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Governadores criticam senador governista que exibiu vídeo de 2020 em que recomendavam cloroquina

Gestores estaduais hoje são contrários à recomendação do remédio como principal estratégia de prevenção ou tratamento da doença

20 mai 2021 - 19h46
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BRASÍLIA - Governadores reagiram nesta quinta-feira, 20, à afirmação de senadores aliados do presidente Jair Bolsonaro de que recomendaram a cloroquina contra o novo coronavírus. Durante sessão da CPI da Covid, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) exibiu vídeos em que Flávio Dino (Maranhão), Wellington Dias (Piauí), João Doria (São Paulo) e Helder Barbalho (Pará) dizem que o medicamento estaria disponível na rede pública de saúde dos seus Estados para tratar pacientes com a covid-19.

O chamado "tratamento precoce" com a cloroquina é uma das bandeiras do governo federal no combate à pandemia, mesmo comprovação científica da eficácia do medicamento contra a doença.

Os gestores estaduais hoje são contrários à recomendação do remédio como principal estratégia de prevenção ou tratamento da doença.

As gravações, segundo os governadores, são antigas, feitas nos primeiros meses da pandemia, no ano passado, quando ainda havia estudos em andamento sobre a possibilidade de o medicamento funcionar contra o novo coronavírus. Nenhum deles, porém, apontou a eficácia da cloroquina.

Questionado pelo Estadão, Barbalho, do Pará, negou nesta quinta-feira, 20, que seja favorável ao uso da cloroquina por pacientes com covid.

"No início da pandemia, quando não se tinha informação sobre a doença e não havia estudos concretos, o Estado disponibilizou todos os remédios e condições para que os médicos decidissem qual deveria ser o tratamento. Logo que a comunidade médica internacional decidiu que não tinha validade, o governo do Pará suspendeu qualquer tipo de distribuição para o tratamento da Covid", afirmou.

O vídeo divulgado por Marcos Rogério, que também foi compartilhado nas redes sociais do senador, são do início de 2020. Mais recentemente, a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) concluiu que o medicamento não é eficaz contra o novo coronavírus. Além da falta de eficácia, a substância pode acarretar em efeitos colaterais adversos, como arritmia cardíaca.

Ao Estadão, o governador Flávio Dino destacou que o vídeo em que aparece foi gravado há mais de um ano, em abril de 2020.

"Em maio de 2020, a secretaria de Saúde emitiu documento dizendo claramente que cloroquina não era recomendada. E jamais orientei uso de remédio. Atitude bem diferente de Bolsonaro. Ou seja, o vídeo serve para provar, mais uma vez, que Bolsonaro é um irresponsável. O único governante do planeta que resolveu empurrar remédio na população", afirmou Dino.

A estratégia de jogar o foco da CPI nos governos locais tem sido usado por aliados do Palácio do Planalto para tentar evitar questionamentos sobre a atuação do governo federal na pandemia. A intervenção de Marcos Rogério aconteceu após o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, que presta depoimento nesta quinta-feira, ser pressionado a explicar qual foi a participação do Ministério da Saúde na crise que levou ao colapso na rede de saúde de Manaus, no início do ano, quando pacientes morreram asfixiados pelo esgotamento de oxigênio medicinal em hospitais.

O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) auxiliou Rogério no questionamento a respeito dos governadores. O filho mais velho do presidente não é titular ou suplente da CPI, mas tem participado das sessões para defender a gestão do pai.

A ação do senador do DEM provocou tumulto na CPI, principalmente por parte da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), aliada do governador Flávio Dino (PCdoB-MA). O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), teve que determinar a suspensão da reunião por dez minutos para acalmar os ânimos.

"Não mostrei isso aqui para condenar governador, mostrei isso aqui para escancarar a falta de bom senso e até de vergonha daqueles que tentam criminalizar o presidente a esse mesmo tempo quando os seus próprios governadores fizeram a mesma coisa e fizeram de forma acertada", disse Marcos Rogério durante a sessão, sem mencionar que os vídeos apresentados eram antigos.

Estadão
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