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Especialistas veem testes de covid-19 para alunos como válidos, mas apontam ressalvas

Prefeitura de São Paulo anunciou que a partir da próxima semana pretende começar a fazer testes sorológicos em todos os alunos e professores da rede municipal de ensino antes do retorno às aulas, em novembro

25 set 2020 - 21h27
(atualizado às 23h31)
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A Prefeitura de São Paulo anunciou nesta sexta-feira, 25, que pretende fazer o exame sorológico em todos os alunos e professores da rede municipal de ensino antes do retorno às aulas, previsto para 3 de novembro na capital paulista. Esse tipo de teste identifica a presença de anticorpos específicos (IgM/igG), que indicam se a pessoa já teve contato com o vírus da covid-19. No entanto, a presença de anticorpos não significa que o indivíduo está imune à doença. Especialistas ouvidos pelo Estadão divergiram se a iniciativa pode trazer mais segurança para a volta às aulas.

Para Pedro Hallal, reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e epidemiologista, qualquer retomada de atividades deve vir acompanhada de um protocolo de testagens. "A iniciativa de testar todos os estudantes e professores antes de retomar às aulas é uma ótima ideia e tem de ser elogiada", disse. O especialista também explicou que a testagem deve ser usada de forma contínua e que a cada vez que haja uma contaminação na escola, deve haver um protocolo de ação previamente pensado.

Além da testagem de professores e alunos, Hallal ressaltou a importância de outras medidas para manter a segurança sanitária nas escolas. "Garantir um certo distanciamento entre as pessoas. A questão de disponibilizar opções de lugares para as crianças e para os jovens lavarem as mãos com sabonete, porque é uma coisa que, às vezes, as escolas não tem. As máscaras são fundamentais, porque tem uma série de estudos mostrando que as máscaras protegem bastante. Além de proteger do próprio contato do vírus, protegem do tamanho da exposição, ou seja, quem pega com máscara, pega com uma carga viral menor", falou.

O professor de infectologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Edimilson Migowski, também considerou válida a iniciativa da prefeitura, mas alertou para o fato de que se o indivíduo se infectou pelo coronavírus há muitos meses, existe a possibilidade de ele não ter mais anticorpos detectáveis. "Acho legal fazer (a testagem), porque é um dado adicional. Quem testar positivo, ótimo, provavelmente está protegido. Quem testar negativo, pode ou não estar suscetível", explicou.

Migowski destacou, entretanto, que não condicionaria o retorno às aulas a esses dados de testagem. Para o professor, detectar a infecção e tratar precocemente, além de "capacitar os professores, alunos e pais responsáveis para identificar precocemente (os sintomas da covid-19)" são algumas das medidas que devem ser adotadas no processo de retomada das escolas.

Já Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), considerou a testagem de professores e alunos "paliativa". "Se der positivo, indica que a pessoa teve em algum momento atrás, mas não que a pessoa tem (a infecção). Ela tem uma resposta imune ao vírus, mas não detecta a presença do vírus. Ou seja, se a pessoa tiver transmitindo, esse teste não é suficiente para saber isso", disse. Para o professor, os testes de swabs (coleta no nariz) ou de saliva são mais efetivos.

Alves também enxerga as eleições como "pano de fundo para justificar à volta às aulas" e afirma que "há um desespero concreto dos empresários de escolas particulares para o retorno". O professor da USP ainda destacou que ninguém tem evidência de segurança sanitária nas escolas. "Não existe evidências de proteção nessa pandemia. Essas medidas são paliativas. Está na literatura, está sendo inclusive reproduzida pela OMS como medidas protetivas, mas para lugares onde a epidemia está controlada. Aqui no Brasil nunca houve controle", falou, reforçando que "as evidências que existem em qualquer pandemia é que proteção é dada por vacina".

Estadão
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