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Aplaudido, Bolsonaro critica cotas para negros e mídia

Para empresários, presidenciável fez discurso com suas ideias econômicas e atacou a legislação ambiental, o Congresso, a mídia e a esquerda

4 jul 2018 - 15h00
(atualizado às 15h32)
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Em evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o pré-candidato do PSL ao Planalto, Jair Bolsonaro, arrancou aplausos, na manhã desta quarta-feira (4) ao atacar a política de cotas para negros, a legislação ambiental e indigenista, o Congresso, o governo, o Supremo, a esquerda e a imprensa.

Pré-candidato do PSL à Presidência da República, deputado Jair Bolsonaro, participa de evento na CNI
04/07/2018
REUTERS/Adriano Machado
Pré-candidato do PSL à Presidência da República, deputado Jair Bolsonaro, participa de evento na CNI 04/07/2018 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Adriano Machado / Reuters

À plateia formada por empresários, ele disse que, se eleito, pretende melhorar a economia com a retomada de diretrizes do "Brasil Grande", como ficou conhecida a fase dos megaprojetos de infraestrutura da ditadura militar que antecederam, porém, ao período de recessão, aumento da dívida externa e dos dramas ambientais e sociais. "Não faremos nada da nossa cabeça. Os senhores que estão na ponta das empresas serão os nossos patrões", afirmou.

Ele disse que gostaria de convidar os empresários a fazerem uma visita a Mato Grosso do Sul para buscar "soluções" aos problemas agrários. É no Estado que ocorrem graves conflitos de terra e altos índices de suicídios e assassinatos de índios guaranis caiovás. Foi aplaudido. Assim como foi aplaudido ao reclamar que o Ibama leva "dez anos" para conceder uma licença a uma pequena hidrelétrica. "Ninguém quer o mal para o meio ambiente", ponderou.

Bolsonaro avaliou, por exemplo, que terá apoio popular se "redimensionar" a política de direitos humanos. "Se redimensionarmos a política de direitos humanos, não vamos ganhar a população? Não custa nada." Mais tranquilo após os primeiros aplausos e risos do público, Bolsonaro afirmou que o Supremo Tribunal Federal tem legislado no lugar da Câmara e do Senado e que, se a situação permanecer, o País ficará "ingovernável".

Em seguida, ele mirou no Congresso. O ex-capitão do Exército disse que o parlamento era mais valorizado pela sociedade e que, atualmente, é dominado por "grandes interesses". "No período militar, o deputado era gente. Hoje, temos operadores", avaliou. A propósito, a ditadura impôs, já em 1964, ano do golpe contra o presidente João Goulart, uma rígida política de cassações de mandatos e retaliações a parlamentares oposicionistas.

Sem citar o presidente Michel Temer e o MDB, Bolsonaro perguntou aos empresários se eles sabiam como estava a situação do Porto de Santos. "Está na mão de qual partido? Vamos quebrar esse negócio, acabar com isso que está lá", disse. Em discursos anteriores, ele acusou o presidente e a legenda de apadrinharem o porto.

Bolsonaro foi aplaudido até quando disse não saber responder a uma pergunta sobre como tratar o Senai. Ele disse que estava aberto a sugestões sobre o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. "Quero sugestões, não quero passar aquilo que não domino."

O pré-candidato encontrou a fórmula para provocar risos e ganhar de vez aplausos da plateia: ataques à ex-presidente Dilma Rousseff e à esquerda latino-americana. Fez ataques ao Mercosul do tempo "bolivariano" e até ao educador Paulo Freire. "Tem três partidos que não quero conversar num eventual governo", disse, referindo-se a legendas de esquerda. "Eu não quero colocar um busto do Che Guevara no Planalto", disse. "Um presidente deve chegar lá e nomear seu time. Vou botar alguns generais em alguns ministérios. Os (governos) anteriores não colocaram terroristas e corruptos?", perguntou. A plateia aumentou as palmas.

Nos momentos em que falou de assuntos de interesse direto da indústria, Bolsonaro reafirmou que defende uma reforma previdenciária em partes, mudanças na legislação trabalhista e desoneração de alguns setores, sem dar detalhes. O déficit da Previdência foi o tema escolhido pelo público para que o pré-candidato se pronunciasse.

O pré-candidato, então, afirmou que o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, também na disputa presidencial, errou ao propor uma reforma em que a idade mínima de aposentadoria dos homens seria de 65 anos. "Isso assustou, pois no Piauí a média de vida é 69 anos", disse. Ele, porém, criticou propostas para mudar a previdência dos militares, seu setor de origem. E disse que estava atento à esquerda, que "tira proveito enorme" desse debate. "A conotação que a esquerda dá acaba com qualquer esperança de mudar o Brasil por vias democráticas, o que tem que ser."

Ele relatou que, em conversas com a equipe do economista de Paulo Guedes, seu principal conselheiro na área, ouviu que é possível mudar a situação orçamentária do governo sem aumentar tributos. "Dá para manter a inflação, diminuir a taxa de juros, um dólar que não atrapalhe quem quer importar e reduzir essa monstruosa dívida interna sem aumentar os impostos? Dá sim", disse. "Precisamos fazer novamente o Brasil Grande."

Críticas à imprensa

Bolsonaro também queixou-se da cobertura jornalística de sua pré-candidatura e disse que as empresas de comunicação tratam mal os setores da iniciativa privada. "A grande mídia tem que parar de olhar os senhores como bandidos, assim como os agricultores rurais", afirmou.

Logo depois, numa entrevista coletiva, Bolsonaro atacou diretamente o Grupo Globo. O ataque ocorreu no momento em que informou que pretende ir aos debates promovidos pelas emissoras de televisão. "Vou a todos os debates. Quero ir especialmente ao último, que vai ser o da Rede Globo, que tem uma importância grande, com suas novelas, importante para a educação", disse em tom de ironia. Em seguida, complementou: "Eles precisam do governo. Ninguém quer perseguir empresário".

Ao minimizar a possibilidade de não conseguir fazer coligações para garantir espaço no horário eleitoral, Bolsonaro disse que "o povo brasileiro tem uma mídia própria". "Ele sabe fazer seu filtro." O pré-candidato disse que, hoje, tem o apoio de 110 deputados, mas que muitos não tornam pública a aliança para evitar retaliações de lideranças partidárias.

Estadão
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