EUA perseguem terceiro petroleiro venezuelano em novo episódio da crise entre os dois países
O número crescente de intervenções dos EUA contra navios que transportam petróleo da Venezuela ameaça paralisar a economia do país sul-americano, ao mesmo tempo que alimenta a retórica de que Donald Trump busca derrubar Nicolás Maduro para controlar os recursos venezuelanos. Neste domingo (21), uma terceira embarcação foi perseguida pelas tropas norte-americanas um dia depois do segundo navio ter sido interceptado.
"A Guarda Costeira dos Estados Unidos está perseguindo ativamente um navio sob sanções (...) que participa da violação ilegal dos bloqueios à Venezuela. Ele navega sob bandeira falsa e é objeto de uma ordem de apreensão judicial", declarou uma fonte norte-americana, sob condição de anonimato.
Esse terceiro navio foi identificado pela imprensa norte-americana como o Bella 1, sob sanções dos EUA desde 2024 por suas supostas ligações com o Irã e o grupo xiita libanês Hezbollah. De acordo com o site especializado TankerTrackers, ele estava a caminho da Venezuela e não transportava carga.
Segundo o The New York Times, as forças norte-americanas se aproximaram dele no final da tarde de sábado (20), e tentaram interceptá-lo após obterem um mandado de um juiz federal, mas o navio continuou seu trajeto.
"Pirataria naval"
Desde a última terça-feira (16), Washington vem endurecendo seu bloqueio ao petróleo venezuelano, visando embarcações supostamente sob sanções. Uma das razões seria controlar a produção da commodity no país sul-americano.
Em dezembro, dois navios foram apreendidos pelos EUA. O último, o Centuries, foi interceptado no sábado pela Guarda Costeira norte-americana durante uma operação qualificada por Caracas como "sequestro". Mas na lista pública de pessoas jurídicas e físicas sob bloqueios do Tesouro americano, essa embarcação com bandeira do Panamá não aparece.
"O navio contém petróleo da PDSVA [a companhia estatal venezuelana] sob sanções", justificou na ocasião a porta-voz da Casa Branca, Anna Kelly, na rede social X. Segundo ela, o petroleiro navega sob "uma bandeira falsa e faz parte da frota fantasma venezuelana para o tráfico de petróleo roubado e financiar o regime narcoterrorista de Maduro".
O governo do socialista Nicolas Maduro classifica esses episódios como "roubo" e denuncia o que seria um ato de "pirataria naval", uma vez que o petroleiro interceptado não consta da lista de entidades sancionadas pelo Tesouro americano.
Disputa entre Trump e Maduro
Essas intervenções ocorrem no momento em que o presidente dos EUA, Donald Trump, afirma que a Venezuela utiliza o petróleo, seu principal recurso, para financiar "o narcoterrorismo, o tráfico de seres humanos, assassinatos e sequestros".
Caracas nega qualquer envolvimento no tráfico de drogas e garante que Washington busca derrubar o presidente Nicolás Maduro para se apropriar das reservas petrolíferas do país.
Com mais de 300 bilhões de barris em seu solo, a Venezuela é certamente a primeira do mundo em termos de reservas, mas ocupa o 20º lugar em termos de produção, porque seu óleo pesado é mais caro de refinar, mas sua produção voltou a crescer nos últimos meses.
Chevron autorizada a "circular com petróleo venezuelano"
Embora os Estados Unidos estejam de olho no petróleo venezuelano, a Chevron, gigante norte-americana do setor, o explora e exporta desde 2023. Esse acordo foi renovado por Donald Trump.
Como o navio interceptado no sábado não estava sob sanções americanas, Thomas Posado, acadêmico ouvido pela RFI e autor do livro "Venezuela, da revolução ao colapso", não tem dúvidas sobre o verdadeiro objetivo de Washington.
"Parece que os únicos navios que têm o direito de circular com petróleo venezuelano são aqueles que têm um acordo com a Chevron e cujo destino são os Estados Unidos. Portanto, temos a impressão de que Donald Trump está tentando tomar posse do comércio de petróleo venezuelano", opina o especialista.
Na estratégia americana de controlar os preços do barril, ter o comando sobre a política petrolífera venezuelana seria uma grande vantagem.
Essa relação conflituosa não é recente. Da década de 1920 até a nacionalização em 1976, os EUA exploraram o petróleo da Venezuela. Muitas refinarias norte-americanas foram projetadas para processar petróleo bruto extraído do solo venezuelano.
Entretanto, atualmente, a Chevron é a única empresa autorizada a enviar petróleo venezuelano para os Estados Unidos, sob o embargo imposto pelo próprio Donald Trump em 2019.
Isso equivale a pouco mais de 200 mil barris por dia, disse uma fonte do setor, transportados em navios que não estão sujeitos a sanções, evitando assim operações militares.
RFI com AFP