria em minutos.

Rapidamente, o casal começa a usar o celular para saber dos parentes e amigos. Ela se apressa em mandar mensagem para o pai, o cinegrafista Sergio Gilz, que mora em Londres. Daniel, em poucos minutos, começa a receber notícias sobre amigos mortos e feridos. A mãe de Liam, a trabalho fora de casa, não é localizada.

Em meio àquele turbilhão todo, com sirenes e pedidos de socorro ecoando pelo bairro, Daniel desce com os três para a garagem. Vão deixar o apartamento, precisam levar Liam ao hospital. Ainda há tempo de Georgia conferir o estado de seu estúdio de pilates, no andar de baixo do prédio em que moram. Lá, todos os equipamentos estão destruídos. Por sorte, não funcionava no instante da tragédia.

Líbano: estúdio de pilates fica 100% destruído após explosão:

“Não havia seguro para os danos materiais. Mas, neste momento, só tenho gratidão a Deus por termos escapado com vida e sem ferimentos graves. Meu filho vomitou, está em observação em casa conosco. O Liam também está bem, com seus pais, só precisou levar alguns pontos”, contou Georgia, em entrevista ao Terra.

Ainda na terça-feira, sua família seguiu para uma região montanhosa, ao redor de Beirute. Lá, na cidade de Faraya, o sogro de Georgia tem um apartamento de um quarto. O pai de Daniel também estava em Beirute e foi atingido pela explosão com cortes superficiais nas pernas e nos pés provocados por estilhaços de vidros. Seu apartamento na capital está em ruínas.

O acidente ocorreu na região portuária de Beirute, num hangar que armazenava 2,75 toneladas de nitrato de amônio, e deixou mais de 100 mortos e pelo menos 4 mil feridos. Foi a experiência mais pavorosa por que passou Georgia, carioca que saiu do Brasil para morar na Europa ainda criança. Casou-se anos mais tarde com o libanês Daniel, agente do sistema financeiro, e fixaram residência em Beirute, cidade-natal de Raphael.

Vista aérea do antes e depois da região atingida pela megaexplosão
Vista aérea do antes e depois da região atingida pela megaexplosão
Foto: Reprodução

Na manhã desta quarta, os amigos Raphael e Liam conversaram em vídeochamada. O diálogo foi reproduzido por Georgia ao Terra.

"Este é o pior dia da minha vida", disse Liam, com a cabeça enfaixada e olhos lacrimosos.

"Não é não. Nós estamos até conversando por vídeochamada".

"Olha a minha cabeça".

"A porta bateu na minha cabeça também, Liam. A gente está bem. O terremoto já passou".

Fonte: Silvio Alves Barsetti
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