Greve de taxistas em Angola termina em 22 mortes e mais de mil detenções após confrontos em Luanda
Luanda viveu três dias de forte tensão durante uma greve de taxistas que se transformou em uma onda de violência urbana com caráter político. O governo angolano confirmou a morte de 22 pessoas, incluindo um policial, além da detenção de 1.214 manifestantes nos protestos, que se espalharam por outras províncias como Benguela, Huambo, Huíla e Icolo e Bengo.
Luanda viveu três dias de forte tensão durante uma greve de taxistas que se transformou em uma onda de violência urbana com caráter político. O governo angolano confirmou a morte de 22 pessoas, incluindo um policial, além da detenção de 1.214 manifestantes nos protestos, que se espalharam por outras províncias como Benguela, Huambo, Huíla e Icolo e Bengo.
Francisco Paulo, da RFI
A paralisação, iniciada como reação ao aumento do preço dos combustíveis — que impacta diretamente o transporte público informal, especialmente os táxis coletivos conhecidos como "candongueiros" — rapidamente deu lugar a saques, confrontos com a polícia e atos de vandalismo.
Apesar da presença de forças de segurança nas ruas da capital, jovens continuaram a desafiar os agentes, bloqueando vias, saqueando lojas e incendiando veículos.
A onda de saques prossegue nesta quarta-feira (30), em várias áreas de Luanda, assim como nas províncias do Bengo e de Icolo e Bengo. Nos tumultos, há cidadãos que desafiam os disparos das forças de defesa e segurança.
Segundo relatos colhidos pela imprensa local, o aumento do custo de vida e a falta de resposta governamental acirraram o clima de revolta.
Gildo Matias, ouvido pela reportagem da RFI, afirmou que "quando sobe o combustível, os preços da cesta básica também sobem. Foi uma forma errada, mas foi a única maneira que encontramos para nos manifestarmos. A vida está muito difícil".
Vandalismo
Outro morador, Hugo Guimarães, testemunhou os confrontos no bairro Caop-B, em Viana. "Nem todos os que estavam na rua eram manifestantes. Alguns aproveitaram os protestos para invadir armazéns e saquear, dizendo que faziam parte da manifestação. Mas a polícia também agiu mal, porque não é correto disparar contra o povo", afirmou.
Em declaração oficial, o ministro do Interior de Angola, Manuel Homem, destacou que os atos de vandalismo colocaram em risco a segurança pública não apenas em Luanda, mas também em cidades do interior. Nas últimas 48 horas, além dos mortos e detidos, foram registrados 197 feridos.
"Nos últimos dois dias, registraram-se ações que configuram atos de vandalismo e que colocaram em risco a segurança pública da província de Luanda, com destaque também para as províncias do Huambo, Benguela e Huíla", afirmou.
O Ministério do Interior informou que as forças da ordem seguem mobilizadas para garantir a normalidade da vida social no país. No entanto, os eventos levantam questões sobre a resposta do Estado às demandas populares, a escalada da repressão e o papel da juventude na luta por condições básicas de vida.
O ativista Rafael Marques afirmou à agência Lusa que a única pessoa que parece ter cabeça para pensar no país é o Presidente, que, segundo ele, não sabe governar, é extremamente incompetente e se cercou de pessoas tão incompetentes quanto ele.
Ele acrescentou que "nada funciona no país" e que essa é a razão pela qual há atualmente "uma verdadeira crise de segurança pública em Luanda". De acordo com o ativista, atos básicos de vandalismo foram suficientes para isolar o centro da cidade e transformar áreas urbanas periféricas em zonas de desordem. Marques ainda considera que essa situação pode se agravar, pois agora as pessoas percebem as fragilidades do próprio regime.
O que começou como uma greve por preços justos pode facilmente se transformar em protesto contra mecanismos de exclusão, revelando uma realidade muitas vezes ignorada pela imprensa internacional.