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Acordo com Irã gera apreensão no Oriente Médio

14 jul 2015 - 13h11
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O acordo fechado entre o Irã e seis potências mundiais para limitar as atividades nucleares iranianas em troca da suspensão de sanções internacionais foi construído pouco a pouco ao longo dos últimos anos. Mas, em boa parte do Oriente Médio, não havia qualquer suspense quanto a seu resultado.

Acordo foi fechado após negociações iniciadas em 2006
Acordo foi fechado após negociações iniciadas em 2006
Foto: AFP

Países como Israel, Arábia Saudita e outros Estados da região já estavam resignados quanto ao fato do grupo de nações liderado pelos Estados Unidos estar determinado a firmar um compromisso e estar preparado para fazer concessões para isso.

Estes países veem com apreensão um acordo que pode fortalecer o Irã e sentem-se ameaçados com seus termos.

O primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu, considera o país um inimigo mortal e afirmou que o compromisso é um "erro histórico". Para Netanyahu, o acordo evidencia os perigos de se querer negociar a qualquer preço.

Os Estados sunitas do Golfo Pérsico veem no Irã um vizinho perigoso e agressivo e consideram que um acordo mais severo poderia ter sido fechado.

"Este acordo não é ruim apenas para Israel, mas também perigoso para o mundo livre", disse o ministro de Ciência e Tecnologia israelense Danny Danon. "Dar ao maior apoiador do terrorismo no mundo um passe livre para desenvolver armas nucleares é como dar fósforos a um piromaníaco."

Mais dinheiro e armas

Os rivais do Irã no Oriente Médio temem, por exemplo, que a suspensão de restrições a transações financeiras - que faziam parte do embargo internacional - darão ao país mais força econômica.

Isso significará que o Irã terá mais dinheiro - e armas - para fornecer aos grupos armados que financia na região, como as milícias xiitas no Iraque e o Hezbollah, a força militar libanesa que vem também dando apoio ao aliado iraniano na Síria, Bashar al-Assad.

Os conflitos em curso no Oriente Médio em locais como Iraque e Síria podem ser vistos como parte de um confronto crescente entre os seguidores de duas das principais tradições islâmicas - os sunitas e os xiitas.

Dar acesso a mais dinheiro e armas ao Irã pode intensificar estes conflitos, ao eventualmente reforçar a visão do Irã sobre si mesmo como um defensor de comunidades xiitas. Como consequência, os reinos sunitas do Golfo, liderados pelos sauditas, podem buscar responder de acordo.

Críticos do acordo temem que os negociadores liderados pelos americanos em Viena não tenham estado à altura das habilidades de negociação dos iranianos.

Há uma noção no Oriente Médio de que estes negociadores não tinham força suficiente porque estavam divididos.

Reabilitação internacional

Estes críticos dizem ainda que este acordo pode levar à reabilitação do Irã na comunidade internacional sem que ele tenha de comprometer sua autoimagem de um poder revisionista do Oriente Médio, um exportador de revoluções.

Os Estados Unidos podem estar cientes dos temores de seus aliados em Israel de que o Irã pode usar estes recursos financeiros extras para comprar armas mais sofisticadas para o Hezbollah.

Mas a China e a Rússia estão ansiosos para começar a exportar armas para o Irã novamente, vendo o país como um cliente valioso.

Os iranianos foram capazes de explorar estas diferenças entre os lados opostos da mesa de negociação.

Também há receios no Oriente Médio quanto à atitude de Barack Obama. Estaria o presidente americano em busca de um momento-chave para definir seu legado na política externa?

Reabilitar o Irã iria ao encontro deste objetivo, contanto que seja feito de forma segura, é claro.

Um diplomata sênior no Golfo disse-me o seguinte: "Temos de concordar que a busca por um legado não nos torna mais fortes".

Israel tem feito alarde quanto a esta questão, porque vê no Irã uma ameaça concreta - o país já ameaçou apagar os israelenses do mapa.

Ao fazer isso, Israel faz referência a meados dos anos 1990, quando negociadores liderados pelos Estados Unidos também pareciam confiantes por terem minado as ambições nucleares da Coreia do Norte.

Assim, Israel lembra que, apesar dos diplomatas que negociam agora em nome das potências globais acreditarem que tornaram o mundo um lugar mais seguro, eles podem estar equivocados novamente, assim como o governo Clinton estava quanto aos norte-coreanos.

Os inimigos dos iranianos ainda acreditam que o país está determinado a obter armas nucleares e que só aceitou adiar um pouco este objetivo, em troca de concessões de curto prazo.

Há o perigo de que a Arábia Saudita pense que o poderio nuclear de um Estado xiita, como o Irã, precise ser equiparado pelos Estados sunitas.

Isso faz com que o pesadelo de uma corrida às armas nucleares no Oriente Médio fique mais próximo de virar realidade.

E deixa aberta a questão de como Israel reagirá. Os israelenses já tem um aparato nuclear próprio, apesar de sua política de nunca reconhecer ou falar disso.

Preço a pagar

Israel tem muitos aliados nos Estados Unidos e, agora, pode tentar convencer os céticos no Congresso americano a minar as tentativas da Casa Branca de aprovar o acordo em Washington.

Esta estratégia pode vir a piorar as já deterioradas relações entre Obama e Netanyahu, mas o premiê israelense pode avaliar que este é um preço que vale a pena pagar neste momento.

E, no fim das contas, um acordo que Israel considera que pode consolidar a posição do Irã como um poder nuclear coloca de volta na mesa a questão de uma ação militar unilateral por parte dos israelenses.

Israel consideraria realizar ataques aéreos contra a infraestrutura nuclear do Irã?

O país pode argumentar que sua ameaça constante de fazer isso ajudou a criar a pressão que levou às negociações em Viena.

O assunto foi colocado de lado, mas não esquecido, nos últimos anos, enquanto foi dado tempo para que as sanções surtissem efeito e os debates na Áustria ganhassem força.

Mas uma fonte próxima à inteligência militar de Israel disse que o país ainda está comprometido com a ideia de que um Estado que prometeu destruir os israelenses não deveria ter acesso aos meios para concretizar tal ameaça.

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