A síndrome da decadência
“... o mundo antigo, para mim, é a verdadeira morada do espírito humano, o que veio depois é lamentável.” Arnold Toynbee
Atribui-se ao poeta grego Hesíodo – vivido no século 7 ou 8 a.C. - ter versado uma narrativa sobre os deuses enfocado a guerra movida por Zeus contra o seu pai Crônos. Não só isto, ele teria sido o primeiro a organizar uma cronologia das etapas percorridas pela humanidade, começando com a idade do Ouro, decaindo para a da Prata, desta para o Bronze, e finalmente a do presente de todos nós, a idade do Ferro. Período amargo de muitos trabalhos, suor e violência. Expôs assim a sensação de mal-estar e nostalgia que acompanha sempre parte considerável das sociedades até hoje.
Quantos outros não se lançaram pelos séculos afora a referendar o pessimismo do grande grego?
Mais próximo a nós encontra-se Oswald Spengler com o famoso livro “A Decadência do Ocidente” publicado em 1918 e que tornou um sucesso de vendas nos anos do pós Iª GM. E com razão, a Europa, num acesso coletivo de estupidez, arrastara o mundo para quatro anos de guerra (1914-18).
O Ocidente estava perdido
O seu admirador mais célebre, o historiador Arnold Toynbee herdou-lhe o sentido do fim-dos-tempos no Estudo de História, com 10 volumes (1934-1961). Nesta linhagem de pouco otimismo se insere Niall Fergunson, excelente prosador, que recentemente visitou a capital a convite do Fronteiras do Pensamento
No fundo eles, os dois britânicos, confundem a situação declinante do império em que nasceram (o inglês para Toynbee e Fergunson) com o naufrágio do Ocidente como um todo. Quando vemos é o contrario. Nunca ele foi tão seguido e copiado. Chineses, japoneses coreanos indonésios, africanos e tantos outros, vestem-se como executivos americanos, orientam sua produção mediada pelos padrões ocidentais de consumo e organizam-se, cada vez mais em instituições inspiradas por Washington, Londres, Paris ou Berlim. Que decadência é esta?
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