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Paulo Artaxo: "o desenvolvimento sustentável é a nossa única saída"

21 nov 2018 - 16h07
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A lista de premiações, títulos, honrarias e menções honrosas recebidos por Paulo Artaxo é das mais extensas entre os cientistas que estudam mudanças climáticas em todo o mundo. Livre-docente em física atmosférica pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutor pela Universidade Harvard (EUA), Artaxo é membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da World Academy of Sciences (TWAS) e de oito painéis científicos internacionais, entre eles o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) - onde integrou a equipe vencedora do Prêmio Nobel da Paz de 2007.

Foto: DINO / DINO

Filho de escrivão, o cientista começou a vida profissional como office-boy no cartório onde o pai trabalhava na Zona Norte de São Paulo, antes de ser aprovado no vestibular para o curso de Física na Universidade de São Paulo (USP). Queria entender como o mundo funciona e dedicou seus últimos 40 anos de vida à ciência e, sobretudo, à física aplicada à Amazônia e aos eventos de mudanças climáticas.

Ao longo de sua carreira, o professor do Instituto de Física da USP (IFUSP) publicou mais de 400 artigos científicos, 19 deles nas duas mais importantes revistas do segmento, Science e Nature - e foi listado como um dos pesquisadores mais citados do mundo pela plataforma Highly Cited Researchers.

Paulo Artaxo recebeu a equipe de bluevision para falar sobre a importância da Amazônia, efeitos das mudanças climáticas, ações de proteção ambiental e políticas públicas para a ciência e a sustentabilidade. Confira.

Como começou seu interesse pela ciência e como ele se direcionou para estudos climáticos?

Paulo Artaxo: Desde a adolescência sempre fui muito curioso e interessado em entender como as coisas no nosso planeta funcionam. São sentimentos que despertaram muito cedo na minha vida. Daí para entrar em curso de Física e se tornar um cientista foi um processo quase automático. Sempre quis entender os processos físicos que ocorriam e o que se observava na atmosfera e no planeta como um todo. Aí fiz o curso de Física e comecei a me interessar. Fiz meu mestrado em física nuclear para aprender a base da ciência e o método científico e depois comecei a me interessar por física aplicada ao meio ambiente. Assim, passei a trabalhar com questões relacionadas à poluição do ar e às mudanças climáticas.

E os estudos sobre a Amazônia?

No caso da Amazônia, é um ecossistema muito pouco compreendido e que tem um complexo relacionamento com questões planetárias mais gerais, tanto no ciclo biológico como no ciclo de carbono, e também nos mecanismos de formação de nuvens. A Amazônia é uma região onde a biologia da floresta está muito ligada ao funcionamento químico da atmosfera e ao funcionamento físico do clima. É uma plataforma ideal para estudos interdisciplinares que envolvam biologia, química, física, estudos sociais e assim por diante. A Amazônia é o laboratório perfeito do ponto de vista científico para entender questões relevantes para o clima de nosso planeta.

Desde os anos 1970 você estuda a Amazônia e as consequências de sua degradação. Por que a Amazônia é tão importante para o clima global e quais os riscos de continuarmos explorando a região de forma inadequada?

A Amazônia armazena uma quantidade brutal de carbono, em torno de 100 a 120 teragramas de carbono. Para se ter uma ideia do que significa, é o equivalente a dez vezes a quantidade de carbono que é emitido pela queima de combustíveis fósseis a cada ano. Ela é absolutamente chave e estratégica nas mudanças climáticas globais. Se todo carbono que está sendo armazenado na Amazônia for, mesmo que lentamente, jogado para a atmosfera, isso vai agravar o efeito estufa de maneira significativa, aumentando a frequência de eventos climáticos extremos e as alterações do ciclo hidrológico, com consequências significativas para o clima global de nosso planeta. A Amazônia é uma das maiores fontes de vapor de água para atmosfera global e por isso tem impacto importante na chuva que ocorre nos Estados Unidos, Europa e todo o globo. A Amazônia é chave na questão climática e na questão de biodiversidade, contém a maior biodiversidade do planeta em qualquer ecossistema terrestre. Entender o relacionamento entre essa biodiversidade e o funcionamento ambiental do planeta é chave para as mudanças climáticas.

Alguns estudos mostram que a Amazônia não sequestra mais dióxido de carbono como antes. Isso é verdade?

Até 2013 e 2014, a Amazônia estava absorvendo carbono da atmosfera a uma taxa na ordem de 0,5 tonelada de carbono por hectare por ano. Mas, infelizmente, nos últimos anos, o trabalho que a floresta executa para o planeta, de retirar dióxido de carbono da atmosfera, está sofrendo uma redução muito drástica. Isso principalmente por causa de: primeiro, desmatamento; segundo, aumento da frequência de eventos climáticos extremos na Amazônia. As secas de 2005 e de 2010 trouxeram estresse hídrico muito grande para o ecossistema e fizeram com que o ecossistema passasse a perder carbono. O outro aspecto é o aumento do desmatamento: na Amazônia se desmatou 5 mil quilômetros quadrados entre 2011 e 2012; em 2017, foram desmatados 8 mil quilômetros quadrados. Esse enorme aumento na taxa de desmatamento está fazendo com que a floresta amazônica perca carbono para a atmosfera, agravando o efeito estufa.

Quais são as melhores práticas de preservação da Amazônia para reverter esse quadro?

O Brasil teve um enorme sucesso na redução do desmatamento da Amazônia de 2004 até 2012: uma redução de 27 mil quilômetros quadrados, em 2004/2005, para cerca de 5 mil quilômetros quadrados em 2011/2012. Então, foram implementadas políticas públicas muito eficientes, que funcionaram e também mostraram que, se o governo brasileiro quiser reduzir o desmatamento da Amazônia, isto é possível, é factível e não custa rios de dinheiro - basta ter vontade política.

Leia mais em: http://bluevisionbraskem.com/inteligencia/paulo-artaxo-o-desenvolvimento-sustentavel-e-nossa-unica-saida

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