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Confira 10 possíveis temas para a Redação do Enem 2020

Assuntos ligados de forma indireta ao coronavírus podem ser abordados, além de alguns eixos temáticos já discutidos na última edição da prova

8 jan 2021 - 17h25
(atualizado em 14/1/2021 às 17h54)
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SÃO PAULO - Com a proximidade do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020, que será realizado nos dias 17 e 24 de janeiro de 2021, cresce a ansiedade para descobrir qual será a proposta da Redação, aplicada no primeiro domingo. Para ajudar os candidatos a escrever uma texto nota mil, o Estadão consultou professores sobre possíveis temas da Redação do Enem 2020.

De acordo com os especialistas, assuntos ligados de forma indireta ao coronavírus podem ser abordados, além de alguns eixos temáticos já discutidos na última edição, como a questão da obesidade, o sistema carcerário e a proteção à infância. Vale lembrar que o formato da Redação do Enem é um texto dissertativo-argumentativo e que cinco competências são avaliadas nesta prova.

De acordo com Felipe Leal, professor de Redação do Curso Anglo, os alunos devem ficar atentos aos temas relacionados com os direitos previstos na Constituição. Na edição passada, por exemplo, o tema foi a democratização do acesso ao cinema no Brasil. "O tema do cinema está lá na Constituição, afirmando que o Estado deve promover o acesso à cultura de maneira universal e igualitária, então eles escolheram ali um aspecto da cultura e foram em direção a isso. O mesmo ocorre com outros eixos", explica.

Confira abaixo a lista de possíveis temas para a Redação do Enem 2020:

1 - A importância do SUS para a garantia da saúde no Brasil

Neste ano, com a pandemia de coronavírus, a importância do Sistema Único de Saúde (SUS) ficou ainda mais evidente. "O SUS é um dos sistemas mais robustos do mundo, uma vez que é um dos poucos sistemas que atende gratuitamente todo e qualquer cidadão. Essa perspectiva ideológica que fundamenta o SUS é totalmente alinhada à filosofia do Enem", diz Fabiula Neubern, coordenadora de Redação do Curso Poliedro São José dos Campos.

Segundo a professora, mesmo que não estivéssemos vivendo uma pandemia, o direito à saúde, pela sua relevância, já poderia ser o tema da prova de Redação em perspectivas como a humanização do atendimento, a valorização dos profissionais da área ou os benefícios da telemedicina, que foi regulamentada em 2020 após 18 anos de discussões.

2 - Os desafios do uso de tecnologia na educação

A modalidade de Educação a Distância (EAD) vem crescendo no Brasil nos últimos anos. Com a pandemia, professores e alunos se viram obrigados a implementar o uso de recursos digitais no ambiente educacional. Para Fabiula, o tema já era relevante e a discussão se tornou ainda mais importante após a suspensão das aulas presenciais no País.

"Escolas públicas e particulares, alunos e professores enfrentaram obstáculos múltiplos como o acesso à internet, escassez de treinamento ou recursos didáticos, falta de equipamentos, entre outros. Houve instituições que se reinventaram e outras que abandonaram os alunos à própria sorte. Familiares se viram diante da dificuldade de tentar ajudar seus filhos, alunos ficaram enfadados diante das telas e professores ensinaram via rede social, por e-mail ou aplicativos. O fato é que toda a comunidade escolar se viu preocupada e se esforçou em garantir o direito fundamental e básico à educação. Houve um esforço de muitos e, certamente, avanços significativos na implementação e uso dos recursos tecnológicos no âmbito educacional", diz a coordenadora. O tema da educação pode ser solicitado sob o viés tecnológico ou em outras vertentes como a valorização do professor, a evasão escolar ou o analfabetismo.

3 - Erradicação do analfabetismo

Para os professores, o analfabetismo é uma das grandes apostas. Segundo o IBGE, o Brasil tem hoje 11 milhões de analfabetos, representando 6,8% da população. "Esse é um problema muito grave. Dentro do Plano Nacional de Educação foi previsto que as crianças devem ser alfabetizadas até o terceiro ano do ensino fundamental com a idade de oito anos. O plano previa a erradicação para 2024 e a gente não vê avanço suficiente para chegar lá", explica Felipe Leal.

