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Clarissa Garotinho: “sonho em ser prefeita do Rio"

A deputada federal mais votada do Brasil concedeu entrevista exclusiva ao Terra na qual revela seu sonho de exercer um cargo executivo, diz estar solteira e confessa ser workaholic. “Tenho que estar com uma pessoa que tenha muita compreensão”, afirma

28 out 2014 - 12h19
(atualizado às 12h48)
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<p>Clarissa Garotinho, deputada federal mais votada do Brasil</p>
Clarissa Garotinho, deputada federal mais votada do Brasil
Foto: Terra

A câmera está posicionada para a cadeira separada exclusivamente para a entrevistada no escritório do Terra no centro do Rio. O fundo é branco, e, como uma boa diretora, ela logo sugere. “Gente, estou de branco, vamos trocar o fundo, pode?”. Assim é Clarissa Garotinho, a mulher e deputada federal mais votada do Brasil (335.061 votos), pelo Rio de Janeiro, e que, aos poucos, torna-se a nova representante do clã Garotinho-PR na política fluminense. Ela sabe de sua importância atual dentro do atual cenário político, de sua ascensão e, claro, da sua imagem.

Depois que aos 26 anos se elegeu vereadora pelo Rio, posteriormente deputada estadual e agora galgará passos em Brasília dentro da bancada de 34 deputados eleitos pelo PR, ela não só se firma como a renovação da política imposta por seus pais (Anthony e Rosinha), como trilha o próprio caminho rumo a realizar um sonho. “Eu sempre sonhei em ser prefeita do Rio de Janeiro”, confessa, sem reafirmar com todas as letras se estará no páreo em 2016 – provavelmente ao lado de Marcelo Freixo (Psol), Romário (PSB) e Pedro Paulo (PMDB), um dos nomes prováveis a ser indicados por Eduardo Paes.

“O que existe de melhor é você efetivamente realizar as coisas que você acredita, tirar os projetos do papel. É poder de maneira concreta mudar a vida das pessoas. Por isso eu sonho, sim, em um dia estar no executivo”, revela ao Terra a deputada federal que, há dois anos, confessa, cometeu o que considerou um equívoco de estar na chapa de Rodrigo Maia (DEM) como candidata a vice-prefeita.

“Eu queria muito ter disputado a última eleição. E queria muito ter disputado a eleição porque eu fui planejando isso. Fui vereadora, deputada estadual, e sabia que aquela eleição era muito difícil, mas nem toda eleição você disputa para ganhar. Você disputa para se colocar”, explica, meio que já desenhando o seu próximo objetivo eleitoral no próximo pleito, em 2016.

Nesta entrevista exclusiva, Clarissa Garotinho conta sobre como imagina que será a sua vida agora passando três dias por semana em Brasília e comenta os seus principais projetos pelos quais brigará no Congresso Nacional. Workholic confessa, diz que hoje mora com irmã num apartamento no bairro do Flamengo, que gosta de cozinhar receitas da internet e que, no momento, está solteira, aos 32 anos.

“Eu tenho que estar com uma pessoa que tenha muita compreensão de que minha vida política não é tão simples”, avisa ela, que sonha em ter, pelo menos, três filhos. “Mas é claro que num relacionamento todo mundo tem que ceder”, complementa. Confira abaixo os principais trechos da entrevista com a deputada federal eleita Clarissa Garotinho (PR).

Você foi a segunda deputada federal mais votada do Rio de Janeiro com 335 mil votos. A que se deve essa votação expressiva?

Evidente que fico muito feliz com a votação que eu tive. Fui a segunda deputada mais votada do Rio e a mulher mais votada para deputada federal em todo o Brasil. Acho que alguns fatores explicam. O primeiro, evidente, é que o Garotinho disputava uma eleição para o governo do Estado, e o eleitor que tinha uma identificação com muito forte com ele, também tinha comigo. Segundo é que eu já tenho uma atuação parlamentar, na Câmara dos Vereadores e na Assembleia Legislativa (Alerj). Então, as pessoas puderam já conhecer a Clarissa como política. E acho que isso contribuiu muito. Procurei fazer um mandato muito participativo. Eu criei um conselho popular que permitia ouvir a opinião das pessoas antes das votações, para que as pessoas participassem. É isso que as pessoas buscam. Defendi aquilo que achava que era certo, nunca me envergonhei de nenhuma votação, sempre votei naquilo que eu acreditava que era justo para a população. E acho que as pessoas viram isso.

Como você imagina que vai ser a sua vida política em Brasília?

