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Coronavírus

Com home office, hotéis dedicados ao turismo de negócios têm ocupação de apenas 25%

Executivos costumam ser responsáveis por 70% das receitas dos hotéis de alto padrão; para sobreviver, redes reduzem operações, demitem funcionários e 'inventam' novos usos para os quartos

16 abr 2021 - 18h01
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Assim como ocorre nas companhias aéreas, nos hotéis de alto padrão os viajantes a negócios são os principais clientes. Eles costumam gerar 70% da receita nesses empreendimentos, segundo o World Travel & Tourism Council (organização que reúne o setor de turismo globalmente). Hoje, porém, a ocupação média nas redes hoteleiras corporativas não chega a 25%, de acordo com a Associação Brasileira de Agência de Viagens Corporativas (Abracorp).

Um dos hotéis de São Paulo mais populares entre executivos, o Grand Hyatt tem conseguido alguns "picos" de ocupação de 28%. A unidade, onde 92% do público costumava ser corporativo, não chegou a fechar no momento mais restrito da quarentena, dado que há executivos estrangeiros que moram no local, mas a ocupação caiu a 10% nesse período. Em tempos normais, essa taxa gira ao redor dos 70%.

Nos últimos meses, o Hyatt tem percebido uma mudança na clientela. Houve um aumento de reservas feitas sobretudo por pessoas que moram na cidade de São Paulo ou próximo a ela e que se hospedam por lazer.

O diretor de marketing e vendas do Grand Hyatt São Paulo, Thiago Castro, admite que o turismo corporativo deve se recuperar mais lentamente que o de lazer, mas diz acreditar que o Hyatt pode sofrer menos que o segmento em geral. Isso porque o hotel hospeda principalmente executivos de alto escalão, que vão à cidade inclusive para reestruturar operações de suas empresas e que podem retomar as viagens antes da maioria dos viajantes corporativos.

Na área de eventos, o Hyatt costuma receber mais lançamentos de produtos, e menos encontros de funcionários - o que também pode facilitar a recuperação, de acordo com Castro. "As empresas vão ser mais seletivas em aprovar viagens, mas lançamento de produto é nova fonte de receita para elas. Por mais que veja que seremos afetados e que o processo de recuperação será longo, acho que o impacto será menor que em hotéis de perfil diferente."

Novo aliado do home office

O Hyatt criou um produto para, durante a quarentena, atrair executivos que precisam trabalhar remotamente mas não têm tranquilidade em casa. Nesse caso, o hóspede paga para usar um quarto transformado em escritório. Segundo Castro, porém, o público ainda é pequeno. "São profissionais que pagam do próprio bolso para usufruir disso. Acho que essa é uma barreira. Como tudo está sendo repensado agora, talvez empresas comecem a conceder isso como benefício. Aí pode haver uma mudança", diz.

O grupo Accor também criou produtos semelhantes. Em maio do ano passado, lançou o "room office", quartos alugados para trabalho e que estão em 152 hotéis dos 321 que a rede tem no País. Até agora, o produto rendeu 1.500 diárias para a companhia na América do Sul. A empresa ainda trouxe para o Brasil espaços de trabalho em áreas comuns dos hotéis e salas para reuniões a partir de três pessoas, além de ter fechado uma parceria com a Microsoft para oferecer ferramentas de tecnologia em seus espaços corporativos.

Todas essas medidas buscam aumentar a ocupação e a receita do grupo, que, em média, tem dois terços de sua origem no setor corporativo. No ano passado, a Accor registrou, na América do Sul, queda de 61,9% na receita por quarto disponível e teve uma ocupação média de 23% - em 2019, a taxa havia ficado em 57%.

A rede estima que haverá uma redução permanente entre 7% e 10% da clientela corporativa no pós-pandemia. O diretor comercial do grupo na região, André Sena, afirma, no entanto, que os produtos novos ofertados podem compensar parte da receita perdida.

Expectativa de recuperação

O presidente-executivo da Abracorp, Gervasio Tanabe, diz que o setor espera o início da recuperação entre agosto e setembro, quando a vacinação estiver mais avançada. Para ele, deve, sim, haver uma redução definitiva no segmento, mas ainda não é possível afirmar a proporção dela. O executivo aposta que viagens de treinamento serão mais afetadas, enquanto as comerciais, menos.

Tanabe conta que, até agora, 65% dos funcionários das empresas associadas à entidade foram demitidos. Antes da pandemia, essas companhias empregavam 7 mil pessoas. A Abracorp não tem, entretanto, dados de empregos de todo o setor.

Em uma das maiores agências de viagem corporativa do País, a Maringá Turismo, o quadro de funcionários tem sido mantido com o caixa acumulado em anos anteriores, apesar de o faturamento da área de turismo de negócios do grupo ter caído 90% por vários meses de 2020. Considerando as outras unidades de negócios da empresa - que também atua com turismo de lazer e eventos -, a retração na receita foi de 76% no ano. "Conseguimos, por milagre, manter 24%", diz Marcos Arbaitman, presidente da companhia.

Ao contrário das consultorias, Arbaitman não acredita que o segmento vá recuar de forma definitiva. "Sempre fui otimista e acho que o retorno (do turismo a negócios) vai ser enorme. Nossa esperança é que isso cresça em virtude do tempo em que ficou tudo parado. Já estamos preparando eventos físicos para junho", diz o empresário.

Estadão
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