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Mais de 30 anos longe da escola, taxista aprende inglês para a Copa

15 mai 2013 - 09h37
(atualizado às 09h37)
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Ouvir histórias de seus passageiros é o que o taxista Rui Teixeira mais gosta em seu trabalho, mas quando o cliente é estrangeiro fica difícil até mesmo saber aonde ele quer ir. Rui já precisou contar com a ajuda de sua sobrinha de 10 anos para rodar por Porto Alegre (RS) com um americano. O pensamento que já é folclore nas redes sociais foi inevitável. "Imagina como vai ser na Copa", dizia para si mesmo, até que entrou para um curso de inglês preparatório para o evento, em uma turma só de taxistas.

Em uma sala improvisada, na Cooperativa dos Taxistas do Aeroporto Salgado Filho (Cootaero), Rui tem aulas de inglês todas terças e quintas-feiras. Trinta e cinco anos longe dos estudos, ele teve seu primeiro contato com a língua agora. Aos 58 anos, está aprendendo a perguntar o destino do passageiro, lições básicas que empolgam o gaúcho. "Espero conseguir montar uma frase inteira e fazer a tradução automática, sem precisar parar para pensar", diz.

Gratuito, o curso começou em 20 de abril, tem 160 horas e é promovido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem e Transporte (Senat), por meio da Secretaria de Turismo do Rio Grande do Sul. A iniciativa faz parte do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Oito turmas de taxistas e seis de guardas municipais estão tendo aulas de inglês em Porto Alegre. Até o final de 2013, o programa pretende formar 600 profissionais, incluindo também policiais militares.

Professora do curso para taxistas, Gabriela Müller explica que os conteúdos das aulas são planejados especialmente para o dia a dia dos profissionais. Cada unidade do livro didático é baseada em um ponto turístico de Porto Alegre, e a partir deles os alunos aprendem a soletrar o nome das ruas, descrever caminhos e identificar as cores dos times de futebol. Todo o material é traduzido para o português e é baseado mais em conversação do que em gramática. Por meio de um método chamado de communicative approach (aproximação comunicativa, em tradução livre), antes de passar o conteúdo da aula, a professora explica aos alunos em que situações ele poderá ser usado. "Trazemos a matéria para o mundo real deles", diz Gabriela.

Taxista há 10 anos, Andréia Machado chega cansada às aulas no final do dia, mas diz que, ao menos neste início, a empolgação supera a fadiga. Durante um ano, ela já tinha estudado inglês em uma escola particular, mas diz que os conteúdos vistos agora são novos. "Eu quero aprender a perguntar o nome do passageiro, de onde ele veio e a passar meu contato para o cliente", conta.

Em Salvador, até baianas do Acarajé fazem curso

Por seis meses, durante quatro horas de segunda a sexta-feira, o guarda de trânsito em Salvador (BA) Danilo Silva teve aulas de inglês. O preparatório para a Copa das Confederações e para a Copa do Mundo foi até janeiro de 2013. Ao lado de colegas, ele aprendeu como ensinar o turista a chegar nos estádios de futebol e a indicar os caminhos possíveis de se fazer a pé, de ônibus ou de táxi, com base nos mapas da cidade. No entanto, ele conta que ainda sente falta de praticar os conteúdos que aprendeu. "Ainda não me sinto à vontade, não me sinto preparado para conversar com um estrangeiro. Faltou continuar o curso em um estágio intermediário ou avançado, que nos fizesse seguir praticando", diz o aluno.

O professor do curso Márcio Capirunga explica que o objetivo das aulas era que, ao final do curso, o aluno atingisse um nível básico de inglês e pudesse passar informações corretas e concretas ao turista durante a Copa das Confederações. "Moldamos um conhecimento específico, somente para ser usado na área de atuação deles e para receber o turista", diz. O livro didático usado na parte teórica das aulas era o mesmo para todas as turmas, independentemente da profissão, mas Capirunga complementava o material com informações sobre portões de entrada dos estádios, localizações das paradas de ônibus e pontos de táxi e atrações turísticas de Salvador.

As aulas gratuitas integraram o projeto do Instituto Federal da Bahia (IFBA), em parceria com o Pronatec, que em 2012 formou 27 turmas de inglês, seis turmas de espanhol e quatro de libras, cada uma com cerca de 30 alunos. Este ano, o programa pretende formar cerca de 1,7 mil alunos, divididos em 34 turmas de inglês, seis de espanhol e cinco de libras. Os profissionais que participam dos cursos são todos relacionados à área de turismo: recepcionistas, camareiras, garçons, taxistas, policiais, capoeiristas e até as famosas baianas do acarajé. Até agora, nem todas as turmas eram divididas por profissionais específicos de cada segmento, mas a partir de junho, todos os alunos serão reunidos em salas de acordo com o setor em que trabalham.

Jurandir Marques dos Santos é garçom em Salvador e concluiu o curso de inglês do IFBA em novembro do ano passado, em uma das turmas mistas. Ele, que costuma trabalhar em eventos com turistas nos finais de semana, vem aplicando o que aprendeu. "Quanto mais eu pratico mais eu entendo. Quando os turistas falam muito rápido, eu digo 'speak more slowly, please', fale mais devagar", diz Jurandir, orgulhoso do aprendizado. O garçom continua buscando novos vocabulários mesmo depois do término das aulas e acredita que a dificuldade em compreender depende da participação e da vontade de aprender. "How can I say camarão? Ovo frito? Continuo buscando ajuda na internet e nos livros por mim mesmo."

Curso particular

No Rio de Janeiro, a gerente de loja Jaíza Santana procurou um curso particular no Yázigi específico para profissionais diversos que precisam atender turistas, pensando na Copa do Mundo. Desde março, durante duas horas por semana, ela aprende, em uma turma com mais três alunos, noções básicas sobre como receber turistas em diversos segmentos. Diferentemente dos outros cursos da escola, as aulas do To the Point, como é chamado o módulo, são ministradas em português e duram apenas um semestre. 

"Quase não ensinamos gramática e trabalhamos bastante a pronúncia, já que eles estarão falando com nativos", explica a professora Patricia Páez. Apesar do curso existir desde 2012 e não ser específico para a Copa do Mundo, Jaíza o procurou pensando em possíveis possibilidades de emprego em função do evento. "Ainda não sei exatamente como, mas tenho certeza que saber inglês vai me abrir portas", diz a aluna.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra
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