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Coronavírus

Kalunga, Tok & Stok e mais 16 empresas adiam IPO em meio à crise da covid-19

Recorde de mortes, atraso em vacinação e o constante ruído político em Brasília ampliam grupo de empresas que estão desistindo de abrir capital na Bolsa brasileira; movimentos podem tirar R$ 15 bi do mercado

5 abr 2021 - 23h01
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O descontrole da pandemia de covid-19 e as constantes crises políticas em Brasília ampliaram o grupo de empresas que adiaram a abertura de capital na Bolsa brasileira. Desde o início do ano, 18 empresas cancelaram oficialmente suas captações, incluindo a Kalunga e a Tok & Stok. Esse "estoque" de desistências representa um volume de R$ 15 bilhões que deixará de ser movimentado. No entanto, segundo apurou o Estadão, a tendência é que o total de cancelamentos cresça em meio ao desânimo com a economia nacional em tempos de recordes de mortes por coronavírus.

Uma das candidatas que cancelaram sua oferta, sob a alegação de condições desfavoráveis do mercado, foi a Agrogalaxy, empresa de varejo de insumos agrícolas, que chegou a lançar uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) que poderia movimentar R$ 1,4 bilhão. Ela foi obrigada a suspender a operação por não encontrar demanda entre os investidores, deixando claro um mercado muito mais seletivo.

O total de empresas na fila para fazer uma oferta nos próximos meses, com pedido para registro junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ainda é grande, com mais de 40 companhias, incluindo o Grupo Avenida, o aplicativo Getninjas e a Caixa Seguridade, subsidiária de seguros da Caixa Econômica Federal que planeja encarar a maior volatilidade do mercado e aversão às estatais.

Uma fonte de um banco de investimento frisa que o mercado não está fechado para as ofertas, mas os investidores estão mais seletivos e pedindo mais desconto em relação aos preços das companhias. "As empresas mais sensíveis ao preço estão adiando a oferta", comenta a fonte, que falou em condição de anonimato. "A janela está aberta, mas a demanda está mais magra", diz uma outra fonte.

Redução de expectativas

A maior aversão ao risco ocorre após uma primeira janela do ano para emissões de grande movimento, com um volume movimentado de mais de R$ 30 bilhões na Bolsa brasileira, considerando não somente os IPOs, mas também as ofertas subsequentes (follow-ons) de empresas já listadas. Depois desse "boom", a previsão inicial era de que as ofertas previstas para os próximos meses pudessem girar mais de R$ 50 bilhões, o que não deverá mais se concretizar.

Uma terceira fonte, também de um banco de investimento, afirma que hoje 80% das ofertas que estão na fila devem esperar outro momento devido à aversão ao risco que cresceu ao longo do mês passado. Com isso, apenas algumas conseguirão ter sucesso na atual conjuntura, que é bem diferente da que se observava em janeiro e fevereiro. A fonte acrescenta que os investidores estrangeiros, que desde o fim do ano passado estavam direcionando um fluxo maior ao Brasil, estão muito mais seletivos neste momento.

Termômetro de risco

A primeira oferta de peso da atual janela será a da Diagnósticos da América (Dasa), dona da rede de diagnóstico Delboni Auriemo, que precifica uma oferta subsequente de cerca de R$ 6 bilhões na próxima semana. Ela dará o tom do apetite do mercado. Uma fonte disse, contudo, que essa oferta já encara um ambiente de maior desafio. Por ora, a Mater Dei é a "queridinha" entre os negócios do setor que estão na fila do IPO.

O setor de saúde, por conta da demanda dos investidores, acabou atraindo muitas empresas em busca de uma captação via bolsa de valores. Além de Dasa e Mater Dei estão na rua com ofertas O Hospital Care Caledônia, a farmacêutica Blau, e da Viveo, da CM Hospitalar, de distribuição de material hospitalar e medicamentos.

O sócio do Rolim, Viotti, Goulart, Cardoso Advogados, Fabio Appendino, afirma que a volatilidade dificulta a definição de preço das ações. "Isso pode afetar a rentabilidade futura dos negócios e sua consequente geração de caixa, base para a determinação da avaliação das companhias e, consequente, do preço das ações lançadas no IPO", comenta.

Já o sócio do PGLaw e professor na USP, Carlos Portugal Gouvêa, lembra que a volatilidade cria um ambiente de mais desafios para ofertas de ações mesmo em mercados de capitais mais maduros. Por outro lado, ele frisa que o cenário de juros muito baixos no Brasil acaba beneficiando o setor de renda variável, incluindo a Bolsa. "Algumas dessas companhias têm números muito bons e agora têm provas de que podem passar bem por testes de estresse, como a própria crise", comenta.

Procurada, a Açu Petróleo disse que mantém a intenção em fazer o IPO em momento oportuno, o que deve ocorrer nos próximos 12 meses. "Todos os planos de investimento da companhia estão mantidos e reforçados para 2021", frisou. A Paschoalotto afirmou que o pedido de desistência ocorreu por conta do "momento de volatilidade do mercado e crise sanitária ainda em curso". A GranBio afirmou que adiou sua estratégia de abertura de capital para o segundo semestre de 2021.

A MRV, controladora da Urba, disse que acredita no grande potencial da empresa e que "vai aguardar o momento oportuno para voltar ao mercado de capitais". A Tok&Stok, por sua vez, disse que por conta de falta de condições ideais de mercado decidiu suspender o IPO e seguir, neste momento, por meio de recursos disponíveis. Segundo o presidente da companhia, Octávio Pereira Lopes, o objetivo é ser uma empresa de capital aberto no médio prazo. Já a Yuny disse que o pedido de desistência do IPO se tratou de uma "decisão estratégica de negócios". A companhia frisou que sua opção foi de aguardar melhores condições de mercadopara que sua precificação seja mais alinhada às expectativas da empresa.

As demais empresas que desistiram do IPO neste ano não comentaram.

Estadão
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