Esse mandato vai ser bem diferente, porque a dinâmica política em Brasília é totalmente diferente. Nosso partido elegeu 34 deputados federais, é a sexta bancada do Congresso. Lá tem voto de lideranças, presidência de comissões, e tudo isso acaba influenciando muito o mandato parlamentar. São mais de 500 deputados, é diferente de quando você está no meio de 70 deputados e 50 vereadores. Então, eu acho que o primeiro passo é conhecer os demais deputados, o que pensa essa bancada que se elegeu nova, estruturar uma liderança, definir quem serão os representantes nas comissões e como vai ser nossa atuação no plenário. Um novo desafio, mas eu estou preparada e animada. Eu gosto do que eu faço. Fui vereadora, deputada estadual e estou satisfeita com os mandatos que eu desempenhei.

Clarissa Garotinho: “sonho em ser prefeita do Rio"
Clarissa Garotinho: “sonho em ser prefeita do Rio"
Foto: Terra

Qual será o primeiro projeto a ser apresentado pela deputada federal Clarissa Garotinho?

Olha, eu já elaborei uns 10 projetos. Mas tem as bandeiras tradicionais da campanha. Estou propondo uma revisão no estatuto do idoso, estou propondo a lei nacional do primeiro emprego, a exemplo do que eu fiz no Estado do Rio de Janeiro. Temos que defender os aposentados e reabrir esse debate. Não é possível que uma pessoa que passou a vida inteira trabalhando, contribuindo com o seu salário, receba menos do que contribuiu a vida toda. É um debate que precisamos tratar. Há questões na área de educação também, de que a criança, quando nasça já esteja matriculada. Isso acontece em outros países no mundo, e estou estudando esse projeto de relevante alcance social. Além de temas muito importantes para o estado do Rio de Janeiro, como os royalties do petróleo que hoje está no Supremo Tribunal Federal (STF).

Precisamos continuar com essa luta por algo que é extremamente importante para o Estado. Precisamos discutir a questão da água também. Entendemos a crise que São Paulo vive, e não queremos nenhum brasileiro sem água, mas São Paulo não pode resolver o problema deles criando um problema para o Rio de Janeiro. Eles têm nove outras alternativas, mas querem resolve desviando o curso do rio Paraíba do Sul. Isso vai criar um sério problema, já que um terço dos municípios dependem desssa água. Esse é um debate fundamental que temos que travar no Congresso Nacional.

O fato do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB), inimigo político de vocês, já estar sendo cotado para a presidência da Câmara será um problema logo de início a ser enfrentado na sua visão?

A única certeza que eu já tenho sobre o meu mandato como deputada federal é que em nenhuma hipótese eu vou votar em Eduardo Cunha para presidente da Câmara. E acho que é lamentável e temerário para o Brasil se a gente tiver um presidente como Eduardo Cunha. É um homem inteligente, que conhece muito da vida do Congresso, mas que não mede esforços para alcançar o poder. Eu assisti a uma série que se chama House of Cards, e lá tem um personagem chamado Under Wood. Para mim, o Eduardo Cunha é o Under Wood da política brasileira. Então, eu acho muito ruim para o Brasil e para o Congresso ter Eduardo Cunha como presidente. Meu voto será contrário. Não conversei com ninguém da minha bancada, não sei como o PR nacional vai se posicionar caso ele efetivamente seja candidato, mas independentemente da posição do meu partido eu não acompanharei. 

As eleições do Rio de Janeiro mostraram algo paradoxal nas urnas este ano. O deputado federal com mais votos foi o Jair Bolsonaro (PP), totalmente de direita. Enquanto que o deputado estadual campeão de votos foi o Marcelo Freixo, de esquerda. Você já parou para pensar nesse cenário paradoxal? Que análise você faz?

Numa eleição proporcional você tem espaço para que todas as correntes políticas e de opinião tenham a sua votação expressiva. O Bolsonaro representou um grupo que tem um determinado pensamento. O deputado Marcelo Freixo representa um outro grupo, e numa eleição proporcional fica muito claro que as pessoas possam fazer suas escolhas. Acho que a política hoje está muito sem identidade. Muito sem bandeira clara. Aqueles que têm as suas bandeiras e convicções claros tendem a ter uma votação bem expressiva. O Bolsonaro deixou muito claro para a sociedade o que ele defende. E aqueles que se identificaram, votaram nele. O Marcelo Freixo, o mesmo. Então, eu acho que, embora tenha sido uma votação extremamente complexa do ponto de vista ideológico, eu acho que é natural isso porque ambos firmaram suas posições.

Há dois anos, você aliou ao Rodrigo Maia e foi vice na chapa dele, com os Democratas, para a Prefeitura do Rio de Janeiro. Você considerou esta aliança um erro para a sua trajetória?

