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Sair da 'bolha' para ouvir opiniões políticas diferentes pode acentuar polarização, sugere estudo

Pesquisa nos EUA identificou, entre republicanos, acentuação do conservadorismo após exposição a contas com posicionamento oposto no Twitter.

29 ago 2018 - 06h01
(atualizado às 08h04)
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Estudo verificou mudanças de posicionamento diante de pautas associadas a democratas e republicanos
Estudo verificou mudanças de posicionamento diante de pautas associadas a democratas e republicanos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

A formação de "bolhas" sempre rondou o debate sobre o papel das redes sociais na participação política. Uma das hipóteses mais levantadas é a de que a interação na internet, mediada por algoritmos, acabaria por aproximar quem pensa e vive parecido, e afastar o contraditório.

Mas os resultados de um estudo sociológico recém-publicado no periódico científico americano PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences) sugerem outra perspectiva: a de que a exposição a pontos de vista diferentes pode intensificar a polarização política.

Pesquisadores das universidades de Duke, Brigham Young e Nova York, nos Estados Unidos, "mediram" mudanças no posicionamento ideológico de usuários do Twitter após a exposição a contas associadas a orientações oponentes - aos Democratas ou Republicanos, partidos majoritários no país e, em linhas gerais, mais associados à esquerda e à direita, respectivamente.

Após o teste, republicanos apresentaram tendência substancial a manifestar posições mais conservadoras - em uma escala de sete pontos, um aumento de pelo menos 0,12 pontos (no caso de internautas que responderam aos questionários com mais assiduidade, o valor chega a 0,6 pontos; portanto, considera-se um intervalo de 0,11 e 0,59).

Já entre os democratas, houve uma pequena acentuação em posições liberais, mas esta foi estatisticamente insignificante.

Estudo se destaca pela abrangência

Posicionamento político muda após saída da 'bolha'? Pesquisadores americanos fizeram estudo com usuários do Twitter para responder à questão
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Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Segundo os autores, a pesquisa publicada no PNAS é uma das maiores sobre a relação entre posição política e redes sociais já feita: foram recrutados 1,6 mil usuários do Twitter. Eles foram remunerados e receberam, durante um mês, 24 mensagens por dia enviadas por robôs configurados para transmitir conteúdo de políticos, ativistas e veículos da mídia associados a um dos espectros ideológicos. Antes e depois desta exposição, eles preencheram questionários sobre algumas pautas.

No entanto, os pesquisadores reconhecem algumas limitações importantes, como o fato do grupo recrutado não ser representativo da população americana (sendo inclusive composto majoritariamente pela elite); ou a influência da remuneração e do conteúdo da mensagem na recepção dos tuítes.

"É possível que os usuários do Twitter simplesmente ignorem mensagens contraditórias na ausência de incentivos como estes (financeiros)", diz o artigo.

"É possível que nossas descobertas resultem de uma exposição maior a informações sobre política, e não exposição a mensagens contrárias por si só", acrescentam os pesquisadores em outro trecho.

Influência das redes sociais no posicionamento político é um campo novo e intrigante de estudos para a ciência
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Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Acentuação de posições conservadoras entre republicanos

Ainda de acordo com o artigo, uma vasta parte da literatura científica sugere que o contato entre grupos oponentes pode acabar diminuindo a polarização, uma vez que interações positivas levariam à quebra de estereótipos.

No entanto, o trabalho publicado no PNAS se aproxima de outras correntes. Uma delas indica que pessoas expostas a mensagens em conflito com seus pontos de vista acentuam a percepção das diferenças entre grupos e aumentam o comprometimento com crenças preexistentes.

Outro ramo da ciência aponta que conservadores, em contraposição a liberais, teriam maior tendência a persistir em suas crenças após a exposição a ideias diferentes.

"Isto se baseia na indicação de que conservadores se atrelam a valores que priorizam a certeza e a tradição, enquanto liberais valorizam a mudança e a diversidade", dizem os autores do artigo, liderado pelo sociólogo Christopher Bail.

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