Dentro dessa discussão também podem aparecer temas como o analfabetismo funcional, em que a pessoa sabe ler e escrever, mas é incapaz de interpretar um texto. "Com a pandemia essa questão dificultou ainda mais, já que não houve uma preparação adequada dos professores para o ensino digital. Isso sem contar a desigualdade de condições de acesso para o ensino a distância. Nós não estamos avançando o suficiente para erradicar o analfabetismo e talvez isso piore agora", lamenta.

4 - Violência doméstica no Brasil

"Tema extremamente relevante e que há anos é debatido no País, a violência doméstica ganhou novas dimensões com o isolamento social na pandemia", diz o professor Thiago Braga, autor do Sistema de Ensino pH. Nesse recorte, é importante que o estudante entenda as causas que levam a essa situação e o que tem sido feito para combatê-la. O protagonismo crescente das mulheres no mercado de trabalho, a maior participação nas decisões familiares, questões que envolvem o machismo e a maneira como os homens enxergam e lidam com as mulheres são alguns dos pontos que podem ser abordados.

5 - A obesidade no Brasil

Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde divulgada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, um pouco mais de 40 milhões da população adulta no Brasil está obesa. A pesquisa mostrou que a proporção de pessoas obesas no país aumentou nos últimos 17 anos. Em 2003, o porcentual era de 12,2%. Já em 2019, esse índice passou para 26,8%. "Os dados refletem não apenas um problema de saúde, mas também como o brasileiro se comporta em relação à sua própria alimentação. A situação se torna ainda mais delicada quando pensamos que muitas pessoas estão em casa em isolamento social e não conseguem se exercitar adequadamente. Dessa forma, o sedentarismo e suas consequências crescem. Doenças ligadas à obesidade também", explica Thiago Braga.

6 - Os desafios do sistema carcerário brasileiro

O sistema carcerário brasileiro foi um dos possíveis temas de Redação apontados por especialistas na última edição do Enem e volta a surgir agora. "É um assunto clássico da sociedade brasileira e que nunca foi tema de Redação antes", comenta Thiago Braga. O professor diz que o nosso sistema de prisões é historicamente conhecido por suas deficiências, como a insalubridade e superlotação das celas. Há ainda a disputa entre facções criminosas.

"Além disso, o Brasil está entre os três países que possuem a maior população carcerária do mundo e muito se discute que esse sistema não cumpre suas funções de ressocialização dos presos. Entender esse cenário e a cultura que está associada a ele são pontos importantes para tratar do assunto", explica Braga.

7 - Saúde mental na adolescência

De acordo com a ONU, 16% da carga global de doenças de pessoas entre 10 e 19 anos está relacionada com a saúde mental. A principal doença é a depressão, que pode ser um gatilho para o suicídio. Só a depressão é a terceira causa de morte entre pessoas de 15 a 19 anos no mundo. No Brasil, por exemplo, sabemos que entre 2006 e 2015 o aumento foi de 13%, de acordo com a Revista Brasileira de Psiquiatria.

"Os dados são graves e mostram a importância de lidar com o assunto. Com a pandemia isso ficou ainda mais em evidência por causa do isolamento social, que também prejudica a saúde mental de adultos, mas quando você fala de adolescentes, está falando de um ser humano em formação que precisa de uma certa estrutura, senso de normalidade e estabilidade emocional", diz Felipe Leal.

8 - Caminhos para proteger as crianças e os adolescentes no Brasil

Para Fabiula Neubern, um tema relacionado à infância que pode ser discutido é a proteção contra violências como maus-tratos, abuso e violência doméstica. "Elas podem estar submetidas à violência urbana, ao tráfico internacional de pessoas, à exploração sexual e ao abandono ou à negligência de seus genitores, do Estado ou da própria sociedade", diz a coordenadora.

Ela cita dados da Sociedade Brasileira de Pediatria, de 2019, que indicam média de 233 agressões por dia a crianças até 19 anos. Essas agressões podem ser de ordem física, psicológica ou até configurar tortura. "Uma vida saudável e plena passa pelo direto à escola, à brincadeira, à alimentação e até pelo direito de ser protegido."

