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Lula atribui assassinato de petista ao 'genocida Bolsonaro' e diz que PT cuidará da família atingida

Em Taboão da Serra, ex-presidente citou crime ocorrido em Mato Grosso, onde eleitor de Bolsonaro matou apoiador de sua candidatura a facadas

10 set 2022 - 13h07
(atualizado em 11/9/2022 às 14h06)
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Candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva citou a morte de Benedito Cardoso dos Santos, de 44 anos, assassinado por um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) em Confresa (MT) na quarta-feira, 7, responsabilizando seu rival na disputa. "Se ele (dos Santos) tem mulher e tem filho, o PT tem obrigação de saber todas as coisas para ajudar essa família que foi vítima do genocida chamado Bolsonaro", afirmou durante comício em Taboão da Serra, na Grande São Paulo.

O ex-presidente disse que tentou localizar a família da vítima em Mato Grosso e não conseguiu, então acionou o senador Paulo Rocha (PT) para ajudar na tarefa.

Lula em Taboão da Serra, no dia 10 de setembro, acompanhado por Fernando Haddad, Márcio França e Geraldo Alckmin. Foto: João Scheller/Estadão

O comício ocorreu no começo da tarde deste sábado,10, e contou com a participação de Fernando Haddad, candidato petista ao governo de São Paulo, e Márcio França (PSB), candidato ao Senado Federal, além do candidato a vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB).

Após a repercussão negativa das declarações que deu comparando o público que compareceu aos atos de apoio a Bolsonaro no Sete de Setembro ao grupo supremacista branco Ku Klux Kan, Lula repetiu a tese, mas voltou a "calibrar" a comparação, dizendo que se referia às pessoas no caminhão usado como palanque pelo presidente. Segundo o petista, Bolsonaro "tentou usurpar" a festa de 7 de Setembro para fazer um "ato político". Ele ainda ironizou o coro de "imbrochável" puxado pelo chefe do Executivo durante o evento. "Ninguém quer saber se ele é brocha ou não é brocha. Não é problema nosso. A gente quer saber se vai ter emprego, se vai ter salário, se vai ter educação", disse Lula.

"Agora (Bolsonaro) tá me processando porque eu disse que no caminhão dele estava a supremacia branca, não tinha negro, e eu pensei que era quase a Ku Klux Klan", comentou, dizendo que é "essa gente" que não gosta de pessoas pobres, negras, indígenas e outros marginalizados.

Em seu discurso, Lula lamentou o assassinato de um petista em Mato Grosso e prometeu o fim dos sigilos de 100 anos do rival Jair Bolsonaro. Foto: Carla Carniel/Reuters

Apesar de ver a vantagem sobre o rival nas pesquisas diminuir nas últimas semanas, Lula mantém margem de dois dígitos, confirmada na noite desta sexta-feira, 9, pelos resultados do Datafolha. O levantamento marcou 45% para o petista e 34% para o candidato à reeleição. "Vocês podem ter certeza que o Bolsonaro não dormiu ontem", disse. "Não existe em nenhum momento na história do Brasil um presidente da República que gastou tanto dinheiro para se reeleger presidente, e não vai se eleger", acrescentou o petista.

Agregador de Pesquisas do Estadão

Imóveis em dinheiro vivo

Lula voltou a prometer acabar com o sigilo de 100 anos em seus primeiros dias de governo para investigar os possíveis crimes de Bolsonaro. "Toda minha família quando foi denunciada, a gente permitiu investigar, porque quem não deve não teme", disse o ex-presidente, que chegou a ter quatro de seus cinco filhos envolvidos em investigações.

O petista ainda questionou a compra de imóveis em dinheiro vivo pela família do presidente. "Eu quero que (a polícia) vá na casa de Bolsonaro para ele explicar como ele comprou aquela quantidade de casas em dinheiro", disse Lula. "Eu nem tô dizendo que ele fez maldade. Só quero que ele explique como alguém consegue pagar à vista 26 milhões para esses imóveis", acrescentou.

