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Sem biblioteca, mas com aulas; entenda greve da Unicamp

Docentes aceitaram abono salarial em 31 de julho, enquanto os funcionários defendem isonomia entre salários com USP e Unesp

9 set 2014 - 07h31
(atualizado às 07h39)
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Os mais de cem dias de paralisação dos funcionários da Unicamp respingam inevitavelmente no cotidiano dos alunos. Publicações de notas e frequências no primeiro semestre atrasaram, a Biblioteca Central não empresta nenhum livro, intercambistas tiveram de reorganizar suas viagens e, claro, as férias de verão estão ainda mais longe - o ano letivo só terminará em 10 de janeiro de 2015.

Mesmo com todos os problemas decorrentes, o Diretório Central Estudantil da Unicamp, entidade máxima de representação dos alunos, apoia a greve dos servidores - assim como apoiou a greve dos professores, que terminou em 31 de julho.

“No início da greve, o DCE fez várias assembleias com os estudantes e decidiu dar apoio total aos trabalhadores, por entender que a qualidade depende de remuneração digna”, afirma Diana Nascimento, coordenadora do DCE. “O problema foi a postura problemática do reitor, que foi um desrespeito aos funcionários.”

Por conta dos movimentos, no entanto, a universidade divulgou que iria usar o mês de agosto para retomar as aulas perdidas com o não comparecimento dos docentes em sala de aula. No final de julho, a Unicamp afirmou que 30% das turmas precisavam de mais aulas, e que cerca de 70% do total de turmas de graduação e pós-graduação não tinham notas e frequências normais para o primeiro semestre do ano.

Calendário desagrada intercambistas estrangeiros

Mesmo com a greve, a Unicamp conseguiu enviar seus alunos para estudarem no exterior em programas como o Ciências Sem Fronteiras - mas os estrangeiros que chegaram não ficaram muito contentes. Segundo a Vice-Reitoria de Relações Internacionais (VRERI), todos os alunos da universidade puderam viajar, mesmo sem algumas notas do semestre divulgadas. A solução, em pelo menos três casos, foi aplicar a prova final da disciplina na universidade de destino, sob supervisão de um professor estrangeiro.

Parte dos funcionários do núcleo seguiu trabalhando normalmente, em outra sala - o escritório da Biblioteca Central, como o restante dela, foi fechado no início da greve. Por esse motivo, os documentos necessários puderam ser recebidos e emitidos no prazo ao longo dos meses de greve. “A gente entende que as universidades estrangeiras não podem esperar”, disse uma funcionária do VRERI ao Terra.

O maior problema ocorreu em relação aos intercambistas que vieram cursar o segundo semestre do ano na Unicamp. Por causa da mudança no calendário - que estipulou o término das aulas para 10 de janeiro -, os estrangeiros tiveram de reorganizar a volta, o que “não os deixou muito felizes”, disse a mesma funcionária do VRERI. Uma pré-matrícula foi feita com todos para terem direito ao Restaurante Universitário, por exemplo.

Biblioteca Central está fechada há três meses

A Biblioteca Central da Unicamp está fechada desde o início da greve. Nas segundas-feiras, o órgão renova os materiais de todos os alunos automaticamente, mas ninguém pode fazer novos empréstimos. Conforme a coordenação, a Biblioteca Central aceita devoluções e, inclusive, tem recebido livros de outras bibliotecas, a partir da procura dos alunos.

O DCE afirma que o fechamento da Biblioteca afetou a “dinâmica de estudos” dos alunos em geral, e não somente daqueles que estão concluindo o curso e escrevendo monografias. No entanto, entende que o problema deriva da atenção negada pela reitoria aos trabalhadores.

Portas Abertas não contou com quatro unidades de ensino

O Unicamp de Portas Abertas (UPA), evento anual em que a universidade recebe visitantes, aconteceu em 30 de agosto - em meio à greve. Mesmo assim, o coordenador executivo da UPA, José Reinaldo Braga, relata que somente quatro unidades de ensino não participaram, ao contrário das demais 40 instituições. Os institutos de Artes, de Arquitetura e Urbanismo, de Filosofia e Ciências Humanas e a Faculdade de Educação ficaram de fora.

De acordo com Braga, os diretores das unidades afirmaram que, por conta da greve dos servidores, não houve “tempo hábil” para apresentar programação. Diante dos números, o coordenador vê a iniciativa como um sucesso. “Recebemos mais de 50 mil pessoas de oito Estados diferentes. Infelizmente essas quatro unidades não participaram. Mas as demais 40, sem dúvida, acolheram a todos muito bem”.

Relembre a maior greve da história da Unicamp

Os funcionários da Unicamp decidiram entrar em greve em 23 de maio de 2014, em resposta ao congelamento salarial estipulado, dez dias antes, para USP, Unesp e Unicamp. O Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (Cruesp) tinha a intenção de prorrogar a discussão de reajuste salarial para setembro.

Na ocasião, o comprometimento do orçamento da Unicamp com a folha de pagamento era de 96,5%. As pautas dos grevistas incluíam 10% de reajuste nos salários. Os professores entraram em greve quatro dias depois, em 27 de maio.

Devido às aulas perdidas no primeiro semestre, a reitoria da Unicamp decidiu, no fim de agosto, adiar a volta às aulas de 4 de agosto para 1° de setembro. Além disso, propôs aos professores 21% de abono sobre os salários de julho - o que foi aceito em assembleia da Associação dos Docentes da Unicamp sem nenhum voto contrário. A medida permitiu que aulas fossem recuperadas ao longo do mês.

Em 6 de agosto, o reitor José Tadeu Jorge propôs o mesmo percentual aos demais servidores ativos e aposentados. Por 648 votos a 450, o Sindicato lançou uma contraproposta, que pedia isonomia entre as remunerações das três universidades estaduais. A reitoria rejeitou, alegando não ter como arcar com os custos.

Por fim, a Cruesp ofereceu reajuste de 5,2% para Unesp, USP e Unicamp. O valor seria pago em duas parcelas de 2,57%, em outubro e janeiro. O Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp se reúne em assembleia em 11 de setembro para estudar a proposta.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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