Sim. Eu queria muito ter disputado a última eleição. E queria muito ter disputado a eleição porque eu fui planejando isso. Fui vereadora, deputada estadual, e sabia que aquela eleição era muito difícil, mas nem toda eleição você disputa para ganhar. Você disputa para se colocar, para que as pessoas conheçam suas ideias e percebam o que você pensa para quebrar determinados preconceitos.

Isso não foi possível porque o partido fez um acordo no Estado com os Democratas, que lançou o Rodrigo Maia, e eles fizeram uma imposição de que eu fosse a vice. Eu resisti durante muito tempo, eu não queria, mas no final fizemos uma aliança programática. Fiz questão de que todos os pontos em que eu era contra saíssem do programa de governo, e colocamos pessoas nossas. Acabei aceitando esse desafio. Quando digo que me arrependi, é porque eles não foram corretos com a gente, como nós fomos corretos com eles. Quando você se engaja num projeto, tem que ser de coração. Tudo o que eu faço eu tenho que acreditar no que eu estou defendendo. O que eu tive depois foi uma decepção. A contrapartida não existiu. Foi um equívoco, mas também não sou dessas pessoas de ficar olhando para trás. Eu olho para frente. Foi um aprendizado.

Olhar para a frente quer dizer que daqui a dois anos você sairá como candidata a prefeita do Rio de Janeiro?

Risos. Olha, é uma pergunta difícil, acabamos de sair de um processo eleitoral. É evidente que minha votação me credencia para isso. Mas eu acho que não é quantidade de votos que alguém tem que deve ser levado em consideração. Para o nosso partido é um momento de reestruturação política. Portanto, só vou fazer essa reflexão política mais para frente.

Vou refazer a pergunta então: você já sonhou ser prefeita do Rio? Ainda sonha?

Já sonhei várias vezes. Meu sonho na política é ser prefeita do Rio. Na verdade, eu gosto muito do parlamento, gostei muito de ser vereadora, porque é quando você está mais próximo do problema das pessoas. Acho também que cumpri meu papel como deputada, com uma experiência diferente estando junto com deputados que já foram prefeitos, por exemplo. Da mesma forma agora em Brasília podendo contribuir para o meu Estado. Vou aprender muito com gente de muita bagagem política. Mas! Meu sonho mesmo é estar no executivo.

Porque as pessoas confundem muito qual o papel do legislativo, e do executivo. Não tem nada mais difícil para um político, quando chega numa comunidade carente, que não tem saneamento básico,  e as pessoas te pedem melhorias, você fica de mãos atadas. Porque quem pode fazer isso é poder executivo. Como vereadora, e deputada eu não podia fazer. O que existe de melhor é você efetivamente realizar as coisas que você acredita, tirar os projetos do papel. É poder de maneira concreta mudar a vida das pessoas. Por isso eu sonho, sim, em um dia estar no executivo.

Clarissa Garotinho: “sonho em ser prefeita do Rio"
Clarissa Garotinho: “sonho em ser prefeita do Rio"
Foto: Terra

Já que estamos falando do executivo, como você analisa a administração do prefeito Eduardo Paes nestes últimos seis anos?

Não tem a menor dúvida de que o Eduardo Paes é um prefeito trabalhador. Agora não concordo com tudo o que ele faz. A revitalização da região portuária era perfeitamente possível sem a derrubada do elevado da Perimetral. Governar é estabelecer prioridades. Você não tem recursos para tudo. É preciso saber onde gastar. E pensar que só essa demolição custou as cofres mais de R$ 1 bilhão, acho que tínhamos outras prioridades. O prefeito Eduardo Paes perdeu uma grande oportunidade para o Rio. Com a Copa e os Jogos Olímpicos em breve, a cidade do Rio recebeu muitos recursos e investimentos. E o legado que está ficando para a cidade é muito pequeno. Para quem vive aqui, no que diz respeito a mobilidade urbana, eu acho que foi um grande equívoco o que o Paes fez ao priorizar o sistema de ônibus.

É o BRT da Barra, na avenida Brasil, na zona norte, e quando você vai vendo é tudo ônibus. As pessoas que têm carro não deixam ele em casa para andar de ônibus. Na Barra, ninguém deixou o carro e perdemos pista. Por outro lado, temos um ônibus de alta velocidade, mas o tempo que a pessoa ganha hoje, ela perde na estação. No terminal Alvorada, seis horas da tarde, ou cinco da manhã em Santa Cruz, o tempo que se perde não compensa. BRT foi adotado em Curitiba muitos anos atrás com uma realidade e população muito diferentes da nossa. A solução para o Rio é investir em metrô de superfície, aeromóvel, mono rail, e outras alternativas, que realmente é transporte de massa e qualidade. Hoje a gente vê pessoas sendo socadas para dentro para a porta do BRT ser fechada. O prefeito Eduardo Paes perdeu a chance de fazer essa transformação.

