Mesmo com salário de R$ 28 mil, juízes dizem estar insatisfeitos
Valor é sete vezes maior que dos demais funcionários do Judiciário federal, indica dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)
Apesar de receberem, em média, até sete vezes mais que demais funcionários do Judiciário federal, magistrados estão insatisfeitos com a remuneração. Para aproximadamente 74%, o salário que recebem não é suficiente para o trabalho exercido.
Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a remuneração dos servidores varia de R$ 4.124, salário inicial de auxiliares jurídicos, a R$ 19,8 mil, valor mais alto para analistas. Já entre os juízes, a média salarial é de R$ 28 mil. O levantamento dos dados é da Folha de S.Paulo.
A Associação dos Magistrados Brasileiros disse, em nota, que a categoria enfrenta forte desvalorização. Para a entidade, a falta de correção dos subsídios afeta a qualidade de vida dos magistrados e o acesso à Justiça só vai ser garantido com investimentos na prestação jurisdicional.
Além da maior média salarial, magistrados têm direito a duas férias por ano e recebem altos valores em benefícios, incluindo auxílios-moradia e adicionais por acúmulo de função, que são acrescidos à remuneração.
Como aponta a Folha de S.Paulo, em setembro, 226 juízes federais receberam acima do teto constitucional (R$ 41.650,92). Ainda segundo os dados do CNJ, 47% dos juízes estão insatisfeitos com a carreira, porém quase 88% não querem prestar concurso para outras áreas.
Em entrevista ao Estadão,
Fernando Fontainha, doutor em Ciência Política pela Université de Montpellier, na França, disse que "
não há país em que o juízes sejam remunerados como no Brasil". "
Estamos falando de pessoas que começam ganhando praticamente R$ 30 mil no seu primeiro salário. Há uma promessa de um prestígio social descomunal, desde a faculdade de Direito. Isso não é descolamento da realidade. É uma certeza aristocrática completamente incompatível com a vida republicana moderna."
A magistratura é composta principalmente por homens (60%) e brancos (82%). Apenas 15% dos juízes são negros.
Juliana Teixeira Esteves, professora da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco, afirmou em entrevista à Folha que "
a falta de representatividade afasta os magistrados da função de atender à população."
"
No passado, o acesso ao ensino superior teve problemas ligados a questões de raça e gênero. Por isso, a magistratura hoje não reflete o perfil da sociedade brasileira e perpetua estruturas prévias, muitas vezes preconceituosas. Alguns juízes reproduzem essas desigualdades", declarou.
*sob supervisão de Camila Godoi