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Você sabia? Guerras, feminismo e boicotes; como os Jogos contam a história

19 jul 2012 - 16h22
(atualizado em 20/7/2012 às 15h53)
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Criado em 1894 pelo francês Pierre de Coubertin, o Comitê Olímpico Internacional (COI, ou IOC, em inglês) passou a organizar todas as edições dos Jogos Olímpicos a partir de então. Desde 1896, durante a Olimpíada de Atenas, atletas do mundo inteiro se reúnem em competições esportivas a cada quatro anos. Mesmo indiretamente, desde o início do século 19 até o início do 21, as edições das Olimpíadas refletiram as mudanças ocorridas no mundo inteiro, em relação à política, cultura e economia, sendo um reflexo histórico dos principais acontecimento de diferentes períodos.

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Assim, passando por revoluções políticas, movimentos pela igualdade feminina, guerras mundiais e disputas de poder entre potências mundiais, a importância adquirida pelas Olimpíadas transcende as competições esportivas e a disputa pelas medalhas de ouro, prata e bronze. A seguir, saiba mais sobre a relação entre mudanças sociais e culturais e sua relação com as diversas edições dos Jogos Olímpicos.

Arquitetura, escultura e pintura já foram esportes olímpicos?
Idealizador das edições modernas das Olimpíadas, Pierre de Coubertin incluiu modalidades culturais na programação oficial do evento. Assim, entre os Jogos de Estocolmo 1912 e Londres 1948, foram realizadas competições olímpicas de arquitetura, escultura, pintura, literatura e música. Depois, essas competições foram substituídas por programações culturais em locais separados das atividades olímpicas, como peças de teatro e concertos musicais.

O período em que a cultura era esporte olímpico, na primeira metade do século 20, coincidiu com os anos de imperialismo europeu, quando a cultura europeia era considerada superior. "As potências da Europa tratavam o resto do mundo como áreas colonizadas, e a ideia de uma cultura europeia dava uma mostra de superioridade. Isso se perdeu após a Segunda Guerra Mundial, quando o continente estava destroçado, e esse cenário levou a uma consolidação da indústria cultural", comenta o professor de história Lucas Kodama, do curso pré-vestibular Anglo, de São Paulo.

Houve Olimpíada durante as duas Guerras Mundiais?
Apesar de Londres 2012 ser oficialmente a 30ª edição das Olimpíadas, na prática, essa conta é um pouco menor: em função dos conflitos ocorridos durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais, as Olimpíadas não foram realizadas durante os dois períodos. Dessa forma, descontados os anos de 1916, 1940 e 1944 - que entram apenas na contagem oficial do COI, sem a realização dos Jogos -, houve de fato 26 edições do evento desde a primeira Olimpíada da era moderna, em 1896, até 2008, em Pequim.

Para o professor de marketing esportivo Nicolas Caballero, do Centro Universitário Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb), a contagem dos Jogos que não ocorreram é uma forma de o COI mostrar que as Olimpíadas não foram interrompidas, simbolicamente, e que o movimento olímpico não teria se submetido a pressões políticas. "Mas, na verdade, quando estourou a Segunda Guerra Mundial, o Comitê cancelou as Olimpíadas", ressalta.

Quando as mulheres puderam competir nas Olimpíadas?
Durante os Jogos Olímpicos da Grécia Antiga, as mulheres não podiam assistir ao evento e nem participar dele, segundo o livro 'De banquetes y batallas', do filósofo Javier Ortuño, fez com que Pherenice fosse condenada à morte por se travestir de homem para assistir à luta do filho boxeador Peisidouros. Durante as edições modernas dos Jogos, contudo, aos poucos, as mulheres foram conquistando o direito de participar das competições: em 1900, nos Jogos de Paris, foram aceitas no golfe e no tênis; em 1912, em Estocolmo, na natação; em 1928, em Amsterdã, em algumas competições de atletismo. Em 1964, durante a Olimpíada de Tóquio, por exemplo, na mesma época em que movimentos pela igualdade sexual e de salários para as mulheres ganhavam força, elas participaram, pela primeira vez, das competições olímpicas de vôlei.

