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Coronavírus

Influenciadora muçulmana, Mariam Chami combate o preconceito com o humor

Com 770 mil seguidores, ela usa o Instagram para tirar dúvidas sobre islamismo e debater Machismo, opressão e relacionamento

2 jul 2022 - 05h10
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"Ando de ônibus, adoro uma promoção, vou no sacolão, dirijo, cuido do meu filho, faço tudo como as outras pessoas", enfatiza Mariam Chami.

A empresária e influenciadora muçulmana ficou conhecida nas redes por combater o preconceito religioso de forma leve e humorada. "Sempre tento responder às pessoas com humor porque acho que é mais fácil a gente aprender de uma forma leve do que algo imposto, sabe?", reflete.

Suas inspirações para os vídeos são as situações discriminatórias que ela mesma viveu durante sua vida e as perguntas que normalmente fazem sobre a sua religião. "Meu objetivo nunca foi converter ninguém, mas mostrar que somos iguais a todo mundo e acabar com o preconceito", diz.

"A religião é para ser algo leve, não uma coisa que te deixe com medo. Vivendo a minha religião assim, eu levo informação a partir da desinformação. Consigo responder às pessoas que são intolerantes a partir da intolerância delas." Com esse pensamento, a influenciadora Mariam Chami passou a falar sobre o islã, religião em que foi criada, nas redes sociais.

Tudo começou com um grupo de WhatsApp para trocar informações sobre a religião. Hoje, ela fala em uma conta no Instagram com 770 mil seguidores. "Existem outras influenciadoras muçulmanas, mas nenhuma tem a maneira como eu falo e me comporto, porque é a minha personalidade, sou eu ali", afirma Mariam. "Eu acho que consegui atingir muitas pessoas porque elas se identificaram com esse meu jeito 'gente como a gente'."

Esse jeito que ela descreve é repleto de sarcasmo, que ela usa nos vídeos para ironizar preconceitos ou responder a dúvidas sobre islamismo de maneira divertida. "Mais de 90% do meu público não é muçulmano. As pessoas estão indo atrás de tirar os preconceitos que elas têm e conhecer uma nova cultura, uma nova religião."

INTOLERÂNCIA

Durante a infância, Mariam não se sentia diferente das outras meninas da escola. Afinal, filha de pai libanês e mãe mineira convertida, sempre estudou em uma comunidade islâmica de São Paulo.

Quando ingressou na faculdade de Nutrição, no entanto, ela era uma das únicas muçulmanas da escola. E, apesar da dificuldade de se enturmar, o problema real surgiu depois de formada. "Sofri situações claras de preconceito e intolerância", recorda. Isso além dos xingamentos que ouvia ao sair na rua, quando lhe falavam para voltar ao seu país ou a chamavam de "mulher-bomba".

O jeito foi se reinventar: os comentários ofensivos foram transformados em pautas para vídeo e o hijab (véu islâmico) se tornou símbolo de empoderamento para falar sobre a mulher muçulmana nas redes.

"O islamismo é um estilo de vida. Com ele você aprende como tratar seu vizinho, seu país, seu marido, como ele deve te tratar, o que você deve ensinar aos seus filhos. Então a religião está envolvida em todas as coisas da vida", argumenta ela.

Por isso mesmo seus vídeos abordam desde o uso do hijab e as rotinas de oração e jejum até os cuidados com o cabelo, a maternidade com o filho, Abudi, de 2 anos, moda e maquiagem.

"Todo mundo se apega ao que não pode no islamismo, mas a gente pode muito mais coisas do que não pode."

LEVEZA PARA COMBATER O PRECONCEITO

O formato de vídeo bem-humorado que Mariam prepara hoje surgiu em 2019. Antes, ela falava sobre religião de um jeito mais impessoal, colocando seus pensamentos de maneira mais séria. "As coisas aconteceram muito rapidamente com a pandemia e eu percebi que meu conteúdo poderia atingir muitas pessoas e ter uma reprodução legal", lembra.

Dito e feito. Seus vídeos alcançam milhões de visualizações nas redes, especialmente aqueles que abordam o relacionamento com o marido, Mahmmud Mashni. "Eu sabia que a religião não tem essas coisas de opressão com a mulher, mas sei que a sociedade, como um todo, oprime a mulher - independentemente da religião. A questão do machismo é enraizada."

Mariam brinca sobre seus ciúmes, as tarefas do marido com a família e até com o que ela chama de "casamento arranjado" pelo Mark Zuckerberg - afinal, foi no Facebook que eles dois se conheceram.

Ela diz que amigos, familiares e até líderes religiosos apoiam seu trabalho, uma vez que espalha informação e ajuda a diminuir a intolerância. "Meu trabalho é importante, principalmente para ter pessoas mais tolerantes, que respeitem as escolhas dos outros. Para as pessoas verem que, independentemente da religião, a gente pode conseguir o que quiser, que é possível ir atrás dos nossos sonhos."

Estadão
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