PUBLICIDADE

Esquecimentos podem ser importantes para funcionamento do cérebro, diz estudo

Cientistas canadenses sugerem que 'deletar' informações facilita a tomada de decisões no dia a dia.

22 ago 2017 - 10h33
(atualizado às 10h39)
Compartilhar
Exibir comentários
Mulher com post it na testa
Mulher com post it na testa
Foto: BBC News Brasil

Qual foi o ganhador do Oscar de Melhor Filme em 1972?*

Se você acertou de primeira, sem apelar para o Google, parabéns. Mas poderia ser melhor não ter lembrado: um estudo de cientistas canadenses sugere que o esquecimento pode ser importante para a manutenção da memória.

O argumento é que "deletar" informações irrelevantes ajuda o cérebro a se concentrar em aspectos que possam ajudar a tomada de decisões no dia a dia.

"O verdadeiro papel da memória é otimizar o processo decisório", diz Blake Richards, cientista da Universidade de Toronto e principal autor do novo trabalho.

Segundo Richards, o grosso das pesquisas em neurobiologia relacionadas à memória prioriza os mecanismos celulares de armazenamento de informações pelo cérebro, um processo conhecido como persistência. E pouca atenção é dada ao mecanismos responsáveis pelo processo de esquecimento (transiência).

Também é comum que a falta de habilidade para lembrar seja atribuída a uma falha no armazenamento e acionamento de informações pelo cérebro.

"Encontramos bastante evidência de que há mecanismos promovendo a perda de memória e que são distintos dos envolvidos no armazenamento de informações", diz Paul Frankland, outro cientista participando do estudo.

Desenho de cérebro
Desenho de cérebro
Foto: BBC News Brasil

Frankland explica que um outro experimento realizado por seu laboratório no hospital infantil SickKids constatou que o crescimento de novos neurônios no hipocampo (estrutura cerebral considerada a principal sede da memória) parece promover o esquecimento. Em pessoas jovens, essa é area do cérebro que gera mais células.

Tal mecanismo pode explicar por que adultos normalmente não têm memórias para eventos ocorridos antes dos 4 anos de idade.

Em um texto publicado na revista científica Neuron, os cientistas canadenses fazem também referência a um experimento em ratos colocados em labirintos, que tiveram menos dificuldades para encontrar saídas diferentes quando foram drogados para esquecer a localização da saída anterior.

Richards explica que há duas grandes razões para explicar por que o cérebro gasta energia para deletar informações depois de também consumir reservas para armazená-las. A primeira é a necessidade de eliminar informações ultrapassadas.

"Se você está navegando pelo mundo e seu cérebro está constantemente carregando memórias conflitantes, isso tornará mais difícil tomar uma decisão consciente".

Rato em labirinto
Rato em labirinto
Foto: BBC News Brasil

A outra razão está ligada a um conceito usado em projetos de inteligência artificial, a regularização. Consiste em tentar fazer com que computadores aprendam a fazer generalizações com base em grande quantidade de dados. Para fazer isso, é necessário esquecer detalhes nos dados para priorizar a informação necessária para decisões.

"A melhor coisa para a memória não é guardar absolutamente tudo", diz Richards. "Se você está tentando tomar uma decisão, isso será impossível se seu cérebro é constantemente bombardeado com informações inúteis."

O cientista canadense questiona ainda o que chama de "idealização" de pessoas com boa memória.

"O objetivo da memória não é ser capaz de lembrar quem ganhou o quê em 1972", ressalta.

*O Oscar para Melhor Filme em 1972 foi para "Operação França"

veja também:

Porque o Miss Bumbum é diferente de outros concursos:
BBC News Brasil BBC News Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização escrita da BBC News Brasil.
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade