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Nobel de Física reconhece estudos que moldaram o entendimento das mudanças climáticas

Paulo Artaxo, integrante do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC), explica o que são esses trabalhos e como eles ajudam no combate ao aquecimento global

5 out 2021 - 12h23
(atualizado às 16h22)
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Três cientistas que estudam sistemas complexos repartem o Prêmio Nobel de Física deste ano. O nipo-americano Syukuro Manabe e o alemão Klaus Hasselmann foram reconhecidos por seus trabalhos sobre mudanças climáticas, enquanto Giorgio Parisi destacou-se por suas contribuições revolucionárias à teoria de materiais desordenados e processos aleatórios.

Paulo Artaxo, integrante do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e professor colaborador no Departamento de Física Aplicada da Universidade de São Paulo (USP), diz que o aquecimento global é um dos temas mais relevantes da atualidade. Ele destaca que essa é a terceira vez em 26 anos que trabalhos relacionados ao impacto das ações do homem sobre o meio ambiente são premiados com o Nobel.

Em 1995, Paul Crutzen, Mario Molina e Sherwood Rowland dividiram o prêmio de Química por seus estudos sobre a decomposição do ozônio. Em 2007, o prêmio da Paz foi entregue ao integrante do Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas e ao ex-vice-presidente dos Estados Unidos Albert Al Gore por seus esforços para disseminar conhecimento acerca das mudanças climáticas.

Na entrevista abaixo, Artaxo explica os estudos dos cientistas premiados e a importância desses trabalhos para o combate à mudança climática.

O senhor esperava que o prêmio fosse entregue a estes pesquisadores?

Não. Foi totalmente inesperado. O Nobel de Física costuma premiar estudos relacionados à física básica e não à física aplicada. Desta vez, premiou pesquisas que tratam de importantes aplicações da física do clima. Por outro lado, o Nobel premia pesquisas relevantes e hoje há poucas coisas mais relevantes do que as mudanças climáticas.

Qual a contribuição das pesquisas do professor Syukuro Manabe?

Manabe foi pioneiro no desenvolvimento dos modelos climáticos globais. Ele criou o primeiro modelo climático na década de 1970, na Universidade de Princeton, quando os computadores eram "dinossauros". Isso permitiu um enorme avanço no entendimento das mudanças climáticas.

O que são modelos climáticos e como eles contribuem para os estudos sobre o aquecimento global?

São um conjunto de equações que buscam representar o clima de hoje e simular o clima do futuro. Não é algo fácil. As equações precisam ser feitas em super computadores.

Todas as previsões do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas são baseadas nesses modelos climáticos que hoje são muito mais sofisticados. Isso permite saber, por exemplo, o que esperar do aquecimento global no final do século.

Do que tratam os trabalhos de Klaus Hasselman?

Hasselmann desenvolveu seus estudos cerca de dez anos depois de Manabe. Ele basicamente desenvolveu métodos matemáticos que aprimoram os modelos climáticos. Suas descobertas ajudaram a melhorar a compreensão sobre as diferenças entre a variabilidade climática natural e aquela causada pelo homem.

Os dois estudam áreas muito parecidas, mas não trabalham juntos. Hasselmann é vinculado ao Instituto Max Planck para a Meteorologia (Alemanha) e Manabe é vinculado à Universidade de Princeton (EUA).

E os estudos de Parisi?

Os trabalhos dele são de física básica e envolvem os sistemas dinâmicos complexos que existem na natureza. O clima é um desses sistemas. Parisi desenvolveu métodos que têm aplicações na biologia, no meio ambiente, no clima e em várias outras áreas.

Como os trabalhos se interligam?

Os três pesquisam sistemas dinâmicos complexos, cada um na sua especialidade. O Manabe focou em modelos climáticos globais. Já o Hasselmann mirou na aplicação prática desses modelos, estudando como eles podem ajudar a separar a variabilidade climática natural da ação do homem. O Parisi trabalhou questões mais básicas, buscando compreender como estudar melhor os fenômenos muito complexos da natureza.

Estadão
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