Vídeos mostram buzinaço em 2016 e protesto contra pedágio, não greve de caminhoneiros pró-Bolsonaro
REPRESENTANTES DA CATEGORIA NEGAM PARALISAÇÃO E DIZEM QUE PROFISSIONAIS NÃO SERÃO 'MASSA DE MANOBRA'
O que estão espalhando: vídeos mostrariam greve de caminhoneiros em todo o Brasil após a operação da Polícia Federal que resultou no uso de tornozeleira eletrônica pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Algumas postagens dizem que a greve é contra a "prisão domiciliar" do ex-presidente e outras informam haver paralisações em São Paulo e Minas Gerais.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. De acordo com a Federação Nacional das Associações de Caminhoneiros e Transportadores (Fenacat), não há nenhuma paralisação da categoria neste momento e os representantes das associações não preveem que haverá greve. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) negou que tenham ocorrido paralisações nas rodovias nos últimos dias.
Um dos vídeos que circula nas redes sociais como se registrasse uma mobilização de caminhoneiros mostra, na verdade, um buzinaço contra o governo federal em março de 2016, em São Paulo. O outro, que teria sido gravado durante um bloqueio na BR-040, em Sete Lagoas (MG), na verdade mostra um protesto contra o preço do pedágio, em março deste ano.
Saiba mais: Os mesmos conteúdos circulam em diferentes plataformas, compartilhados por diversos apoiadores de Bolsonaro. Eles se dividem entre afirmar que há uma greve ou incitar caminhoneiros a fazerem bloqueios nas estradas.
As paralisações seriam uma forma de fazer "o Brasil parar" e, assim, pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a encerrar o inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado em 2022 e que tem Bolsonaro entre os réus.
Os posts surgiram no contexto do anúncio do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a produtos brasileiros. O americano acusou o STF de fazer uma "caça às bruxas" contra Bolsonaro. Nas redes sociais, postagens sobre uma greve de caminhoneiros ganharam força após o ex-presidente brasileiro ser alvo de uma operação da Polícia Federal e passar a usar uma tornozeleira eletrônica, no último dia 18 de julho.
Representante da categoria dos caminhoneiros na Câmara, o deputado federal Zé Trovão (PL-SC) gravou um vídeo no último domingo, 20, dizendo que estava sendo cobrado sobre paralisações, mas que iria conversar com representantes dos caminhoneiros e que os apoiaria em qualquer decisão. "Não estamos parados, muito menos conformados", disse.
Em outro vídeo, ele afirmou que os caminhoneiros serão os primeiros prejudicados na "guerra" comercial entre Brasil e Estados Unidos. Segundo o jornal O Tempo, o parlamentar disse na última terça-feira que caminhoneiros participarão de mobilizações marcadas para o dia 3 de agosto, mas sem os caminhões. Ou seja, não haverá bloqueios.
O presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Costa Landim, conhecido como Chorão, publicou um vídeo nas redes sociais negando haver paralisações até o momento no transporte de cargas do Brasil. Ele questionou se as indústrias, o comércio e o agro também iriam paralisar e disse que não permitirá que os caminhoneiros sejam usados como "massa de manobra".
Veja a seguir a checagem de alguns dos vídeos que circulam nas redes sociais.
Protesto em São Paulo não tem caminhoneiros e foi em 2016
Um dos vídeos analisados pelo Verifica mostra dezenas de pessoas vestidas de verde e amarelo sobre um viaduto. Algumas balançam bandeiras do Brasil enquanto os carros que passam pela avenida abaixo do viaduto buzinam.
Apesar de a legenda do vídeo dizer que caminhoneiros e cidadãos estão fechando avenidas em todo o País, nenhum caminhão aparece nas imagens. A avenida onde ocorre um buzinaço não está bloqueada.
O viaduto ocupado é o Viaduto Santa Generosa, próximo à estação Paraíso do metrô de São Paulo. Ao fundo, é possível ver a cúpula da Catedral Metropolitana Ortodoxa Antioquina de São Paulo, na Rua Vergueiro.
O mesmo vídeo circula na internet pelo menos desde 2016. No YouTube, ele foi publicado como sendo de manifestações contra o governo federal em 13 de março de 2016. Naquele dia, estima-se que 3 milhões de pessoas foram às ruas em todo o Brasil, como mostrou o Estadão.
Manifestação em Sete Lagoas foi contra preço de pedágio
O segundo vídeo analisado pelo Verifica mostra diferentes veículos parados em uma praça de pedágio. Os motoristas buzinam em conjunto.
Nas redes sociais, essa gravação passou a circular como se mostrasse o início de uma greve na BR-040, em Sete Lagoas (MG). As postagens afirmam que a via teria sido fechada e que "caminhoneiros pararam tudo em apoio a Bolsonaro". Mas isso é falso.
O vídeo mostra, na verdade, um protesto de motoristas contra o alto valor da tarifa de pedágio cobrado na praça de Capim Branco, entre Sete Lagoas e Belo Horizonte.
A cobrança começou a ser feita no dia 11 de março, mesma data em que o site de notícias local Mega Cidade publicou o vídeo no Instagram. Nas imagens, feitas durante a noite, é possível ver ao menos dois caminhões e uma ambulância, cercados de diversos carros de passeio, em um buzinaço. Por lá, o pedágio custa até R$ 15,50.