"Guerra tarifária vai começar quando eu der uma resposta", afirma Lula sobre Trump
Após encontro no Chile, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que o Brasil ainda não entrou em confronto comercial com os Estados Unidos, mas não descartou a possibilidade de retaliação. A reação do governo brasileiro, segundo ele, dependerá de medidas adotadas pela gestão norte-americana. A declaração ocorreu após o presidente retornar de uma cúpula em defesa da democracia, realizada no país vizinho.
"Guerra tarifária vai começar quando eu der uma resposta ao Trump, se ele não mudar de opinião. As condições que o Trump impôs não foram condições adequadas", disse o presidente, ao rebater a acusação do governo norte-americano sobre déficits na balança comercial entre os dois países.
Em tom de cautela, Lula afirmou estar "tranquilo" diante da tensão diplomática e elogiou o desempenho de seus auxiliares, como o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, e o chanceler Mauro Vieira, que têm conduzido interlocuções com os Estados Unidos.
Brasil deve responder?
De acordo com Lula, setores produtivos de ambos os países têm sido prejudicados e, por isso, cabe também aos empresários brasileiros dialogar com seus pares americanos. Em Brasília, Alckmin se reuniu com representantes de grandes empresas de tecnologia, as chamadas big techs, para tratar dos impactos das novas tarifas impostas por Donald Trump.
O encontro contou com a presença de executivos da Meta, Apple, Google e Visa, além de secretários do Ministério do Desenvolvimento, da vice-presidência e do Itamaraty. Segundo Alckmin, a convocação foi motivada pela inclusão de redes sociais nas investigações comerciais anunciadas pelos Estados Unidos, com base na Seção 301 — dispositivo que permite ações unilaterais de retaliação.
Questionado sobre a menção ao Pix, o vice-presidente descartou que o sistema tenha sido pauta do encontro. "O Pix é sucesso absoluto. Elas (as big techs) falaram que defendem Pix para todos", afirmou. Ele também negou que o governo brasileiro tenha discutido a tributação dessas empresas. "Não tocaram nesse assunto de taxação", pontuou.
Acordos em ritmo lento
Enquanto o Planalto busca manter o canal de diálogo aberto, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, declarou à emissora CNBC que o governo norte-americano não tem pressa para concluir os acordos antes de agosto — prazo em que entram em vigor as novas tarifas sobre produtos brasileiros.
"Não vamos nos apressar para fechar acordos", afirmou Bessent. Segundo ele, a prioridade de Trump é garantir acordos "de qualidade", mesmo que isso signifique esperar. Questionado sobre um possível adiamento das medidas em caso de avanço nas conversas, o secretário indicou que a decisão será do presidente. "Veremos o que o presidente quer fazer... Acredito que um nível tarifário mais alto pressionará ainda mais esses países a chegarem a acordos melhores", declarou.
Governo prepara alternativas
O governo brasileiro trabalha com cenários variados. De acordo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, há um "plano de contingência" pronto para tentar reduzir os efeitos das tarifas sobre os setores mais atingidos. Ele afirmou que, no longo prazo, parte significativa das exportações destinadas aos Estados Unidos poderá ser redirecionada para outros mercados.
Haddad também criticou a investigação aberta nos EUA sobre o possível impacto do Pix na economia americana. Considerou a ação infundada, alegando que o sistema de pagamentos brasileiro não interfere no comércio internacional. "Como que o Pix pode representar uma ameaça a um império?", questionou.