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América Latina

Filha de comandante que capturou Che é 1ª general da Bolívia

Em 1967, Luis Reque Terán liderou a captura do guerrilheiro. Quase meio século depois, sua filha Gina Reque Terán se tornou a primeira mulher a atingir a patente mais alta das Forças Armadas do país

10 abr 2015 - 06h53
(atualizado às 10h39)
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<p>Em 5 de março de 1960, o fotógrafo cubano Alberto Díaz, conhecido como Korda, captou a uma imagem do líder Ernesto Che Guevara</p>
Em 5 de março de 1960, o fotógrafo cubano Alberto Díaz, conhecido como Korda, captou a uma imagem do líder Ernesto Che Guevara
Foto: Radio Rebelde / Reprodução

O sobrenome Reque Terán está gravado na história militar da Bolívia.

Em 1967, o comandante Luis Reque Terán liderou a captura do guerrilheiro mais famoso da América Latina: Ernesto "Che" Guevara.

E quase meio século depois, sua filha Gina Reque Terán se tornou a primeira mulher a atingir a patente mais alta das Forças Armadas da Bolívia.

Agora, a filha do homem que perseguiu Che acaba de completar um mês com o bastão de comando de general – que recebeu das mãos do presidente do país, Evo Morales, em março do ano passado.

Um caso singular

Na América Latina as mulheres representam 4% da força militar, segundo Marcela Donadío, secretária executiva do centro de estudos Resdal (sigla da Rede de Segurança e Defesa da América Latina).

Em países como Venezuela, Chile e Brasil mulheres já alcançaram a patente de general ou almirante. Mas o caso de Reque Terán, de 53 anos, é singular.

Isso porque, segundo Donadío, ela seria a primeira a atingir um cargo que prevê o comando de tropas de combate.

Uma trajetória com a qual a general sonhava desde pequena, inspirada pelo exemplo de seu pai.

"Desde menina eu tinha a intenção de seguir a carreira militar de meus pais", disse à mídia local.

"Como mulher me sinto muito agradecida por receber essa oportunidade e também muito orgulhosa", disse ao jornal El Día.

Mulheres nas forças armadas

As mulheres começaram a participar das Forças Armadas na América Latina na década de 1950, mas trabalharam principalmente em funções de apoio ou serviço, e não de combate.

Segundo Marcela Doandío, Bolívia e Venezuela abriram temporariamente suas portas para a entrada de mulheres nas academias militares a partir dos anos 70.

No caso da Bolívia, a academia se abriu para mulheres entre 1979 e 1985 – tendo sido fechada novamente por um governo militar.

Nessa época, aos 17 anos, Reque Terán entrou no Colégio Militar de Aviação de La Paz. Ela fazia parte de um grupo de cerca de 20 bolivianas que entraram nas Forças Armadas.

Algumas delas já foram para a reserva. Em 2003, a academia voltou a se abrir para as mulheres.

Casa militar

Reque Terán foi comandante de sessão e de companhia, assim como professora em institutos militares antes de chegar ao cargo de general.

Ela pertence ao Estado Maior boliviano, está casada com um militar e é mãe de dois filhos.

"No quartel, como em qualquer outra carreira militar, se cumprem regras e regulamentos. Tenho na minha casa as mesmas normas que têm quaisquer mães, pais e filhos, cada um com sua responsabilidade. O fato de meu marido ser coronel e eu general não influem na casa".

Segundo o correspondente da BBC Mundo Ignacio de los Reyes, nos últimos anos, o papel das mulheres e a igualdade efetiva de oportunidades esteve no centro do debate na Bolívia e a nomeação de Reque Terán pode ajudar.

Mas ainda há um longo caminho a ser percorrido.

No começo deste mês, o Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU demonstrou preocupação em relação aos assassinatos de mulheres na Bolívia – foram mais de 100 no último ano.

"Enquanto o Executivo de Evo Morales aprovou leis e regulamentos para fomentar o acesso das mulheres a campos como o político, onde agora compõe a metade da Assembleia Legislativa Plurinacional, ou o da luta contra a violência de gênero, organizações feministas denunciam que no país os direitos mais básicos das mulheres ainda são violados diariamente e as autoridades não fizeram o suficiente para evitá-lo", diz documento do órgão.

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