Com todo respeito, mas você, como uma mulher bonita, dentro de um ambiente político majoritariamente masculino, já sofreu assédio? Já levou alguma cantada?

Não é tão simples ser uma parlamentar mulher e jovem no meio de um ambiente que ainda é predominantemente masculino. Mas eu acho que o respeito é você quem impõe. E eu nunca tive problemas na minha relação política ou pessoal com os parlamentares. Não vou dizer que nunca tenha ouvido piada, mas é isso, você tem que se impor. Nunca teve nenhuma cantada barata.

O que a Clarissa Garotinho faz fora da política para se divertir?

Eu sou política, mas sou uma pessoa normal. Eu sou mulher, ainda sou jovem, gosto de ir ao cinema, teatro e karokê. Adoro karaokê.

O que você canta num karaokê?

Qualquer coisa, desde um sertanejo, MPB, eu gosto de cantar. É uma diversão que eu tenho. Gosto de ficar em casa vendo filme e comendo pipoca também. Gosto de sentar para bater papo com os amigos. Coisas normais de uma pessoa da minha idade.

Lembro de uma vez ter vista uma foto sua no Facebook varrendo sua casa. A Clarissa Garotinho é uma mulher que cuida dos afazeres de casa ou foi mais uma foto, digamos, pelo marketing?

Não, é porque nesse ano eu passei o réveillon com minha família numa casa de praia com vários amigos que a gente alugou numa praia de Campos. E aí, dia seguinte, quando a gente acordou, a casa estava uma bagunça. Minha mãe é prefeita, então você imagina o entra e sai de gente. Lá em casa somos muito irmãos, somos em nove filhos, então a gente se reuniu para limpar a casa. E eu fui varrer. Cada um fazendo uma coisa. E minha irmã bateu uma foto minha varrendo, eu achei a foto engraçada e postei. Nem tudo é só festa, tem que arrumar no dia seguinte. Aquela foto deu o que falou. Isso é curioso, porque as pessoas querem saber do nosso dia a dia, da nossa rotina, da nossa vida, e não me incomodo em compartilhar esses momentos com meus seguidores. Tenho mais de 130 mil seguidores no Facebook. As redes sociais estão aí para isso.

Mas você cuida da casa? Gosta de cozinhar?

Tenho uma irmã mais nova que mora comigo, tem 28 anos. A gente mora junto. Meu pai fica alguns dias da semana no Rio, final de semana ele fica em Campos. Ele fica se dividindo entre Rio, Campos e Brasília. Mas olha, na cozinha, eu sou uma negação. Eu gosto de pegar receita na internet e ir seguindo. Não sei fazer feijão, por exemplo. O arroz eu sei fazer. Eu gosto de fazer receitas diferentes. Gosto muito de temperar a comida.

Você está namorando, pensa em ter filhos? A vida política, assumindo cada vez mais desafios, atrapalha sua vida pessoal?

Bom, no momento eu estou solteira. Mas pretendo casar, evidente, quero muito construir uma família, que é uma das coisas mais importantes na vida das pessoas. E eu tenho uma família enorme. Sou uma pessoa extremamente família, gosto muito de passar tempo com meus irmãos, meus pais. E quero ter filhos, adoro crianças. Quero ter uns três filhos. Mas não é tão fácil conciliar isso com a vida pública. Isso faz parte, e evidente que eu jamais vou abrir mão da minha vida pessoal por conta de qualquer questão política. Não vale a pena. Mas também eu tenho que estar com uma pessoa que tenha muita compreensão de que minha vida política não é tão simples. A gente não tem hora certa para entrar no trabalho, sem hora para sair.

Às vezes a gente tem muita atividade no final de semana, tem reunião à noite, viagens, eu vou ter uma rotina que eu vou passar três dias por semana em Brasília, então, quando você tem que encontrar uma pessoa com a qual você se apaixone e compreende os seus ideias de vida. Como tudo na vida, você tem que ceder também um pouco. Eu sou meio workaholic, gosto muito de trabalhar, minha equipe até reclama um pouco disso, mas é evidente que quando a gente tem outras preocupações na vida, a gente vai organizando o tempo e em qualquer tipo de relacionamento você tem que ceder. 

Fonte: Terra
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