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Coronavírus

Dois terços dos paulistanos discordam de veto à Coronavac

Conforme pesquisa Ibope/Estadão/TV Globo, os mais pobres discordam mais da postura do presidente

31 out 2020 - 18h01
(atualizado às 18h20)
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Dois terços dos paulistanos discordam do veto do presidente Jair Bolsonaro à compra de uma vacina chinesa contra a covid-19, mostra pesquisa Ibope/Estadão/TV Globo. Realizado com 1.204 pessoas entre os dias 28 e 30 de outubro, o levantamento quis saber se os entrevistados concordavam ou discordavam de Bolsonaro na decisão de não comprar o imunizante desenvolvido na China mesmo que ele seja aprovado pelas autoridades competentes da área da saúde. A maioria absoluta dos participantes da pesquisa (54%) disse discordar totalmente da postura do presidente. Outros 13% afirmaram "discordar em parte".

Entre os apoiadores da decisão, 19% relataram concordar totalmente com Bolsonaro e 8% disseram concordar em parte. Dois por cento afirmaram não concordar nem discordar e outros 3% não souberam opinar ou não responderam. A margem de erro da pesquisa é de três pontos porcentuais, para mais ou para menos.

Presidente Jair Bolsonaro recua de acordo para compra de vacina chinesa
Presidente Jair Bolsonaro recua de acordo para compra de vacina chinesa
Foto: Marcos Corrêa/ PRESIDENCIA DA REPUBLICA / Estadão Conteúdo

No último dia 21, Bolsonaro afirmou, em entrevista à Rádio Jovem Pan, que não comprará a vacina desenvolvida na China mesmo se ela receber registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O presidente referia-se à Coronavac, imunizante desenvolvido pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantã e que está na última etapa de testes clínicos no Brasil. Naquele mesmo dia, ele havia desautorizado o ministro Eduardo Pazuello e vetado a compra de 46 milhões de doses do produto pelo Ministério da Saúde.

Os mais jovens são os mais críticos a essa postura de Bolsonaro. Entre os entrevistados de 16 a 24 anos, 78% disseram discordar do presidente totalmente ou em parte. A faixa etária de 35 a 44 anos é a única em que a maioria absoluta não discorda totalmente do presidente: são 49% nessa situação. Mas na soma das respostas dos que discordaram em algum grau nesse grupo, o porcentual ainda é alto: 68%.

Na análise por sexo, as mulheres demonstram postura um pouco mais crítica: 69% de discordância das participantes do sexo feminino, ante 65% dos entrevistados homens. Pouca diferença também nas respostas segundo raça/cor dos entrevistados. De acordo com a pesquisa, o índice de pretos e pardos que discordam do posicionamento do presidente (69%) é levemente superior ao observado entre brancos (65%).

No recorte por renda familiar, são os mais pobres os que mais discordam da postura do presidente. No grupo que ganha até um salário mínimo, 59% disseram discordar totalmente de Bolsonaro e outros 12% afirmaram discordar em parte, totalizando 71% de desaprovação. Os entrevistados no grupo de renda entre 2 e 5 salários mínimos têm o menor índice de discordância: 66%.

Os participantes com ensino superior são os que mais reprovaram a conduta do presidente: 59% de discordância total nesse grupo, ante 49% entre os entrevistados com ensino médio.

A maior diferença foi observada quando os dados foram analisados conforme a religião do entrevistado. Enquanto entre os católicos, o índice de discordância é de 72%, entre os evangélicos, a taxa ficou em 57%.

Especialista. Para Natalia Pasternak, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo e presidente do Instituto Questão de Ciência, o resultado demonstra que, independentemente de preferências políticas, a população confia nas vacinas e acredita nos órgãos regulatórios. "A maioria das pessoas sabe que quem é responsável por determinar se uma vacina é segura ou não é a autoridade de saúde. Elas entendem que a vacina contra a covid, desde que tenha eficácia e segurança, é a melhor ferramenta para voltarmos à normalidade. Além disso, a população brasileira, por todo o histórico do Programa Nacional de Imunizações, tem confiança nas campanhas de vacinação."

Governo. A posição de Bolsonaro cria discordância dentro do próprio governo. Ontem, o vice-presidente Hamilton Mourão afirmou, em entrevista à revista Veja, que a polêmica em torno da Coronavac é "briga política" com o governador João Doria e disse que "é lógico" que o governo federal vai comprar o imunizante.

"Já colocamos os recursos no Butantã para produzir essa vacina. O governo não vai fugir disso aí", afirmou o vice-presidente à revista.

Estadão
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