"Os movimentos feministas por direito ao voto surgidos no final do século 19 e o aumento da conquista do mercado de trabalho pelas mulheres durante as duas grandes guerras coincidem com o aumento da participação feminina nas Olimpíadas. E também na década de 1960, que tornou-se um marco pela busca da mulher por maior liberdade sexual e igualdade de salários, com o surgimento da pílula, por exemplo", destaca o professor de história Lucas Kodama, do curso pré-vestibular Anglo, de São Paulo.

Todos os continentes já sediaram as Olimpíadas?
Das 11 cidades-sede das Olimpíadas realizadas antes da Segunda Grande Guerra, apenas duas não foram europeias: as americanas Saint Louis e Los Angeles, em 1904 e 1932, respectivamente. E, se após o conflito, a maior parte dos atletas deixou de pertencer a delegações de países ocidentais, o eurocentrismo em relação às cidades-sede das Olimpíadas não mudou: entre os Jogos de Londres, em 1948, e de Pequim, em 2008, apenas três cidades asiáticas, três americanas e uma latinoamericana sediaram os Jogos, contra oito europeias. Enquanto a primeira Olimpíada realizada na Ásia foi em 1964, em Tóquio, e na América Latina em 1968, na Cidade do México, o continente africano nunca sediou uma edição do evento.

"Esse eurocentrismo é uma questão histórica e econômica, que sempre interferiu na organização dos Jogos: os principais patrocinadores das Olimpíadas sempre se concentraram na Europa, e o interesse deles de realizar os Jogos no continente sempre foi significativo. E como a maior representação de votos dos membros do COI é do continente europeu, ele sempre acabou dominando as sedes das Olimpíadas, principalmente durante as primeiras edições, pela logística da Europa estar mais avançada", afirma o professor de marketing esportivo Nicolas Caballero, do Centro Universitário Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb).

Como a evolução dos transportes influenciou na organização dos Jogos?
Ao longo das primeiras Olimpíadas, durante o início do século 20, o desenvolvimento industrial gerou veículos mais velozes e populares, que passaram a estar no alcance de um número maior de pessoas. Essa evolução na indústria de transportes permitiu que os atletas percorressem mais rapidamente as distâncias entre os estádios e as vilas olímpicas, evitando a baixa de atletas inscritos nos eventos, além de encurtar as distâncias intercontinentais.

"A evolução da indústria automobilística e da aviação tornaram a situação diferente, pois, na medida em que há uma expansão das tecnologias de transportes, as distâncias passam a ser percorridas mais rapidamente, o que faz com que um maior número de atletas participe dos Jogos¿, ressalta o professor de história Lucas Kodama, do curso pré-vestibular Anglo, de São Paulo.

Os Jogos já foram realizados em dois continentes diferentes?
Sim. Os Jogos de 1956 ficaram marcados por duas curiosidades: pela primeira vez, a Olimpíada foi realizada em diferentes continentes. Enquanto quase todas competições ocorreram em Melbourne, na Austrália, as de hipismo foram realizadas separadamente, no mês de junho, em Estocolmo, na Suécia, onde as leis de quarentena não eram tão severas. Outro fato marcante da edição foi que, pela primeira vez, a grande maioria dos 3.178 competidores chegou até a cidade-sede de avião.

O procedimento, adotado em todas as Olimpíadas posteriores, foi fundamental para a organização do evento e para que os Jogos fossem realizados em diferentes partes do mundo. "A tecnologia influenciou muito o rodízio de continentes entre as cidades-sede, pois ela facilitou a questão logística dos Jogos, um dos quesitos que são levados em consideração na escolha do lugar que sediará o evento", ressalta o professor de marketing esportivo Nicolas Caballero, do Centro Universitário Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb).

Quando ocorreram as primeiras transmissões ao vivo das Olimpíadas pela televisão?
A partir de 1936, os Jogos Olímpicos começaram a ser transmitidos pela televisão, em circuito fechado, mas as primeiras transmissões ao vivo só ocorreriam duas décadas depois, na Itália. A experiência pioneira foi em 1956, nos Jogos de Inverno da cidade italiana de Cortina d'Ampezzo, em pequena escala. Já em 1960, na Olimpíada de Roma, os Jogos foram transmitidos ao vivo para os europeus por emissoras do continente. Oito anos depois, durante a Olimpíada de Inverno de Grenoble, na França, ocorreu a primeira transmissão a cores dos Jogos.

