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Coronavírus

Azul e Gol lideram ganhos da Bolsa com aumento de interesse dos investidores pelas aéreas

Com os avanços na criação de uma vacina para o coronavírus, investidores de todo o mundo voltaram a se animar com o setor; desde agosto na B3, Azul e Gol já subiram 26,74% e 18,39% cada

16 set 2020 - 08h10
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Azul e Gol estão entre as maiores quedas do Ibovespa neste ano - perdem 51,70% e 42,45% de seus valores, respectivamente. Nos últimos 30 dias, porém, o sinal é outro: os dois ativos têm as maiores altas do índice, de 26,74% e de 18,39%, respectivamente. O movimento não é casual, nem mesmo local. Apesar das idas e vindas, os sinais de que uma vacina contra a covid-19 está cada vez mais próxima animam os investidores a voltarem ao setor, o primeiro e mais afetado pela pandemia em todo o mundo.

A "volta" às ações de aéreas é um movimento mundial. Bancos de investimento passaram a ver a possibilidade de ganhos interessantes nos próximos meses para quem comprar os papéis agora, porque à medida em que as vacinas forem aprovadas e começarem a ser aplicadas, os preços devem subir, antecipando a volta dos passageiros aos céus. Até lá, saem na frente as empresas que melhor administraram caixa e dívidas.

No início de setembro, o Goldman Sachs elencou a clientes quatro tipos de ações que a vacina beneficiará. Um dos grupos era o de empresas que devem ter uma retomada de seus negócios quando a pandemia deixar de ser uma ameaça tão grande, e nele, estava a americana United Airlines, que cai 57,84% em 2020. "A recuperação no tráfego aéreo segue baixa, mas o foco da United em aumentar a liquidez e reduzir a queima de caixa ajuda a navegar a pandemia melhor do que esperávamos", escreveu o banco.

O Bank of America engrossou o coro ontem ao escrever que o tamanho do caixa e quanto dinheiro está saindo dele são os dois pontos mais importantes para diferenciar uma aérea da outra em um cenário em que, nos Estados Unidos, as receitas do setor caíram 75% em relação a 2019. "Continuamos a acreditar que as companhias com maiores colchões de liquidez devem ser as que sairão mais bem posicionadas da crise", escreveram Andrew G. Didora e Emma Young.

A Azul fechou o segundo trimestre com R$ 2,3 bilhões no caixa, acima do que a própria empresa esperava para o período. A Gol, por sua vez, ficou com R$ 2,1 bilhões disponíveis após amortizar uma dívida de US$ 300 milhões com a Delta no último dia de agosto, o que, na visão do mercado, sinalizou que a redução dos recursos perdeu ímpeto. Uma combinação de redução drástica nos custos das companhias e vendas se recuperando explica o cenário menos pessimista.

Rotas menores

As duas aéreas brasileiras, porém, começam a se destacar em relatórios por dependerem mais de viagens a lazer e para visitar familiares do que os pares americanos, mais ligados ao turismo de negócios. Neste ponto, o Deutsche Bank ponderou ainda que se saem melhor as empresas que operam com rotas mais curtas, ponto a ponto, e não dependem tanto dos chamados hubs, aeroportos que conectam rotas menores às maiores, para encher suas aeronaves. Na visão do banco alemão, Gol e Azul estão neste grupo.

A resiliência das rotas menores é um fenômeno mundial. A demanda global por voos (medida em passageiros quilômetros pagos, RPK) caiu 79,8% em julho na comparação com igual mês de 2019, segundo a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata). Menor que a baixa 94,1% registrada em abril, no pico da crise, o recuo foi amenizado pela demanda por voos nos mercados domésticos. Em julho, o indicador apresentou queda de 57,5%. No mercado internacional, entretanto, a queda no mês foi de 91,9% na comparação anual, revelando o maior desafio do setor.

Especialistas destacam que o mercado internacional deve voltar com tudo depois do surgimento de uma vacina. No momento, muitos governos ainda mantêm fronteiras fechadas para o tráfego aéreo, deixando em xeque o negócio das companhias, sobretudo na América Latina - que tem afetado de maneira sensível a colombiana Avianca e a chileno-brasileira Latam, ambas em recuperação judicial nos Estados Unidos.

Para Gol e Azul, o cenário é outro. "A Gol mostrou números melhores que em julho na malha de agosto. Em base anual, a queda ainda é muito expressiva. Mas quem gosta de tomar risco começa a olhar para esse setor", afirma Gabriel Machado, analista da Necton Corretora. Na visão dele, a Gol ainda embute mais riscos, por ter um balanço mais comprometido do ponto de vista financeiro. Isso aumenta os riscos - mas também deixa espaço para uma alta maior.

A montagem de posições vendidas através do aluguel de ambos os ativos, inversamente, vem perdendo popularidade. De acordo com Edson Gil Mariano, também da Necton, as taxas para alugar o papel da Azul têm sido de 0,45%, e da Gol, de 2,10%. São taxas extremamente baixas ante o que se viu no primeiro semestre, quando alugar a ação da Gol chegou a custar 30% ao ano, e a da Azul, 16%. "Não tenho feito muito aluguel das duas, e o preço unitário (PU) está se aproximando bem ao do mercado à vista", comenta./COLABOROU CRISTIAN FAVARO

Estadão
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