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Indiana posta videos de estupro no YouTube para expor criminosos

23 jun 2015 - 10h17
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As indianas vêm usando a internet de maneira criativa para combater o que muitos chamam de a "cultura do estupro" que impera no país.

Sunitha Krishnan, que borra o rosto das vítimas ao editar a gravação, diz que três pessoas já foram presas após ela postar as gravações
Sunitha Krishnan, que borra o rosto das vítimas ao editar a gravação, diz que três pessoas já foram presas após ela postar as gravações
Foto: Divulgação/BBC Brasil

Uma nova iniciativa nesse sentido vem causando polêmica nas redes sociais.

A ativista Sunitha Krishnan está postando no YouTube vídeos de estupro que costumam ser compartilhados pelo WhatsApp.

"Eu assisti a um vídeo em fevereiro e fiquei totalmente chocada quando vi que era um vídeo autêntico de estupro. Era nauseante. Era uma garota bem nova sendo estuprada por cinco homens", conta Krishnan, que é fundadora da ONG Prajwala (que combate o tráfico sexual). Ela mesma é uma sobrevivente de um estupro coletivo, do qual foi vítima quando tinha 15 anos.

"Fiquei chocada em ver que esses homens estavam cientes que havia uma câmera, que eles estavam sendo filmados. Eles estavam rindo e se gabando."

Quem mostrou o vídeo à ativista foi um homem que participou de uma de suas palestras. Ele lhe contou que foi o próprio primo que compartilhou a gravação pelo aplicativo de mensagem WhatsApp.

Krishnan se deu conta então que esse era apenas um dos muitos vídeos circulando pelas redes sociais em uma subcultura chocante e pervertida, que parece ter muitos adeptos na Índia.

'Cultura do estupro'

Os vídeos muitas vezes são gravados e compartilhados pelos próprios estupradores que nem se incomodam em esconder seus rostos.

Ela editou o vídeo, borrando o rosto das vítimas e o postou no YouTube. "Para mim, chegou em um ponto que não dava mais."

Nas semanas seguintes, ela postou mais vídeos do tipo, que lhes foram enviados por pessoas de todo o país.

Mas muitos questionam agora se esse é um modo efetivo de combater a cultura do estupro na Índia.

Uma das preocupações levantadas é a de que mostrar o rosto dos homens antes de serem processados possa encorajar mais violência.

"O estuprador está usando esse meio (vídeo) para expor e constranger alguém e para exibir sua impunidade", disse a ativista à BBC. "Por que então eu devo me sensibilizar com as necessidades dele?"

Depois de postar os vídeos, Krishnan diz que ela os encaminha para as autoridades. Até agora, três pessoas foram presas.

Consentimento

Jasmeen Pantheja, que é integrante do grupo feminista online Blank Noise, diz que têm dúvidas sobre a questão do consentimento, já que as vítimas não são consultadas antes de o vídeo ser repostado.

"Eu não questiono a intenção (de Krishnan). Mas a abordagem é algo que não estou totalmente de acordo. Acredito que são próprias sobreviventes é que deveriam controlar suas próprias histórias", afirma Jasmenn.

A existência desses vídeos mostram que ainda há um longo caminho a ser percorrido na Índia para acabar com a cultura de aceitação dos estupros.

Mas segundo Jasmeen já houve uma grande mudança, com campanhas online e com a receptividade da mídia em casos como o de uma série que mostrou um beijo entre um casal de lésbicas.

Segundo ela, campanhas como essa de se postar o vídeo são mais radicais, mas "ainda são parte dessa mudança".

Tais campanhas ganharam mais atenção após o estupro em massa da jovem Jyoti Singh, em 2012, dentro de um ônibus em Nova Déli. O crime brutal alcançou repercussão mundial. A jovem, depois de dias hospitalizada, acabou morrendo.

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