"As Olimpíadas já nasceram como um espetáculo, desde a Grécia Antiga, e a televisão também tem um ponto de contato muito forte com o espetáculo. Pela variedade de Jogos e pelas possibilidades plásticas, os Jogos Olímpicos sempre foram atraentes para a televisão, em termos de audiência e faturamento comercial, mesmo pelas televisões estatais europeias, como a BBC, que foram as primeiras a transmitir os Jogos", explica o professor de telejornalismo da Universidade de Brasília (UnB), Paulo José Cunha.

De que formas as Olimpíadas foram exploradas politicamente?
Ao longo do século 20, além de reunirem atletas do mundo inteiro, os Jogos Olímpicos também foram palco de diversos protestos e movimentos de cunho político, especialmente durante a Guerra Fria, na segunda metade do século 20. Entre eles estão a recusa de alguns países em mandar atletas para a Olimpíada de Melbourne, em 1956, em função da crise no Canal de Suez, no Egito, e a repressão soviética na Hungria, além de protestos de atletas americanos contra a questão racial no país, durante os Jogos da Cidade do México, em 1968. Na década seguinte, o mundo todo assistiu ao sequestro de atletas israelenses por palestinos em 1972, na Alemanha, durante a Olimpíada de Munique.

"As Olimpíadas são um palco de disputas esportivas, mas também acabam sendo usadas politicamente, para chamar a atenção para uma causa, por exemplo, ou uma disputa política, principalmente durante a Guerra Fria, quando os lados socialista e capitalista lutavam para ver quem vencia no quadro de medalhas", exemplifica o professor de história Lucas Kodama, do curso pré-vestibular Anglo, de São Paulo.

Qual foi a primeira Olimpíada que deu lucro?
Após a crise mundial do petróleo, na década de 1970, apenas Los Angeles entrou na disputa para sediar os Jogos Olímpicos de 1984, e o resultado foi um modelo de sucesso, seguido em todas as edições posteriores do evento. "O COI montou determinados critérios em que os Jogos deveriam se transformar em uma marca comercial que desse retorno financeiro para as cidades-sede e para o próprio Comitê", afirma o professor de marketing esportivo Nicolas Caballero, do Centro Universitário Instituto de Educação Superior de Brasília (Iesb).

Consequentemente, a Olimpíada de Los Angeles foi a primeira a ser lucrativa, gerando uma receita de US$ 223 milhões. "Os Jogos de Montreal foram pagos 30 anos depois de sua realização, e os de Los Angeles foram os primeiros que deram lucro. Nesse momento, as Olimpíadas se transformaram numa grande marca", destaca Caballero.

Quais países fizeram boicotes às Olimpíadas?
Nos últimos anos da Guerra Fria, entre as décadas de 1970 e 1980, as edições dos Jogos Olímpicos foram marcadas por boicotes de delegações de alguns países, por razões políticas. Na Olimpíada de Montreal, em 1976, 22 países africanos não participaram do evento, em protesto a uma viagem do time de rúgbi da Nova Zelândia à África do Sul, que vivia então em um regime de apartheid. Na década seguinte, os Jogos de Moscou (1980) e de Los Angeles (1984) foram marcados por dois boicotes: na hoje capital da Rússia, em protesto à invasão soviética ao Afeganistão, os americanos convocaram delegações do mundo todo a não participarem daquela edição; como consequência, os soviéticos se recusaram a participar da Olimpíada seguinte, em solo americano.

Segundo o professor de história Lucas Kodama, do curso pré-vestibular Anglo, de São Paulo, os dois últimos boicotes, principalmente, refletem a adoção de uma política externa mais agressiva por parte dos dois países. "Foi uma forma negativa de luta conta o adversário no campo da geopolítica, porque houve uma negação do espírito olímpico. De alguma forma existiu uma tentativa de justificativa dos boicotes por um outro motivo, mas são casos em que as Olimpíadas transcenderam o campo da disputa esportiva para o da política também", ressalta.

Olimpíada ao vivo no Terra

O Terra, maior empresa de internet da América Latina, transmitirá ao vivo e em alta definição (HD) todas as modalidades dos Jogos Olímpicos de Londres, de 27 de julho e 12 de agosto de 2012. Com reportagens especiais e acompanhamento do dia a dia dos atletas, a cobertura conta com textos, vídeos, fotos, debates, participação do internauta e repercussão nas redes sociais.

Jogos Olímpicos já foram palco de protestos políticos
Jogos Olímpicos já foram palco de protestos políticos
Foto: Getty Images
Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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