Novos ministérios e exportações

Lula mencionou que planeja a criação de novos ministérios durante seu governo, dos povos originários, da mulher, da igualdade racial, da pesca e da cultura. O candidato também afirmou que planeja uma revisão da política de exportação de carnes brasileiras.

"Nos vamos ter que discutir o preço da carne nesse país. Se vamos continuar só exportando ou se vai deixar um pouco para nós comermos", afirmou.

Alckmin diz que Bolsonaro é 'incivilizatório'

Ao lado de Lula em Taboão da Serra, Geraldo Alckmin engrossou o coro de críticas ao presidente. O ex-tucano disse que, sob a gestão bolsonarista, o Brasil "andou para trás".

"Bolsonaro é 'incivilizatório', o Brasil deu marcha à ré, o Brasil andou para trás. Andou para trás na democracia, um presidente que tem saudade da ditadura, saudade da tortura, não pode pedir voto do povo", disse Alckmin.

Alckmin classificou Bolsonaro como um "promotor de armas" e, na mesma linha do discurso anterior, feito por Fernando Haddad, candidato do PT ao governo do Estado de São Paulo, o ex-governador reforçou a importância da vitória no primeiro turno.

Haddad também mencionou o assassinato do militante no Mato Grosso e culpou o discurso bolsonarista pelo ocorrido. "Essa semana temos outra vítima do assassinato que Bolsonaro promove no país", afirmou.

Violência política assusta militância

Recentes casos de violência política tem causado receito na militância petista. O assassinato do apoiador de Lula em Mato Grosso e a ameaça sofrida pelo candidato a deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) são exemplos disso.

Questionado pelo Estadão na saída do evento se a retórica petista contribuía para o aumento da tensão política, o ex-senador e candidato a deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP) disse que sempre priorizou mencionar ações da própria candidatura durante a campanha e culpou Bolsonaro pelo estímulo à violência. "Durante toda a minha vida política, sempre coloquei os aspectos positivos do que vamos fazer. Então, essa é a minha recomendação", afirmou.

Para os militantes presentes em Taboão da Serra, a sensação é de tensão. "Eu tive até que evitar usar uma camisa que identificasse o partido político", explicou o estudante Mansur Shuqair, presente no comício deste sábado junto do pai. "Eu já usei camiseta vermelha do (partido) PCdoB, por exemplo, no transporte público e já fui muito incomodado. O pessoal trombava, me xingava. Nunca sofri uma agressão física, mas havia aquele clima de tensão", completou.

O estudante Mansur Shuqair foi ao comício do PT ao lado do pai, Walid, neste sábado. Ele diz evitar usar roupas que identifiquem partidos de esquerda por conta do clima político hostil Foto: João Scheller / Estadão

"Nem na saída da ditadura foi assim, nos primeiros movimentos a violência ela era escondida. Agora ela é clara. Isso ocorre desde 2016, meu carro, por exemplo, tinha um adesivo do PT e me disseram para tirar senão iriam quebrar", explicou a professora Maria José Favarão, também presente no comício. Apesar disso, há aqueles que não se dizem acuados com a tensão política, como é o caso do pizzaiolo José Delgado. "Sinceramente eu não tenho medo. Na luta sempre vai existir um problema, um obstáculo", afirmou.

Voto útil

O tom dos discursos durante o ato político e manifestações de aliados do ex-presidente deixam claro que a estratégia da coligação Brasil da Esperança é reforçar a campanha pelo voto útil, em especial mirando o eleitorado de Ciro Gomes.

Cobertura especial das eleições

Secretário de comunicação do PT, Jilmar Tatto escancarou a ofensiva para buscar a vitória ainda no primeiro turno.

Como mostra o agregador de pesquisas do Estadão, hoje Lula não tem a vantagem necessária para encerrar a disputa em 2 de outubro. O petista tem 49% dos votos válidos, mas precisa superar os 50%.

Estadão
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