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'Não é passaporte mágico para vida profissional'

'O MBA não vem sozinho. É um contexto maior, uma volta pensada'

13 nov 2018 - 07h11
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O MBA não faz milagres nem é um "passaporte mágico" para uma vida profissional em cargos mais altos com salários ainda maiores. É o que diz o diretor executivo da consultoria global de recrutamento Michael Page, Roberto Picino. Para ele, o profissional precisa estar seguro sobre o tipo de curso, do contrário um MBA pode ser só mais uma linha bonita no currículo e um passo acelerado na carreira.

Picino destaca que os recrutadores querem entender as razões por trás dos itens do currículo, e não conhecer somente uma boa referência acadêmica. Entender o timing do candidato à vaga, intenções na carreira e vontade em se aprofundar em um setor são aspectos que um MBA pode suscitar, mas precisam estar acompanhados por uma trajetória voltada para as ambições. "O profissional tem de ter as justificativas, os porquês, a tecla SAP para traduzir o currículo para o recrutador", diz.

Qual o diferencial de um profissional que tem MBA?

O profissional que procurou focar a carreira no ápice do seu desenvolvimento, seja sempre estudando, se aperfeiçoando, buscando alternativas e tudo mais, já é um profissional que a gente considera diferente. Quando a gente lê no currículo "formação acadêmica", o MBA é muito mais valorizado e nos encoraja a seguir olhando mais ainda o currículo, sobretudo quando as referências profissionais são muito boas também.

Esse diferencial tem que benefícios, além dessa vontade de querer estudar?

Tradicionalmente, a continuação do estudo para aprimoramento do aprendizado por si só já é muito legal. Por exemplo, existem muitos engenheiros que fizeram MBA porque têm formação técnica em um excelente curso. Só que ele entra no mercado financeiro, por exemplo, em cargos de gestão, em área financeira de empresas ou de operações e, em algum momento, o MBA vai fazer muita diferença para ele. Esse conhecimento é super importante, somado às características tradicionais do MBA, como o networking. Acho que vale ressaltar o seguinte: o MBA não é um passaporte mágico para vida profissional. Ele não vem sozinho. O MBA, na década de 1980 e 1990, era uma grife, uma marca. Você tinha de fazer. O cara que não fazia estava fora (da seleção).

Um planejamento de longo prazo é sempre positivo: o profissional se formou bem, entrou no mercado financeiro, tem curso de especialização, fez o MBA fora (do País). Nesse caso, teve um incremento de carreira e de salário porque foi planejado. Onde entram as armadilhas? O cara achar: "agora vou fazer o MBA, vou aumentar meu salário em 40%". Não é isso. É um contexto maior, uma volta calculada. Armadilhas acabam acontecendo quando o cara, por exemplo, quer mudar de carreira e pensa em fazer MBA. Como assim?!

Existe algum lado ruim em fazer um curso de MBA?

Não, acho que não. Falar que tem um lado ruim em estudar é muito complicado. Mas, falando das armadilhas, quando a pessoa dá sequência da universidade para o MBA fica parecendo mais um pacote econômico da universidade do que propriamente um planejamento da própria carreira. Por exemplo, a pessoa que investir R$ 80 mil no MBA vai estar na faixa etária dos 28, 30 anos e vai querer falar com pessoas que consigam trocar o mesmo nível de experiência. Não seria alguém que estaríamos contratando para ser estagiário. Nada contra. É que o MBA é troca de experiências, de negócios. É uma troca que, se tiver essa junção de experiências, vai propiciar o networking.

Em que ponto da carreira você aconselha um profissional a procurar o MBA?

O recomendado é iniciar o MBA, principalmente o internacional, quando o profissional tem aquela janela de oportunidades por idade, entre 26 e 30 anos. Depois começa a passar do timing. Não sei dizer se é o momento da carreira em que ele pode dar essa quebra e voltar com velocidade total depois do incremento do MBA. Isso com boas referências, entrega, trabalho de gestão. Mas o MBA não resolve gap de gestão de relacionamentos. Você resolve isso com prática. Não faz milagre. É um MBA, não é uma terapia. E tem um momento, sim, essa janela em que a pessoa pode fazer uma pausa na carreira. Depois começa a não ficar muito vantajoso tanto para o profissional quanto para a instituição.

O mercado ainda tem preconceito com MBA realizado a distância?

Bem menos (do que antigamente) porque as instituições de nome agora têm o curso. Sabe-se que não é simples de se formar, você não está ali por estar. Pelo contrário, às vezes no presencial você vai meio que tocando. Com a distância, você tem de cumprir as horas, trabalhos para entregar. Hoje, com uma boa conexão de internet, você consegue fazer o curso em vários lugares. Mas é exigido disciplina para a pessoa fazer e entregar o projeto.

Qual é o olhar que os recrutadores têm sobre esse estudante do EAD?

É muito bom. É bom porque esse tipo de informação aflora no momento de uma entrevista presencial. Os processos seletivos continuam demandando muito, e ainda bem, contatos presenciais. O tom de voz tem mais emoção do que um currículo ou texto. O profissional tem de ter as justificativas, os porquês, a tecla SAP para traduzir (o currículo para o recrutador).

Existe preferência por pessoas que fazem MBA no exterior ou isso não é um recado tão importante para o recrutador?

O MBA no exterior é mais valorizado. Tradicionalmente, os cursos têm um contorno diferente, uma imersão diferente também. Você de cara já consegue enxergar o profissional que de fato teve uma experiência de vivência com outra cultura. Isso chama a vista aos olhos das multinacionais. O MBA internacional ainda pesa mais.

E você recomenda fazer o curso no exterior para quem ainda está em dúvida entre fazer no Brasil ou lá fora?

Eu diria assim: vale a pena? Sim. Agora, o importante é olhar o investimento, a escolha do curso, o custo de oportunidade no sentido de que o profissional vai ficar fora do mercado por um tempo. Tem um filtro diferente para a entrada. Tudo isso tem de estar muito bem conectado com seus objetivos. Tem de fazer um bom planejamento porque o retorno não é simples. Não só pelo estudo, mas por fazer sentido na sua carreira.

Estadão
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