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Coronavírus

Por que a transmissão da covid no Distrito Federal cresceu, enquanto diminuiu no resto do País?

Fatores como eficácia da vacina em idosos, ligação da capital com o restante do País e flexibilização de medidas restritivas podem ter contribuído para o aumento da contaminação no Distrito Federal

15 out 2021 - 15h11
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BRASÍLIA - A taxa de transmissão da covid-19 no Distrito Federal cresceu no último mês, enquanto a média nacional baixou. Os casos graves da doença em idosos com mais de 80 anos, entre agosto e setembro, superaram o pico de março deste ano, mês em que o País enfrentou o pior período da pandemia. O cenário poderia ter sido pior, não fosse a vacinação.

Na avaliação do pesquisador da Fiocruz e coordenador do InfoGripe, Marcelo Gomes, os números do DF podem refletir uma combinação de fatores: a diminuição da eficácia das vacinas nos idosos, o avanço da variante Delta, o aumento das atividades presenciais de trabalho e lazer e o relaxamento de medidas restritivas. Juntas, as condições podem ter levado a um crescimento no número de casos da doença.

O governo do Distrito Federal foi um dos primeiros a flexibilizar a entrada de público em estádios de futebol. Em julho, houve liberação de torcedores para 25% da capacidade máxima das arenas, com exigência de comprovante de vacinação, teste de covid, uso de máscara e distanciamento.

Gomes afirma que mesmo um ambiente aberto pode oferecer riscos. "O uso de máscaras nos estádios está fraquíssimo, com raríssimas e honrosas exceções. Muita gente próxima, sem máscara e cantando. Não vai ser o espaço aberto que vai resolver", explicou ao Estadão. "Qual é o contexto desse convívio, dessa interação em local aberto? Se é com muita gente próxima, continua sendo um ambiente de risco. Ele só não é tão ruim quanto se fosse num local fechado. Mas ainda assim confere risco e a máscara é fundamental. Boa e bem ajustada."

Outro fator que pode ter influenciado o aumento da transmissão da doença no Distrito Federal é a grande circulação de pessoas de todos os Estados do País. "Tem um fator muito particular em Brasília que a torna muito exposta ao que está acontecendo nas outras localidades", disse.

"O Rio de Janeiro teve um avanço muito forte da Delta. Isso, consequentemente, faz com que o Distrito Federal dificilmente consiga caminhar num cenário distinto. Se está se espalhando lá, ou em São Paulo, para o DF transborda muito rapidamente. Temos um fluxo intenso, diário, de pessoas indo e vindo de Brasília para todo o País."

Internações. Dados do novo boletim InfoGripe mostram que os casos graves da covid em idosos com mais de 80 anos no DF, entre agosto e setembro, superou o pico de março deste ano. O documento foi divulgado nesta quinta-feira, 14.

Na faixa etária entre 70 e 79, a forma mais séria da doença atingiu de 50% a 70% dos idosos que adoeceram em março. O documento indica também que o crescimento acentuado de casos graves em pessoas com mais de 70 anos parece ter sido interrompido.

O pesquisador declarou que o cenário no DF "serve de alerta para os demais Estados". "Se a gente baixa demais a guarda e assume que o problema já acabou, é meio caminho andado para a gente ter esse mesmo cenário se repetindo", disse.

"A grande preocupação é que isso que aconteceu no RJ e agora no DF possa ser realidade nos demais Estados daqui para frente. Algo que, por questões locais, esteja acontecendo em momentos distintos."

O pesquisador acrescentou que as demais faixas etárias não foram tão afetadas quanto os mais idosos por conta da "proximidade da 2ª dose da vacina nos demais adultos". A imunização "acabou protegendo o restante da população".

"Se a gente for pensar em casos em geral na população, a coisa tende a ter sido bastante forte para poder chegar a esse patamar de internações nos mais idosos. Isso é reflexo de uma transmissão na população, em geral, bastante expressiva. A vacina, felizmente, dá uma mascarada por conta da proteção nas demais faixas etárias", disse.

Contaminação. A taxa de transmissão da covid no DF, chegou a 1,06 na quarta-feira, 13, segundo o boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde. Isso significa que 100 pessoas infectadas transmitem a doença para 106. O valor é menor do que o registrado no dia anterior, quando a taxa estava em 1,08.

O índice do DF está mais alto do que a taxa de transmissão nacional. O Imperial College registrou, na segunda-feira, um índice de 0,60 no País, com margem de erro para mais (0,79) ou para menos (0,24). Neste cenário, 100 pessoas transmitiriam a covid para outras 60.

O diretor de Vigilância Epidemiológica do DF, Fabiano dos Anjos, afirmou nesta quinta que a transmissão da variante Delta se tornou comunitária, mas não provocou um aumento de casos "considerável". De acordo com ele, a secretaria de Saúde melhorou a captação de exames de diagnóstico da doença, o que contribui para o aumento no número de casos.

Fabiano dos Anjos declarou ainda que a taxa de transmissão, por si só, não é um bom indicador da doença. "Precisamos avaliar também as nossas taxas de hospitalizações, o que nós temos de casos graves, o que nós temos de casos leves e óbitos. Hoje, esses dois indicadores, óbitos e internação, são indicadores muito favoráveis", disse.

"A vacina reduz agravamento de casos e óbitos. Então, que as pessoas possam se vacinar para que a gente tenha, além da diminuição dessa dinâmica de transmissão, que de fato ela se torne uma transmissão que seja leve e tranquila e que não cause tantos danos às pessoas."

Segundo a Secretaria de Saúde do DF, a vacinação de idosos com mais de 70 anos passou dos 100%. O número considera a imunização em idosos de outros estados que foram vacinados no DF.

Estadão
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