Encontro do G7 termina sem declaração sobre a Ucrânia, conflito foi ofuscado pela guerra no Oriente Médio
O encerramento da Cúpula do G7 em Kananaskis, no Canadá, foi marcado pela saída prematura do presidente americano Donald Trump, supostamente para lidar com a crise no Oriente Médio. A questão dominou as discussões e acabou ofuscando outro conflito, o da Ucrânia, sobre o qual não foi feita nenhuma declaração final, apesar da presença do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky que esperava obter apoio na ofensiva contra a Rússia.
Com informações de Murielle Paradon, enviada especial da RFI a Kananaskis (Canadá), e agências Mesmo que o conflito na Ucrânia tenha sido um dos principais focos da reunião de cúpula do G7 ocorrida nas Montanhas Rochosas canadenses, onde o presidente ucraniano tentou pressionar por mais ajuda militar, "não houve nenhuma declaração específica porque os americanos queriam diluir a questão", confidenciou uma fonte do governo canadense. Os outros membros do G7, no entanto, concordaram com uma linguagem forte. "Alguns de nós, incluindo o Canadá, poderíamos ter ido mais longe", reconheceu o primeiro-ministro canadense, Mark Carney, anfitrião da reunião do G7, em sua última coletiva de imprensa, ao se referir às declarações sobre a guerra na Ucrânia. No entanto, Carney insistiu que todos continuam de acordo em pressionar a Rússia, inclusive por meio de sanções financeiras. O clube das principais democracias industrializadas do mundo, porém, não emitiu desta vez uma declaração conjunta denunciando a "agressão russa". Com as negociações entre Moscou e Kiev mediadas por Donald Trump em um impasse, o encontro do G7 foi uma oportunidade perdida para Volodymyr Zelensky, que não conseguiu se encontrar com o presidente americano, com quem mantém um relacionamento conturbado. Trump foi embora mais cedo da cúpula. "Estamos prontos para negociações de paz, para um cessar-fogo incondicional. Para isso, precisamos de pressão", declarou Zelensky que, segundo a mídia local, cancelou eventos programados no Canadá após o G7. O líder ucraniano não partiu, contudo, de mãos vazias. Zelensky obteve o equivalente a € 1,27 bilhão em uma nova ajuda militar do Canadá, incluindo drones e veículos blindados. Ottawa também se juntou a Londres no reforço das sanções contra a "frota fantasma" de navios da Rússia, usada para contornar o bloqueio internacional às suas vendas de petróleo. "Essas sanções atingem diretamente o cerne da máquina de guerra de Putin, visando sufocar a sua capacidade de continuar a guerra bárbara na Ucrânia", declarou o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer. Guerra Irã-Israel entra em pauta A cúpula do G7 também foi marcada pelo conflito entre Israel e Irã, que motivou a saída antecipada de Donald Trump do encontro. O presidente americano deixou a cúpula prematuramente para abordar a crise no Oriente Médio. Pouco antes de seu embarque, os líderes do G7 emitiram uma declaração conjunta pedindo a "desescalada" e afirmando o direito de Israel de "se defender". Segundo eles, "o Irã é a principal fonte de instabilidade e terrorismo na região" e "sempre ficou claro que o Irã jamais poderá possuir uma arma nuclear". Essa posição foi imediatamente denunciada por Teerã, que considera a afirmação tendenciosa, uma vez que o G7 não condenou os ataques israelenses no país. "O G7 deve abandonar sua retórica unilateral e abordar a verdadeira fonte da escalada: a agressão de Israel", escreveu o porta-voz de política externa iraniana, Esmail Baghai, na rede social X. "O Irã está se defendendo de uma agressão brutal. O Irã realmente tem outra escolha?", questionou. Num sinal das divisões atuais, Donald Trump atacou o presidente francês, acusando Emmanuel Macron de afirmar "erroneamente" que a sua saída do Canadá tinha como objetivo trabalhar por um cessar-fogo entre Israel e o Irã. "Falso! Ele não tem ideia de por que estou a caminho de Washington, mas certamente não tem nada a ver com um cessar-fogo. É muito mais do que isso", disse Trump em sua rede social Truth Social. "Quer ele queira ou não, Emmanuel nunca entende nada", afirmou o presidente americano. Anteriormente, o líder francês havia afirmado, à margem da cúpula, que os americanos haviam feito uma "oferta (...) de um encontro e negociação" aos iranianos, acrescentando: "Se os Estados Unidos conseguirem um cessar-fogo, isso é algo muito bom." De volta a Washington na terça-feira, Trump pareceu endurecer o tom, pedindo a "rendição incondicional" do Irã. Macron alertou que qualquer tentativa de "mudança de regime" no Irã por meio de guerra levaria ao "caos" no país. Muitos líderes presentes esperavam aproveitar a cúpula do G7 para neutralizar a ofensiva comercial de Donald Trump, que impôs tarifas de pelo menos 10% sobre a maioria dos produtos importados pelos Estados Unidos, ameaçando aumentar ainda mais esses níveis, desestabilizando o mundo. Como de costume, no avião de volta para casa, Donald Trump não hesitou em fazer provocações aos líderes que acabara de deixar para trás. Ele lamentou que os europeus "não tenham proposto até agora um acordo justo" para amenizar a guerra comercial com os Estados Unidos, uma vez que a pausa anunciada das tarifas termina em 9 de julho. "Ou encontramos um bom acordo, ou eles pagarão o que dissermos", acrescentou o presidente americano.