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DNA revela descendente direto de duas espécies de hominídeos

23 ago 2018 - 10h27
(atualizado às 11h40)
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Análise de fragmento de osso de 90 mil anos mostra que uma jovem de cerca de 13 anos era filha de mãe neandertal e pai de grupo conhecido como denisovan. Cientistas comemoram descoberta inédita.Cientistas afirmam ter encontrado remanescentes de uma jovem pré-histórica que seria filha de mãe neandertal e de pai que pertencia a outro grupo de humanos conhecido como denisovans.

Caverna na Sibéria onde foi encontrado o fragmento de osso que comprovou o cruzamento entre neandertal e dnisovan
Caverna na Sibéria onde foi encontrado o fragmento de osso que comprovou o cruzamento entre neandertal e dnisovan
Foto: DW / Deutsche Welle

Um fragmento de osso de 90 mil anos de idade encontrado numa caverna no sul da Sibéria possibilitou a descoberta inédita de um descendente direto desses dois grupos, afirma o estudo publicado nesta quarta-feira (22/09) pela revista científica Nature.

A filha, a quem os cientistas da Universidade de Oxford deram o nome de Denisova 11, tinha pelo menos 13 anos de idade quando morreu por razões desconhecidas.

As espécies humanas Homo neanderthalensis e Homo denisova desapareceram há cerca de 40 mil anos. O primeiro grupo viveu na Europa e na Ásia, enquanto o segundo foi encontrado apenas na caverna onde o fragmento foi recolhido.

Estudos genéticos já mostravam a ocorrência do cruzamento entre os dois grupos, da mesma forma como ocorreu com o Homo sapiens, deixando um traço no DNA nos humanos atuais. Entretanto, o estudo divulgado pela Nature é o primeiro a identificar um filho de pais neandertal e denisovan.

"Havia anteriormente provas de cruzamentos entre diferentes hominídeos ou grupos antigos de humanos", afirma Vivian Slon, pesquisadora do Instituto Max Planck para Antropologia Evolucionária de Leipzig e uma das autoras do estudo. "Mas essa é a primeira vez que encontramos um descendente direto de primeira geração", destacou.

"É fascinante encontrar uma prova direta dessa mistura", diz Svante Paabo, geneticista do Instituto Max Planck e coautor do estudo.

Ele se diz surpreso com a descoberta, por haver relativamente poucos vestígios de grupos de outras espécies humanas que coexistiram com o Homo sapiens. Encontrar sinais de um descendente dos grupos neandertal e denisovan, que são mais distintos entre si do que quaisquer outros grupos humanos atualmente existentes, parece um raro golpe de sorte, afirmou.

"O simples fato de termos encontrado esse indivíduo de origem mista neandertal e denisovan sugere que o cruzamento entre raças ocorria com mais frequência do que pensávamos", diz Slon. "Eles devem ter tido filhos juntos com alguma frequência, ou não teríamos essa sorte", completa Paabo.

Um Homo sapiens encontrado na Romênia, de 40 mil anos, com traços de um ancestral neandertal de algumas gerações anteriores, reforça essa noção. Provas mais decisivas do cruzamento entre grupos diferentes estão nos genes dos humanos atuais. Cerca de 2% do DNA de indivíduos não africanos em todo o mundo se origina dos neandertais.

Os remanescentes dos denisovan estão bastante espalhados, mas de modo desigual. "Encontramos traços de DNA denisovan - menos de 1% - em toda a Ásia e nos indígenas nativos da América", explica Paabo. "Os aborígenes australianos e as pessoas da Papua Nova Guiné possuem cerca de 5%."

A nova descoberta pode ajudar a responder à questão de por que os neandertais desapareceram há cerca de 40 mil anos, após terem se espalhado por partes da Europa Central e Ocidental. Especula-se que tenha sido por doenças, mudanças climáticas, genocídio pelas mãos dos Homo sapiens ou uma combinação desses fatores.

RC/lusa/afp/ap

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