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Guilherme Mazieiro

Opinião: Inelegível, Bolsonaro tirou a semana para passar vergonha no Congresso

Ex-presidente em atividade, Bolsonaro acumula derrotas, ainda que mantenha forças

10 nov 2023 - 15h45
(atualizado às 16h35)
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Foto: Reuters

Com menos de seis meses na função de presidente, em junho de 2019, Jair Bolsonaro (PL) fez mais uma daquelas falas sinceras em tom de piada de tiozão. Em entrevista ao SBT lembrou o que costumava falar durante a campanha de 2018, quando era deputado:

“Eu estava no meu gabinete há poucas semanas e chegou um cara para me visitar. Ele disse: ‘Lembra, durante a campanha, você me disse que, agora, estaria aqui [na Presidência] ou na praia?’. Falei: ‘Lembro, me dei mal, estou aqui’, disse.

É óbvio que ele deveria estar preocupado em trabalhar, já que se candidatou porque quis e venceu a eleição de 2018, mas já reclamava do trabalho. E a fala se repetiu outras vezes, como em junho de 2022. E o pouco trabalho também se repetiu.

Agora é diferente. Inelegível por duas decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro não voltará à Presidência nem se quiser, se deu mal de verdade. Resta-lhe a opção da praia, mas nesta semana, o capitão preferiu perambular pelos corredores do Senado e para surfar em dois assuntos quentes da semana. Não deu certo, tomou um caldo, caiu da onda.

Na quarta, 8, tentou atrapalhar a votação da reforma tributária que é tanto do governo quanto das lideranças do Congresso, perdeu. Ele se valeu da mesma estratégia quando o texto foi votado e aprovado na Câmara. Daquela vez teve até uma rusga filmada com o pupilo Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, que apoiou a reforma.

Na tentativa desta quarta saiu marcado com mais um fracasso. Esse registro está na foto de Wilton Júnior, do jornal Estadão. A foto flagrou uma troca de mensagens entre Bolsonaro e o senador Nelsinho Trad (PSD-MS). O ex-presidente escreveu: “Trad, você amanhã será decisivo para derrotarmos a reforma tributária”.

A resposta foi um textão em tom de chororô do senador justificando que foi atendido em um ponto da reforma e que por isso não poderia votar contra. E que “tenho sofrido com o senhor mesmo estando distante… esse povo não é nosso povo…tô triste e com atuação apagada”.

Ainda na quarta, o ex-presidente se reuniu com seus asseclas para ouvir o embaixador de Israel, Daniel Zonshine, em uma reunião pra lá de estranha, na Câmara. O encontro serviu para Israel mostrar imagens da guerra para tentar conquistar apoio na investida sangrenta contra o Hamas e os palestinos em Gaza. O que Bolsonaro fazia ali? 

O encontro até reverberou nas redes bolsonaristas, mas é uma vitória de Pirro, porque Bolsonaro pregou para convertidos. Bolsonaro tenta emplacar a versão de que ajudou na retirada de brasileiros de Gaza. Isso não faz nem sentido, cai quem quer.

O episódio gerou mal estar com o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o embaixador de Israel teve que se explicar para imprensa e depois soltar uma nota oficial para dizer que convidaram “parlamentares e apenas parlamentares. A presença do ex-presidente não foi coordenada pela Embaixada de Israel e não era de nosso conhecimento antes da reunião”.

O frenesi bolsonarista durou pouco. Logo em seguida, o governo Lula informou que tinham avançado as negociações para retirar da Faixa de Gaza os 34 brasileiros que vivem miseravelmente sob bombardeios de Israel. O próprio presidente deve receber os repatriados na Base Aérea assim que chegarem.

Bolsonaro patina também na missão de aumentar o número de filiados no PL. É bem verdade, como mostrou o Poder 360, que poucas pessoas se interessaram em entrar para partidos políticos nos últimos 12 meses, mesmo no PT, que é governo.

A bola da vez, as eleições municipais têm variáveis políticas próprias. O nome Lula ou Bolsonaro repercute de maneira marginal, e se muito, em algumas capitais onde a discussão costuma ser diversa e abordar muitos temas de uma vez só.

No Brasil, 4.914 municípios têm até 50 mil habitantes, isso representa 88% dos 5.568 municípios (não contando o Distrito Federal e o distrito de Fernando de Noronha). Nesse tipo de eleição costuma pesar mais a zeladoria, ruas limpas, alguma organização administrativa, grama cortada, ruas sem buracos, atendimento médico, merenda na escola. A vida real.

No Brasil real ainda existem sementes do bolsonarismo. O encanto e confiança que 58 milhões de pessoas tiveram ao votar em Bolsonaro parece não ter derretido. Ou aquele seu amigo que votou (apaixonado ou envergonhado) em Bolsonaro já mudou de ideia?

Bolsonaro está onde sempre esteve, na oposição. E segue sem saber fazer oposição, propor, obstruir, derrubar projetos e dar caminhos alternativos. Se limita a disparar livremente contra tudo que é vermelho ou contraria sua limitada percepção de mundo sobre questões históricas, científicas, econômicas e sociais

Passar vergonha, no entanto, nunca foi obstáculo para Bolsonaro se eleger presidente e cultivar seu eleitorado, muito pelo contrário.

Este texto foi publicado originalmente na newsletter semanal Peneira Política, assinada por Guilherme Mazieiro. Assine aqui, gratuitamente, e receba os próximos conteúdos

Fonte: Guilherme Mazieiro Guilherme Mazieiro é repórter e cobre política em Brasília (DF). Já trabalhou nas redações de O Estado de S. Paulo, EPTV/Globo Campinas, UOL e The Intercept Brasil. Formado em jornalismo na Puc-Campinas, com especialização em Gestão Pública e Governo na Unicamp. As opiniões do colunista não representam a visão do Terra. 
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