Milei usa escândalo do fentanil contaminado na Argentina para atacar oposição em campanha legislativa
O governo da Argentina elevou para 100 o número de mortos por fentanil contaminado, e apontou um laboratório local como responsável, em meio ao aumento da polêmica no país, devido à lentidão da resposta à crise sanitária. Durante um ato político em La Plata, na quinta-feira (14), o presidente Javier Milei acusou os apoiadores de sua antecessora Cristina Kirchner de acobertarem o dono do laboratório.
O governo da Argentina elevou para 100 o número de mortos por fentanil contaminado, e apontou um laboratório local como responsável, em meio ao aumento da polêmica no país, devido à lentidão da resposta à crise sanitária. Durante um ato político em La Plata, na quinta-feira (14), o presidente Javier Milei acusou os apoiadores de sua antecessora Cristina Kirchner de acobertarem o dono do laboratório.
Desde maio, várias denúncias foram registradas perante a autoridade de medicamentos e alimentos (Anmat) da Argentina por mortes suspeitas após o uso do fármaco em hospitais de quatro províncias do país, além da capital, Buenos Aires. Em um comunicado divulgado na quinta-feira, a presidência argentina apontou Ariel Garcia Furfaro, dono do laboratório HLB Pharma Group S.A., como o fabricante do lote de fentanil contaminado "responsável pela morte de mais de 100 pessoas". Segundo a imprensa local, 24 pessoas são investigadas no caso.
Em campanha para as eleições legislativas de meio-mandato, marcadas para 26 de outubro, Milei acusou os aliados da ex-presidente peronista Cristina Kirchner de encobrir Furfaro, sugerindo que o empresário teria sido protegido por figuras ligadas ao kirchnerismo.
Entenda o caso fentanil na Argentina
As denúncias surgiram após um hospital descobrir as bactérias Klebsiella pneumoniae e Ralstonia pickettii no fentanil medicinal, tipo de opioide administrado aos pacientes. Cinco lotes contaminados teriam sido distribuídos em oito hospitais e centros de saúde do país, antes de uma inspeção do governo, em fevereiro, na qual a Anmat (agência equivalente à Anvisa) fechou o laboratório. Diante da polêmica gerada pelo aumento do número de mortos, o governo publicou uma nota afirmando que fechou o laboratório "três meses antes da primeira morte causada pelo fentanil contaminado".
Crise sanitária vira pauta de campanha nas eleições legislativas
Embora a perspectiva seja favorável ao presidente Javier Milei nas eleições legislativas de outubro, analistas apontam que uma eleição local na província de Buenos Aires, marcada para 7 de setembro, pode representar um desafio significativo para o líder da direita radical. Seu partido enfrentará os peronistas de centro-esquerda em seu principal reduto eleitoral, onde está concentrado cerca de 40% do eleitorado nacional.
Javier Milei escolheu La Plata - capital da província, sede e residência de seu principal adversário, o governador Axel Kicillof - como ponto de partida para uma campanha curta.
"A política se alimenta de simbolismos", destacou o jornal Clarín, descrevendo que a frase "Kirchnerismo, Nunca Mais" foi repetida como um mantra no comício. Esse foi também o slogan central que o próprio Milei insistiu várias vezes em seu discurso em La Plata e acrescentou: "Tomemos como exemplo o encobrimento atroz de Ariel Furfaro, um eterno sócio kirchnerista, pela causa do fentanil", acusou Milei.
Essas eleições são consideradas uma prévia das legislativas de meio-mandato em outubro, nas quais o presidente Javier Milei medirá sua popularidade nacional após dois anos de severo ajuste fiscal.
Um perigo chamado fentanil
Há duas semanas, famílias de pacientes falecidos protestaram em frente ao Hospital Italiano de La Plata, a 60 km ao sul de Buenos Aires, exigindo "justiça para as vítimas do fentanil".
O fentanil é de 50 e 100 vezes mais potente que a morfina, segundo dados da Organização Mundial da Saúde.
Nos Estados Unidos, a substância causa estragos: estima-se que mais de 80 mil pessoas morreram por overdose naquele país em 2024, das quais 48.422 foram por fentanil.
RFI com agências