Mecanismos como os Conselhos Tutelares, a prevenção à violência e até a classificação indicativa para conteúdos midiáticos mostram que o Brasil tem alguns dispositivos de proteção a essas pessoas. "É importante que eles sejam ampliados, aprimorados, isto é, a proteção à criança é tema fundamental aos direitos da pessoa humana em nosso País", ressalta.

9 - O combate aos maus-tratos a animais

"A comunidade científica noticiou suas suspeitas de que o coronavírus tenha chegado aos humanos vindo do contato com animais silvestres. Na Ásia, local onde o vírus surgiu, são tradicionais as feiras nas quais esses animais ficam expostos e mantêm contato uns com os outros - algo que não aconteceria na natureza, ou seja, sem a interferência humana. A condição de manutenção desses animais nessas feiras não é nada boa. Aqui no Brasil, essas feiras também existem e o tráfico de animas silvestres é grande. As condições de aprisionamento desses animais são cruéis", aponta Fabiula Neubern.

Diante a relevância do tema, ele é apontado como um dos possíveis escolhidos para o Enem de 2020. Lembrando que os maus-tratos a animais não ocorrem apenas em relação aos selvagens. "Também os animais domésticos sofrem violência Desde o abandono de cães e gatos que superlotam abrigos até os bichos expostos à diversão usados em circos e outros eventos de entretenimento dos humanos, os exemplos de maus-tratos se perpetuam", explica Fabiula.

"As novas gerações, porém, têm questionado esse tipo de relação e decisões políticas têm sido tomadas nesse sentido." Segundo a professora, é importante pesquisar os novos projetos de lei, como a Lei Sansão, que leva o nome de um cachorro que teve as patas decepadas. Essa lei prevê um aumento da pena prevista para casos de maus-tratos.

10 - A dificuldade de universalização do saneamento básico no Brasil

Há dez anos, a ONU reconheceu o direito à água potável e de qualidade das instalações sanitárias como indispensável ao direito à vida. No Brasil, de acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, quase metade da população (47% ou quase 100 milhões de pessoas) não tem esgotamento sanitário e cerca de 35 milhões não têm água potável. "Essa desigualdade extremada revela que a questão do saneamento em nosso País é um direito de cidadania", diz Fabiula Neubern.

"A necessidade de lavar as mãos constantemente, usar sabão e álcool gel para higienização trazida pela pandemia vivenciada atualmente, entre outros fatores, escancararam a dificuldade de manter qualidade de vida, principalmente nas periferias e regiões onde habitam os mais pobres nas cidades brasileiras", diz ela.

O candidato pode se atentar ao fato de que muitos planos e metas foram traçados pelas instâncias governamentais ao longo dos anos e, em 2020, o Senado aprovou o novo marco legal do saneamento básico. O texto prorroga o prazo para o fim dos lixões, facilita a privatização de estatais do setor e extingue o modelo atual de contrato entre municípios e empresas estaduais de água e esgoto. A tentativa é de universalizar os serviços de água e esgoto até 2033.

Confira todos os temas de redação já apresentados no Enem

  • 1998: Viver e aprender;
  • 1999: Cidadania e participação social;
  • 2000: Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar esse desafio nacional;
  • 2001: Desenvolvimento e preservação ambiental: como conciliar os interesses em conflito?;
  • 2002: O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações sociais que o Brasil necessita?;
  • 2003: A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo;
  • 2004: Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação;
  • 2005: O trabalho infantil na sociedade brasileira;
  • 2006: O poder de transformação da leitura;
  • 2007: O desafio de se conviver com as diferenças;
  • 2008: Como preservar a floresta Amazônica: suspender imediatamente o desmatamento; dar incentivo financeiros a proprietários que deixarem de desmatar; ou aumentar a fiscalização e aplicar multas a quem desmatar;
  • 2009: O indivíduo frente à ética nacional;
  • 2010: O trabalho na construção da dignidade humana;
  • 2011: Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado;
  • 2012: Movimento imigratório para o Brasil no século 21;
  • 2013: Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil;
  • 2014: Publicidade infantil em questão no Brasil;
  • 2015: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira;
  • 2016: Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil;
  • 2017: Desafios para Formação Educacional de Surdos;
  • 2018: Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet;
  • 2019: Democratização do acesso ao cinema no Brasil.
Estadão
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